O deputado eleito George Anthony Devolder Santos (R-NY), americano filho de brasileiros que está sendo acusado de mentir sobre diversos aspectos de sua vida, agora admitiu que disse algumas inverdades. Porém, apesar do escândalo levantado pelo jornal “The New York Times”, Santos ainda planeja assumir o cargo em 3 de janeiro, e pode não haver nada nem ninguém que o impeça.
As mentiras durante a campanha, realizada ao longo de 2022, foram muitas. Listando por assunto:
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Educação: Santos informou que havia se graduado no Baruch College em 2010, mas agora admitiu que não se formou em nenhuma instituição de ensino superior.
Carreira profissional: Durante a campanha, ele afirmou que passou pelos bancos Citigroup e Goldman Sachs, mas agora admite que isso não é verdade. Santo disse em uma entrevista ao jornal “The New York Post” que seu trabalho como vice-presidente da LinkBridge Investors lhe permitiu trabalhar com essas empresas, mas não diretamente para eles. A confusão, disse ele, deveu-se a uma “má escolha de palavras”.
Registro criminal: O New York Times informou ter encontrado registros judiciais no Brasil mostrando que, quando Santos tinha 19 anos, ele foi processado por estelionato. Segundo o Times, Santos confessou à polícia furtou um talão de cheques de um idoso do qual sua mãe cuidava, e falsificou a assinatura do correntista. Santos nega, e disse ao New York Post: “Eu não sou um criminoso, nem aqui, nem no Brasil nem em qualquer jurisdição do mundo.”
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Propriedades imobiliárias: Santos afirmou que ele e sua família tinham 13 imóveis, mas agora admite que não possui nenhuma propriedade.
Despejo: O Times informou que Santos havia sido despejado, e agora ele admitiu que foi obrigado por um juiz a pagar cerca de US$ 12 mil (R$ 63 mil) a um ex-proprietário em Sunnyside, Queens. Santos disse que não pagou os aluguéis porque tinha de quitar dívidas médicas devido ao tratamento de câncer de sua mãe.
Casamento: The Daily Beast relatou que Santos, o primeiro republicano abertamente gay a ganhar uma cadeira na Câmara, nunca revelou um casamento anterior com uma mulher. Santos disse ao New York Post que é gay, que está confortável com sua orientação sexual e que vive um casamento feliz com um homem.
Antecedentes familiares: O site de sua campanha dizia que seus avós maternos eram “imigrantes belgas judeus que fugiram da devastação da Segunda Guerra Mundial na Europa”, embora relatos do The Forward mostrem que eles nasceram no Brasil. Santos disse à City & State que ouviu várias vezes a história de seus avós serem refugiados do Holocausto, embora nunca tenha afirmado ser judeu. Ele se identifica como católico, mas diz que a ascendência judaica de seus avós maternos o tornou “meio judeu”.
Organização de caridade: Santos afirmou que fundou a instituição de caridade Friends of Pets United de 2013-2018 e afirmou ter resgatado mais de 2,4 mil cães e 280 gatos, embora o Times tenha informado que não conseguiu encontrar nenhum documento da Receita Federal americana sobre a instituição de caridade. Santos agora diz que apenas fez campanha para a caridade e “principalmente” ajudou a encontrar lares adotivos para os animais.
Finanças: Santos emprestou US$ 700 mil (R$ 3,7 milhões) para sua campanha e relatou um salário de mais de US$ 750 mil (R$ 4 milhões) segundo o The New York Times. Em uma entrevista ele afirmou que sua agência de consultoria, a Devolder Organization, começou depois que ele deixou seu emprego na Harbor City Capital. “Eu tinha os relacionamentos e comecei a ganhar muito dinheiro”, disse ele, e não forneceu mais detalhes. A Harbor City Capital é considerada uma pirâmide financeira pela SEC (Securities and Exchange Comission), equivalente americana da Comissão de Valores Mobiliários.
“Floreado”
Apesar de admitir ter mentido sobre várias reivindicações, Santos afirma que apenas “floreou” seu currículo e garantiu a seus eleitores que “isso não me impedirá de ser um membro efetivo do Congresso dos Estados Unidos”. Republicano, eleitor de Donald Trump, Santos teve 142 mil votos no distrito pelo qual se candidatou, algo raro para uma cidade tão claramente democrata quanto Nova York. Sua vitória ajudou a garantir a apertada maioria republicana na Câmara dos Deputados. Porém, sua posse está sendo questionada pelos democratas.
Santos tentou se defender em uma entrevista ontem (27) no canal de direita Tucker Carlson Tonight, da Fox News, apresentado pelo ex-deputado Tulsi Gabbard. Ele admitiu que suas alegações de que trabalhava para o Citigroup e o Goldman Sachs eram “discutíveis”, mas explicou que conectou os bancos a outros parceiros de negócios, que ele descreveu em entrevistas anteriores como “apresentações de capital”
Recusando-se a detalhar sua história de trabalho, Santos disse que “é uma discussão que vai muito além da cabeça do povo americano”. As respostas foram alvo de ironia de Gabbard. “Você não tem vergonha?”, perguntou várias vezes o apresentador.
Santos repetiu sua explicação sobre sua suposta herança judaica, dizendo a Gabbard que ele foi criado como católico, mas “sempre se identificou como judeu … Sempre brinquei com amigos e círculos, mesmo dentro da campanha, eu dizia: ‘pessoal, eu sou judeu”. O novo legislador também atacou os democratas em Washington e o presidente Joe Biden, alegando que Biden “mentiu para o povo americano por 40 anos”.
Até agora, vários democratas pediram a Santos que renunciasse à cadeira na Câmara que conquistou em novembro, depois de enganar seus eleitores sobre seu passado, relata o The Washington Post. O deputado Ted Lieu (D-Califórnia) disse que “o congressista republicano eleito George Santos, que agora admitiu suas mentiras colossais, deveria renunciar” e pediu ao líder republicano Kevin McCarthy para solicitar a expulsão de Santos da Câmara. McCarthy não respondeu. Outros críticos notáveis incluem a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o novo líder da minoria na Câmara, Hakeem Jeffries (D-NY).