O Relatório Focus desta semana, pesquisa do BC (Banco Central) que serve como um termômetro da macroeconomia, divulgou uma mudança nas projeções do mercado para este ano. As estimativas mais recentes incluem uma leve alta na inflação prevista, que avançou para 5,39% ante os 5,36% da edição anterior. Além disso, a publicação mostrou uma alta na projeção para a Selic, taxa de juros referencial da economia. Agora, a estimativa para dezembro é de 12,5% no fim do ano, ante 12,25% da semana passada e 11,75% quatro semanas atrás.
A divulgação do relatório deixou o mercado em alerta, tendo em vista que a alta de juros costuma representar um mau presságio para a renda variável. Segundo Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos, essa piora nas expectativas não surpreende. “A mudança de governo vai alterar as políticas econômica e fiscal”, diz ele. Isso permite prever juros altos até pelo menos o fim do primeiro semestre. metade do ano. “Os juros do Brasil são os maiores do mundo, e isso atrai mais investidores para a renda fixa”, diz ele. “Porém, a bolsa está barata e as ações devem se valorizar quando os juros começarem a cair, ainda mais se esse movimento for acompanhado por uma alta nas commodities.”
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Este ano tende a beneficiar o investidor conservador, que tenha em sua carteira títulos públicos ou que invista em setores cujos resultados são influenciados pela Selic, como bancos e seguradoras, além de fundos imobiliários atrelados ao CDI. Segundo os especialistas, dentre as melhores oportunidades para a renda fixa está o Tesouro IPCA, título indexado à inflação.
Porém, é necessário ficar atento aos setores que dependem do financiamento de crédito, e portanto, seriam desfavorecidos pelo aumento da taxa de juros. “A construção civil, por exemplo, que depende bastante de financiamentos bancários, é afetada pela alta dos juros. Em seguida vêm as empresas mais endividadas e as varejistas, que dependem da capacidade de a população brasileira consumir”, diz Diogo Catão, especialista em investimento e CEO da Dome Ventures.
No entanto, na avaliação de Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP, isso não quer dizer que seja necessário fugir das ações. “Não há nenhuma garantia de a bolsa não possa estar apresentando um desempenho melhor que o da renda fixa apesar dos juros altos”, diz ele. “O impacto geral é negativo, mas algumas ações podem se beneficiar, como as dos bancos e as das empresas consolidadas, que dependem menos dos ciclos econômicos e podem atravessar um período de juros altos sem grandes impactos.”
Sgavioli ressalta a importância da diversificação para a proteção do patrimônio. “Mesmo com os juros altos não dá pra saber qual será o investimento campeão de rentabilidade do ano. Por isso, é necessário ter uma estratégia diversificada, e fazer ajustes táticos de acordo com as mudanças na conjuntura”, diz ele.