Confirmando as expectativas, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic inalterada em 13,75% ao ano. A manutenção foi aprovada por unanimidade. No entanto, apesar da decisão esperada, o Comunicado divulgado após a reunião mostra que, na avaliação do Copom, o cenário está mais adverso.
A projeção de inflação do Copom para 2023 subiu para 5,4%, ante os 5,0% da reunião anterior, realizada em dezembro de 2022. A inflação prevista para 2024 avançou para 3,4%, ante os 3,0% da reunião anterior.
No caso dos preços administrados, que incluem tarifas de serviços públicos, a projeção de inflação para 2023 subiu de 9,1% para 10,6%. A projeção para 2024 avançou de 4,2% para 5,0%. A projeção de inflação acumulada em 12 meses no período móvel de seis trimestres à frente avançou de 3,3% para 3,6%.
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No Comunicado, o Copom informou que “a conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária.” O Comitê acrescentou que “julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”.
O tom também endureceu com relação ao futuro. No Comunicado da reunião anterior, a avaliação era se a manutenção dos juros “por período suficientemente prolongado” será capaz de assegurar a convergência da inflação para o centro da meta. No Comunicado de hoje, essa frase foi substituída pelo texto “por período mais prolongado do que no cenário de referência”.
Avaliação do mercado
Segundo Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas, a evolução macro foi compensada por um aumento dos riscos da política fiscal, e mais recentemente pela discussão da meta de inflação. E houve a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da transição, que elevou os gastos neste ano em R$ 170 bilhões, o que aumentou a incerteza sobre a trajetória da dívida. Apesar de o governo ter proposto medidas para reduzir o déficit, elas são incertas e não há detalhes sobre o novo arcabouço fiscal.
Tudo isso levou a uma deterioração das expectativas para os próximos anos, o que indica uma falta de credibilidade da meta atual. Com esse balanço de deterioração das expectativas, o Copom deveria mesmo ter mantido o discurso duro no Comunicado.
Já Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, avalia que o Comunicado mostra que o balanço de riscos tem uma incerteza elevada. “Há até uma expectativa de o Banco Central poder subir os juros, ainda que esse não seja o cenário central”, diz ele. O Comunicado cita as metas do Conselho Monetário Nacional e fala bastante da importância de voltar a ancorar as expectativas, avalia Tingas.
O que esperar? Segundo Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, a indicação do Copom de manuteção de juros elevados por mais tempo, aliada à perspectiva de uma política monetária americana mais moderada, com o fim do ciclo de alta dos juros pelo Fed (Federal Reserve), o banco central americano, poderá provocar uma apreciação do real em relação ao dólar. “Isso indica uma taxa de câmbio mais positiva no curto prazo, o que já foi antecipado em parte pelo mercado”, diz ela.