No ano passado, os salários mensais reais globais caíram 0,9% em média, marcando a primeira queda nos rendimentos reais no século XXI, segundo dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Para mulheres, esse número representa uma perda mais significativa. Isso porque, as mulheres ganham entre 10% e 30% menos do que os homens, também segundo a OIT.
As disparidades ficam mais claras entre mulheres que fazem parte de grupos minoritários. Dados do quarto trimestre de 2022 da secretaria de estatísticas trabalhistas dos Estados Unidos mostraram que minorias femininas tendem a ganhar ainda menos do que as mulheres brancas.
Os ganhos semanais médios de mulheres negras eram de US$ 856 (R$ 4,43 mil) no período, enquanto os ganhos semanais médios para mulheres hispânicas ou latinas eram de US$ 774 (R$ 4 mil), em comparação com os US$ 991 (R$ 5,13 mil) para mulheres brancas e US$ 1.194 (R$ 6,18 mil) para homens brancos.
Segundo o BofA (Bank of America), em um cenário de inflação como o verificado no mundo atualmente, a situação fica pior para o sexo feminino. O principal motivo é fato de os salários não acompanharem a inflação e o aumento dos preços de produtos e serviços, em geral.
Viés de gênero na inflação
Acompanhe em primeira mão o conteúdo do Forbes Money no Telegram
Mulheres cuidadoras
Segundo a Oxfam, globalmente, 42% das mulheres não conseguem emprego porque são responsáveis por todos os cuidados da família, em comparação com apenas 6% dos homens. O site care.com levantou em pesquisa online do ano passado que pelo menos um quinto dos responsáveis parentais (21%) estão optando por deixar seus empregos para se tornarem cuidadores em tempo integral e a dificuldade financeira é um dos motivos.
“Responsabilidades familiares impedem que mulheres entrem, permaneçam e cresçam na força de trabalho. Isso é mais a norma do que a exceção. Mesmo antes da pandemia, as mulheres realizavam 76% do total de horas de trabalho doméstico não remunerado globalmente, três vezes mais que os homens”, diz o relatório do BofA.
A crise dos cuidados infantis custa à economia dos EUA por ano US$ 122 bilhões (R$ 632,05 bilhões). Esse valor representa os ganhos perdidos com produtividade e receita.
A diferença de paridade de gênero entre homens e mulheres na taxa de participação na força de trabalho atualmente é de 62,9%, conforme a OIT, a pontuação mais baixa registrada desde que o índice foi compilado pela primeira vez em 2006.
Consumo mais caro
O consumo masculino e feminino, de modo geral, são semelhantes. Entretanto, os produtos voltados para as mulheres costumam ser mais caros – principalmente os bens não duráveis. Uma análise do BofA registrou que o custo médio de uma camiseta formal feminina aumentou em 28% o preço entre junho de 2020 e junho de 2021.
Por outro lado, uma camiseta formal masculina registrou variação de preço negativa no mesmo período: cerca de –5%. Os sapatos formais femininos tiveram um aumento de preço de 75% no período contra os sapatos dos homens, que aumentaram 14%.
O banco norte-americano escreve em relatório que as mulheres norte-americanas estão lutando contra essa disparidade de gênero, “mas a proposta de legislação federal para corrigir os preconceitos nos preços (Pink Tax Repeal Act) continua pendente no Congresso”.
Dificuldades na educação
Cada ano adicional de escolaridade pode aumentar os ganhos de uma menina como adulta em até 20%, conforme a ONU Mulheres. “A pobreza é um dos fatores mais importantes para determinar se uma menina pode acessar e concluir sua educação, e isso pode piorar com a alta da inflação que reduz a renda real e a poupança”, diz o relatório do BofA.
Entre as meninas mais pobres, de áreas rurais, 11,5% concluem o ensino médio contra 72,2% das meninas que vivem em ambientes urbanos e em domicílios mais ricos, conforme a ONU Mulheres.
Nos Estados Unidos, a lista de dívida estudantil mostra uma maior vulnerabilidade desse público na graduação também: 41% das universitárias assumem dívidas estudantis para arcar com os estudos, contra 35% dos universitários masculinos.
Entretanto, as mulheres com diploma que trabalham em período integral ganham 26% menos do que seus pares do sexo masculino, em média, dificultando os pagamentos de empréstimos. “Como resultado, as mulheres demoram em média dois anos a mais para pagar suas dívidas estudantis. Isso pode atrasar ou impedir que elas se tornem financeiramente independentes”, afirma o BofA.
Soluções para as mulheres
Mas nem tudo é negativo e a mudança caminha – mesmo que a passos lentos. Em 2023, as mulheres estão ganhando, em média, 2% a mais do que no ano passado. Além disso, a parcela de mulheres em cargos seniores, gerenciais e legislativos aumentou 5,4 pontos percentuais, enquanto nos cargos técnicos o avanço foi de 6,7 pontos em um ano, conforme o FEM (Fórum Econômico Mundial).
A América Latina tem um desafio a parte, pois está abaixo (41%) dos padrões globais (45%) de participação feminina no mercado de trabalho. A parcela de mulheres em cargos de liderança aumentou globalmente (de 16% para 23%), enquanto a lacuna da América Latina em relação ao resto do mundo permanece em 15%.
No Brasil, o governo federal criou um programa em setembro de 2022 chamado “Emprega + mulheres” (Lei 14.457/22). Ele visa a inserção e manutenção da mulher no mercado de trabalho por meio do apoio à paternidade, capacitação em áreas estratégicas e retorno ao trabalho após a licença maternidade.
A lei também lançou o selo “Emprega + mulheres”, que reconhece as empresas que atendem às boas práticas em relação à igualdade de gênero.
“Investir na Diversidade, Equidade e Inclusão também pode ajudar a promover a diversidade de pensamento e inovação, cada vez mais importante à medida que a desaceleração do crescimento aumenta entre as empresas, que querem evitar riscos e melhorar a competitividade”, diz o relatório do BofA.