04 de agosto de 2015 foi o pior dia da vida de Tatiana Pimenta, fundadora da Vittude. Poucas horas antes receber a notícia de que seu pai estava com câncer, ela foi demitida da multinacional que trabalhava como gerente de vendas devido à Lava Jato. Hoje, oito anos depois do fatídico dia, ela já captou R$ 40 milhões com a empresa de saúde mental e está entre as quatro mulheres que mais levantaram dinheiro no país em rodadas de investimentos.
Hoje tudo parece simples, mas não foi. Na época, ela precisou tirar um ano sabático forçado, tanto para pensar em quais seriam seus próximos passos quanto para auxiliar no tratamento de seu pai. Durante o período de tratamento, ela percebeu que muitas situações que tiravam seu pai do meio do pantanal, na cidade de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, para consultas, poderiam ser resolvidas por telemedicina.
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“A junção do tempo livre com a curiosidade me levou a estudar sobre telemedicina. Entrei em contato com diversas pessoas do ramo, participei de eventos e percebi que queria criar alguma coisa voltada para os setor, só não fazia a menor ideia do que”, explica Pimenta.
Em uma das conversas com especialistas do mercado e médicos, ela recebeu uma dica para pensar de forma mais focada em psicologia e não em medicina como um todo. “Acho que aquele foi o dia um da Vittude, quando a minha cabeça abriu para a possibilidade de pensar nessa área”, diz Pimenta. “Eu fazia terapia há quatro anos e gastava em torno de duas horas para conseguir ir até o consultório e nunca pensei em como seria fazer aquele processo online.”
No momento, ela conta que se conectou com a sua experiência de paciente, na qual teve dificuldade de achar um profissional qualificado pelo caderno do convênio. Lá ela não encontrava o currículo do médico, sua formação e nem avaliações sobre o serviço, coisas que faziam falta para escolher a pessoa certa.
Desafios no caminho
Assim nasceu a Vittude. Mas o desafio só estava no começo. Pimenta não entendia de tecnologia, não sabia nada de psicologia e tinha pouca noção sobre o que era empreender na realidade. A questão financeira também foi bastante difícil para ela. “Ver o dinheiro acabando era desesperador”, lembra a empreendedora.
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“Quando eu decidi ficar sem trabalhar, eu tinha dinheiro guardado para me segurar por um ano e meio, no máximo dois. Mas eu fiquei três anos sem ter salário”, diz Pimenta. “No pior momento eu precisei alugar o meu quarto em um apartamento dividido com mais duas amigas e ir morar de favor na casa de outros amigos, para conseguir me manter.”
Já em uma fase mais desenvolvida, a procura por investimento também trouxe muita angústia para a fundadora. Ela foi em diversos fundos, conversou com muitas pessoas, até grupo de mulheres investidoras e recebeu uma grande quantidade de nãos. Foi quando ela pensou em desistir.
“Eu já estava com todas as contas no vermelho e parecia que eu era a única maluca que acreditava que aquele negócio poderia parar de pé, então pensei em desistir”, afirma Pimenta.
Mas, como ela diz, quando as coisas tem que acontecer, elas acontecem. Por uma série de acasos, ela recebeu uma proposta de investimento de uma editora de psicologia, a Vetor. O primeiro investimento foi de R$ 450 mil, muito acima do que a Vittude estava pedindo nos outros pitches.
Essa foi a força que ela e o sócio precisavam para começar a acreditar ainda mais no negócio. Em pouco tempo, eles receberam mais R$ 150 mil de uma empresa que já era parceira no desenvolvimento de software.
Nova era da Vittude
Em 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que burnout seria considerada uma doença de trabalho em 2022, o que trouxe uma nova possibilidade de mercado para a empresa.
Na época, a Vittude era cliente da RD Station, que estava pensando em desenvolver um área de saúde para seus colaboradores. “Nós desenvolvemos um piloto para 20 funcionários da companhia, que adoraram o serviço e conseguimos ampliar para o restante da companhia”, diz Pimenta. “Com esse contrato na mão, nós voltamos a captar novos investimentos.”
Em alguns meses, em 2019, a empresa captou novos R$ 4,5 milhões, com a tese de focar em B2B. Assim, no início de 2020, a Vittude tinha quatro clientes e, com a pandemia, passou a ter 200.
Nesse período, grandes nomes como O Boticário passaram a fazer parte do portfólio, agregando 24 mil vidas ao cuidado da Vittude, que antes tinha apenas 3 mil vidas sob gestão.
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Em 2021, a empresa já pensava em uma nova rodada de investimentos pelo tamanho que a empresa ganhou e conseguiu levantar mais R$ 35 milhões na Série A, totalizando os R$ 40 milhões que receberam até hoje.
Além da empreendedora, apenas outras três mulheres conseguiram investimentos grandes, sendo elas Mônica Hauck, fundadora e CEO da Sólides, Mariana Dias, CEO e cofundadora da Gupy e Manoela Mitchell, co-fundadora e CEO da Pipo Saúde.
Pensando nesse cenário, Pimenta hoje também investe em empresas com fundadores mulheres, por ter sentido falta de apoio durante a sua jornada.
“O que eu mais sinto falta até hoje é não poder contar com as mulheres na jornada, mas espero que as novas gerações tenham o apoio que eu não tive e vou batalhar para atingir isso”, diz a empresária.