O Silicon Valley Bank, com sede na Califórnia, foi fechado na manhã de sexta-feira (10) pelo regulador financeiro do estado, anunciou o FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), agência do governo americano que garante os segurados. O SVB foi o maior banco a falir desde a crise financeira de 2008 e a segunda maior quebra bancária da história americana.
O fechamento encerrou alguns dias tumultuados para o SVB – um credor para startups de tecnologia – depois que anunciou na quarta-feira que havia vendido US$ 21 bilhões (R$ 110,7 bilhões) em títulos com prejuízo de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,5 bilhões) e buscaria levantar US$ 2,25 bilhões (R$ 11,9 bilhões) em capital.
Buscando caixa
O banco informou que tentava vender US$ 1,25 bilhão (R$ 6,6 bilhões) em ações ordinárias e US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões) em ações preferenciais conversíveis. Também anunciou um acordo com a General Atlantic para vender um valor semelhante em ações ordinárias, condicionadas ao fechamento da outra oferta.
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Não deu tempo. Os negócios com as ações da controladora SVB Financial foram interrompidos na manhã de sexta-feira, depois de cair 64% nas negociações de pré-mercado, após uma queda de 60% na quinta-feira. Em meio a preocupações com a estabilidade do banco, alguns fundos de capital de risco, incluindo o Founders Fund de Peter Thiel, aconselharam as empresas em que investem a sacar dinheiro do SVB.
O CEO Greg Becker disse aos clientes do banco para “manter a calma” e que o banco tinha “ampla liquidez” durante uma teleconferência na quinta-feira. A SVB Financial estava em negociações para vender deu controle depois que as tentativas de levantar capital falharam, mas os planos não deram certo. O FDIC criou o Banco Nacional de Santa Clara para proteger os depositantes, que terão acesso aos seus depósitos garantidos até segunda-feira, 13 de março, anunciou o FDIC na sexta-feira.
Outros bancos atingidos
Outros bancos foram atingidos em meio à falência do SVB, à medida que investidores e analistas avaliam outros problemas semelhantes aos enfrentados pelo SVB, incluindo o First Republic Bank, cujas ações caíram até 52% durante o início do pregão e, desde então, despencaram ainda mais.
Apenas dois dias após a falência do SVB, o Signature Bank, com sede em Nova York, foi fechado pelos reguladores, tornando-se a terceira maior falência bancária da história dos Estados Unidos (logo atrás do SVB).
Como o SVB, o Signature Bank tentou encontrar um comprador ou levantar fundos, mas não teve sucesso. No domingo, o Departamento do Tesouro anunciou proteções para depositantes no SVB e no Signature Bank, garantindo aos depositantes que terão acesso aos seus fundos na segunda-feira; no entanto, os acionistas e detentores de dívidas sem garantia não são cobertos pelo plano.
A falência do SVB na sexta-feira e do banco de criptomoedas Silvergate na quarta-feira provocou temores de contágio e gerou comparações desconfortáveis com a Grande Recessão. Alguns analistas concordam que essas preocupações são exageradas, diz Ebrahim Poonawala, analista do Bank of America. Segundo ele, SVB e Silvergate operavam principalmente em setores vulneráveis a taxas de juros mais altas (criptomoedas, startups e capital de risco). Os demais muitos bancos têm bases de clientes mais amplas e diversificadas, o que os torna mais resilientes.
O Fed (Federal Reserve) anunciou um programa de empréstimos de emergência para garantir que os bancos possam atender às necessidades de seus depositantes e eliminar “a necessidade de uma instituição de vender rapidamente esses títulos em tempos de estresse”.
Em um discurso na segunda-feira, o presidente americano Joseph Biden insistiu que o governo não está buscando um resgate financiado com dinheiro público, afirmando que “nenhuma perda será paga pelos contribuintes” e distinguindo as ações de seu governo do resgate da crise financeira de 2008. “Os americanos podem ter certeza de que nosso sistema bancário é seguro. Seus depósitos estão seguros. Deixe-me também assegurar-lhe que não vamos parar por aí. Faremos o que for necessário”, disse ele.
Pano de fundo
O SVB relatou US$ 212 bilhões (R$ 1,12 trilhão) em ativos no quarto trimestre de 2022, tornando-se a segunda maior falência de banco na história dos Estados Unidos, perdendo apenas para o Washington Mutual, cuja falência em 2008 ocorreu quando o banco tinha cerca de US$ 300 bilhões (R$ 1,58 trilhão) em ativos. O Silicon Valley Bank foi classificado como o 16º maior banco dos Estados Unidos com base em ativos antes de seu colapso.
Depois que a indústria de tecnologia cresceu durante a pandemia, os clientes do SVB depositaram bilhões, elevando os ativos do banco de US$ 60 bilhões (R$ 316 bilhões) no fim do primeiro trimestre de 2020 para quase US$ 200 bilhões (R$ 1,05 trilhão) dois anos depois. Enquanto os depósitos chegavam, o SVB investia em títulos do Tesouro dos EUA e títulos hipotecários. Porém, quando o Fed começou a elevar os juros para combater a inflação, o valor dos títulos do SVB caiu.
As taxas mais altas também afetaram os clientes do SVB. O financiamento de startups começou a secar à medida que a captação de recursos privados se tornou mais cara, fazendo com que seus clientes resgatassem cada vez mais investimentos. Em meio ao aumento dos saques, o SVB vendeu ativos (incluindo os títulos que haviam perdido valor), o que gerou perdas de US$ 1,8 bilhão (R$ 9,5 trilhões).