Quando ingressou na faculdade de Turismo em 2003, aos 19 anos, Ana Virgínia Falcão tinha pressa em ingressar no mercado de trabalho. Ainda no primeiro semestre ela tentou uma vaga de estágio na agência Top Mundo Turismo, em João Pessoa (PB). A primeira resposta foi não. Mas ela insistiu, e foi contratada três anos depois. A persistência valeu a pena. Atualmente, Falcão é CEO da agência que mudou de nome para Clube Turismo, e coordena 564 franqueadas em uma rede que fatura mais de R$ 100 milhões.
Após o não inicial, Falcão trabalhou em diversas outras vagas: uma agência concorrente, um hotel, no setor público. Até que, em 2006, um dos sócios da Top Mundo, Uirá Lima, fez uma proposta para a estudante de turismo trabalhar em sua agência. Falcão ingressou como estagiária e um ano depois foi efetivada no posto de agente de viagens.
“A empresa tinha uma estrutura enxuta, centralizada nos sócios, que eram pai e filho. Qualquer pessoa diria que era um emprego sem oportunidade de crescimento, mas eu gostava da área e do que eu fazia, então entendi que precisava criar a oportunidade que eu queria”, diz Falcão.
“Nem a graduação, nem os cursos de especialização em gestão de pessoas e negócios me preparam para o que viria. Aprendi muito na prática e com as dificuldades que surgiam. Na época não tinham muitas opções de franquias de turismo para me espelhar”, diz a executiva.
O cargo de CEO não surgiu de uma promoção oficial. Falcão conta que, conforme assumia mais papéis de liderança e controle da expansão das franquias, foi um processo natural. O próprio franqueamento ocorreu quando uma cliente questionou se a agência vendia franquias. A futura CEO respondeu que não. A cliente disse, então, que estava interessada em investir.
Aos 24 anos, em 2008, Falcão e o sócio Uirá Lima se dedicaram a formatar o que seria o modelo de negócios. “Eu não sabia nada do assunto, mas entendi que era minha oportunidade de crescer. Comprei um livro sobre franquias e estudei tudo que podia”, diz.
Quando estava tudo pronto, a primeira a investir foi a cliente de Falcão, que a essa altura já era gerente da agência, rebatizada Clube de Turismo. Atualmente, ela está entre as dez maiores microfranquias do país, segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising).
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Modelo inovador
A Clube Turismo atua com três modelos de franquias: home office (para agentes pessoa física), home office prime (agentes pessoa jurídica), lojas (abertura de espaço por pessoa jurídica). Falcão lembra que, em 2009, quando instituíram o modelo de franquias, o futuro das agências de viagens era questionado devido ao crescimento dos sites.
“Fomos pioneiros na modalidade home office, pensando em franqueados que pudessem ingressar com pouco capital inicial”, diz a CEO. “Fazia muito sentido para o setor, com profissionais que atuam com muitas viagens e precisam de horários flexíveis”. Falcão atendia aos candidatos a franqueadores, fazia a seleção e o treinamento, além da sua atividade de agente de viagens.
Em 2012, três anos depois do início da rede, a Clube de Turismo já tinha lojas centrais do Amazonas, Tocantins e Piauí. Eram 70 lojas no total e mais de 200 profissionais associados à marca. Dez anos depois, ao fim de 2022, a empresa está presente em todo o país, com 564 franqueados.
O faturamento de 2022 foi de R$ 134 milhões, aumento de 69,6% em relação aos R$ 79 milhões de 2021 – ano em que a atividade turística voltou a passos lentos devido ao isolamento social provocado pela pandemia de coronavírus.
A CEO não conta se teve baixas no período, mas a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) levantou que o total de agências de viagens que deixaram de existir no Brasil em 2020 foram 1.390.
Expansão
Segundo a Fecomércio, o faturamento do setor de turismo deve crescer 53,6% em 2023, quando comparado com 2022. A projeção de crescimento do Clube Turismo é mais modesta, de 16,4%, para R$ 156 milhões neste ano.
O objetivo de Falcão para os próximos anos é ousado: ser a maior franquia de turismo do país. Para isso, sua rede precisa de mais de mil franqueados. A meta deste ano é aumentar dos 564 para 700 com a inclusão de 136 franquias.
Para isso, a executiva conta com o impulso observado desde a retomada das atividades. Segundo ela, os preços estão mais altos, mas o setor segue aquecido. “O impulso continua alto. Acredito que as pessoas passaram a valorizar mais momentos e atender seus desejos, as viagens abarcam tudo isso”.