Na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) encerrada na quarta-feira (21), a taxa Selic foi mantida em 13,75%. Foi a quarta reunião consecutiva sem corte da taxa, o que de certa forma já era amplamente esperado pelos analistas de mercado.
Contudo, havia também a expectativa de que o parecer do Banco Central nesta reunião trouxesse otimismo à bolsa, já com a perspectiva de corte da Selic a partir de agosto, mas isso não aconteceu.
Neste momento, imagino que todo investidor que vinha acompanhando as recentes subidas da bolsa de valores fique um pouco hesitante, desejando entender se essa alta prosseguirá ou se é melhor você focar em aportes na Renda Fixa.
Como sempre digo, não há uma receita padrão, pois perfil e objetivos de cada investidor variam, mas vou tentar mostrar aqui o cenário para quem está em dúvida se a renda fixa neste momento é ou não um caminho a considerar.
O que avaliar no cenário atual?
É importante você lembrar que temos a taxa de juros diária e a expectativa da taxa de juros, que é o DI Futuro, que expressa as perspectivas do mercado a partir das sinalizações do Banco Central quanto à política monetária.
Nesta quarta, 21, as projeções do DI Futuro no fechamento do dia apontavam que a leitura do mercado quanto à taxa Selic eram de manutenção dos 13,75% agora com o primeiro corte de 0,25 pp em agosto e cortes sucessivos de 0,50 pp nas reuniões subsequentes do Copom, fechando 2023 com a Selic em 12,00%. Ainda nessa perspectiva, 2024 encerraria com a taxa de juros em 9,00%.
Mas é claro que isso pode mudar, pois outras variáveis são levadas em consideração. O comunicado do Copom trouxe alguns outros aspectos que serão observados atentamente pelo mercado nos próximos dias, e você deve acompanhar essas informações, pois elas impactam diretamente suas escolhas de investimento.
Veja como fica o retorno dos investimentos com Selic a 13,75% para aplicação de R$ 10 mil, segundo a análise da XP:
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Marcio Binow da Silva/Getty Images Poupança: R$ 10.000
Três meses: R$ 10.205,66
1 ano: R$ 10.848,38
2 anos: R$ 11.768,74
3 anos: R$ 12.767,19 -
Edson Souza / GettyImages Tesouro Selic 2026: R$ 10.000
Três meses: R$ 10.250,26
1 ano: R$ 11.118,87
2 anos: R$ 12.461,76
3 anos: R$ 13.886,99*Considerando a Selic fixa durante todo o período em 13,75% e a rentabilidade Tesouro Selic: 100% Selic + 0,0929%
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Getty Images/Oscar Wong CDB (100% CDI): R$ 10.000
Três meses: R$ 10,276,01
1 ano: R$ 11.234,29
2 anos: R$ 12.727,41
3 anos: R$ 14.328,54 -
Tarik Kizilkaya/Getty Images LCI e LCA (90% CDI): R$ 10.000
Três meses: R$ 10.293,91
1 ano: R$ 11.223,34
2 anos: R$ 12.590,54
3 anos: R$ 14.059,50
Poupança: R$ 10.000
Três meses: R$ 10.205,66
1 ano: R$ 10.848,38
2 anos: R$ 11.768,74
3 anos: R$ 12.767,19
O que o Copom apontou como expectativas
O comunicado do Copom nada mais é do que a manifestação do Banco Central quanto às tendências da política monetária em face das principais preocupações que estão no radar da equipe econômica do governo.
Na reunião desta semana, ficou claro que os problemas ligados aos bancos norte-americanos já estão atenuados e já não são alvo de preocupação para o governo, em termos de impacto na economia global.
Quanto ao mercado interno, o arcabouço fiscal continua no radar do BC e ainda traz incertezas, pois segue em análise pelos congressistas e pode ser um ponto relevante para definir manutenção ou queda da taxa de juros.
Houve também a avaliação de que o PIB positivo do primeiro trimestre decorreu dos fortes resultados do agronegócio, mas que não tendem a se repetir com tanta força daqui por diante. O Copom não menciona risco de recessão, mas pontua possível desaceleração da economia.
As commodities tiveram queda entre janeiro e junho de 23. Soja, petróleo e milho, por exemplo, caíram bastante no primeiro semestre. Na avaliação do Banco Central, aquilo que os economistas chamam de inflação de importação tende a diminuir em relação às commodities.
A título de exemplo e com valores fictícios, suponha que o Brasil comprou soja em março por USD 100 a saca, em abril conseguiu comprar por USD 80 e, desde então, o preço não teve novas quedas. A compra de soja mais barata ajudou a segurar a inflação, mas sem novas quedas, esse cenário não tende a se repetir, o que é um ponto de atenção relevante para o mercado futuro.
Dessa forma, o que vemos objetivamente nesse momento é que o Copom descarta a possibilidade de nova alta da taxa de juros, mas não descarta a manutenção da atual taxa , se isso persistir como eficiente para controle da inflação.
Em suas recentes declarações, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem reafirmando que a inflação de junho será negativa mas, ao que tudo indica, isso não altera a expectativa do Copom. Me parece que seria necessário uma deflação para justificar o corte da Selic na reunião de agosto.
O mercado vem favorável, com o Ibovespa subindo há alguns meses. Inclusive, nesta quarta, ele chegou a 120 mil pontos, pois havia expectativa de corte de juros em agosto. Com a mudança de expectativas, pode ser que ocorra uma correção na bolsa nos próximos dias, conforme a leitura de cenário que os analistas de mercado venham a ter.
Entenda os índices para investir melhor
Quando o BC projeta o risco de inflação, ele avalia inflação recente, expectativa futura e hiato do produto, que é a capacidade produtiva ociosa da economia.
Nessa perspectiva, temos que avaliar o seguinte: o IPCA dos últimos 12 meses está em queda, tendo inclusive, quatro deflações dentro de um mesmo período: julho, agosto e setembro de 2022 e junho de 2023.
Então, o dado frio pode apontar uma inflação média, por exemplo de 3,20% , ou seja, dentro da meta de 3.75 %, e, nas disputas políticas por narrativas, muitos podem dizer que temos a maior taxa de juros do mundo, que ela não se justifica, etc.
Ocorre, entretanto, que essa inflação acumulada, dentro da meta, não é a inflação real. Os acordos do governo anterior com o Congresso para redução de PIS, Cofins e ICMS, e, posteriormente, a decisão da Petrobrás para redução do preço do combustível foram fatos atípicos que influenciaram esses índices.
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Com o avanço dos meses, com esses índices negativos de IPCA saindo do gráfico acumulado do período, a média da inflação deve ficar acima de 5%, ou seja, fora da meta. Daí a importância de você aprender a interpretar os dados para tomar suas decisões financeiras.
O acumulado anual até junho, a ser divulgado em julho de 2023, incluindo os meses de deflação, puxará a média para baixo, mas, quando chegar em agosto e sair o resultado da inflação até julho, eliminando um dos índices negativos (jul 22) e acrescentando um positivo (jun 23) o acumulado do IPCA sobe.
Nessa hora, veremos as mensagens alarmistas do tipo “Inflação acumulada dos últimos 12 meses, sobre mais de 1% entre junho e julho de 2023!. Cuidado com decisões financeiras baseadas em recortes de informação. Uma frase muito famosa no mercado diz “Torture os dados até que eles confessem o que você deseja comprovar” e, no jogo político, isso é uma prática bem comum.
Existe uma outra frase menos famosa, do escritor de A Guerra dos Mundos, Herbert George Wells: “No futuro, o pensamento estatístico será tão necessário para a cidadania eficiente quanto saber ler e escrever”. Guardadas as proporções, isso se aplica muito à sua jornada investidora. Se você tiver conhecimento para interpretar as informações, nunca ficará à mercê de narrativas cujos interesses nem sempre serão os mesmos que os seus.
A taxa Selic começa a cair em agosto?
Apesar de pouco provável, claro que existe a possibilidade de queda da Selic em agosto, contudo, para isso ocorrer, precisamos de uma combinação positiva de inflação cheia com inflação de serviços – esta ainda ascendente, ainda que sob controle – e projeção de inflação futura.
Na próxima semana ocorre a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Como bem definiu meu amigo e um dos professores do meu MBA, Alexandre Cabral, o CMN é como se fosse o STF do mercado financeiro, e esta é a reunião oficial que definirá a meta de inflação futura.
Pelo atual discurso do ministro da economia, Fernando Haddad, tudo indica que ele não pretende votar a favor da mudança da meta para patamar mais elevado, pois mudar meta é mudar expectativas e isso gera incertezas com as quais o mercado não lida muito bem.
Você, que me acompanha por aqui, certamente já me ouviu dizer milhares de vezes: para o mercado financeiro, até mesmo uma certeza ruim é mais fácil de administrar, em termos de investimentos, do que a imprevisibilidade.
Incerteza provoca fuga de capitais, apreciação do dólar, inflação e alta de juros. Então, nosso radar para a próxima semana é a publicação da ata do Copom na terça-feira e a reunião do CMN na quinta. Essas informações são preponderantes para tomadas de decisão
Com a manutenção da Selic, a renda fixa continua interessante?
As taxas dos títulos de renda fixa vêm desidratando há algum tempo, devido à expectativa de queda da Selic. Entretanto, havendo mudança de expectativas do mercado, é muito importante ficar de olho nas taxas dos prefixados nos próximos dias, pois, enquanto perdurar a incerteza, é provável que tenhamos títulos com pequenas altas e que podem ser aproveitados.
Isso deve durar pouco, pois é só uma questão de o mercado voltar a ter sinalizações mais concretas quanto ao momento em que a Taxa Selic vá começar a cair, e hoje sabemos que a questão não é se vai cair, mas quando, pois a queda é fato inconteste.
Temos, portanto, uma pequena janela de oportunidade para os títulos de renda fixa prefixados de curto e médio prazo, enquanto os títulos IPCA + já não oferecem tantas vantagens, a menos que você pretenda investir em títulos de longuíssimo prazo.
Tivemos, até recentemente, IPCA+ 6% ou acima disso, o que foi excelente, mas daqui pra frente isso já fica mais difícil de acontecer, portanto, se você encontrar alguma NTN B longa acima de 6% e ela couber na sua estratégia, é oportunidade para aproveitar, tanto para levar até o vencimento, quanto para ganhar dinheiro na marcação a mercado quando a Selic começar a cair.
Na minha avaliação, os prefixados estão interessantes para títulos com vencimento de até 3 anos, desde que ofereçam taxas acima de 13%. Aqui, a dica é acompanhar o mercado secundário, às 10h da manhã, a divulgação que as grandes corretoras fazem de títulos que estão sendo vendidos por investidores que precisam resgatar investimentos antes do vencimento. Normalmente, as melhores taxas estão no secundário diariamente e acabam em poucos minutos.
Vou reforçar aqui algo que já virou quase meu mantra: para aproveitar oportunidades de investimento fazendo escolhas que atendam suas metas, você precisa estudar e aprender a interpretar os dados. Portanto, estude e acompanhe o noticiário econômico, pois as próximas semanas serão muito didáticas para quem está aprendendo a correlacionar política e economia para fazer melhores escolhas.
Eu falei sobre tudo isso na live que fiz ontem com o Professor Alexandre Cabral, no meu canal do Youtube. Se você ficou com dúvidas sobre o que leu até aqui, deixe sua pergunta nos comentários da live e terei prazer em responder.