O economista Gabriel Galípolo, ex-número 2 do Ministério da Fazenda, foi aprovado nesta terça-feira (4) em comissão do Senado para assumir a diretoria de Política Monetária do Banco Central, após sabatina em que defendeu que as medidas tomadas pela equipe econômica geraram a perspectiva de flexibilização monetária “em breve”.
O servidor de carreira do BC Ailton de Aquino, indicado para comandar a diretoria do Fiscalização da autarquia, também foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Os dois nomes ainda precisam ser apreciados pelo plenário do Senado.
“As medidas até aqui implementadas produziram no primeiro semestre a valorização da nossa moeda, previsões de um déficit primário menor, aprovação de uma nova regra fiscal, projeções de crescimento mais elevado, menor inflação e o mercado já projeta taxas de juros mais baixas e cortes na taxa de juros futura”, disse Galípolo aos senadores.
O ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda também afirmou que desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva a equipe econômica decidiu trilhar o “caminho mais difícil” da harmonização entre a política fiscal e monetária.
A diretoria de Política Monetária é responsável por garantir o atingimento da meta da taxa Selic fixada pelo Comitê de Política Monetária, e também comanda as operações de câmbio do BC e a administração das reservas internacionais.
Aquino, a quem caberá supervisionar o sistema financeiro nacional, disse estar otimista quanto ao futuro da economia brasileira e fez críticas à comunicação do BC, acrescentando que vai defender melhoras nessa frente caso seja aprovado.
Nos últimos dias, o BC foi criticado por membros do governo por ter divulgado um primeiro comunicado sobre sua decisão mais recente de manter a taxa básica de juros em 13,75% interpretado como mais duro, e em seguida ter amenizado o tom na ata da reunião, que indicou com mais clareza a possibilidade de corte da Selic em agosto.
Galípolo recebeu 23 votos por sua aprovação na CAE e dois contrários. A aprovação de Aquino foi por 24 a 1.
Vontade das urnas
Questionado sobre sua visão em relação à autonomia do Banco Central, Galípolo disse que é preciso separar o que é o papel técnico de um BC autônomo de o que é afronta a um governo democraticamente eleito, e ressaltou que é o poder eleito que determina o “destino econômico” do país.
“Muitas vezes se entende a autonomia do Banco Central como se fosse uma autonomia do processo democrático, ou como se alguém quisesse ser indicado para a diretoria do Banco Central para fazer alguma coisa à revelia do que saiu da vontade democrática”, afirmou ele.
“É preciso se entender que é óbvio que é o poder eleito democraticamente, a vontade das urnas, que determina qual é o destino econômico da nossa sociedade… a autonomia técnica e operacional é aquilo que os diretores (do BC) devem perseguir”, completou ele.
Sob questionamento de vários senadores, Galípolo disse em resposta a uma pergunta na sabatina que o polêmico projeto de criar uma moeda comum entre os membros do Mercosul não visa substituir moedas nacionais, mas facilitar as relações entre parceiros comerciais.
“Quase sempre as críticas que vêm ao texto vêm de uma denominação equivocada e de uma compreensão equivocada… da ideia de que fosse uma moeda única — o que se assemelharia, por exemplo, ao euro –, que é algo que foi feito para substituir as moedas nacionais”, disse Galípolo.
“A ideia não é de uma moeda para substituir moedas nacionais, mas sim de uma unidade de conta e de um meio de pagamento que permita a viabilidade e possa facilitar a relação entre esses países.”
No ano passado, Galípolo e o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defenderam em artigo a criação de uma moeda comum para a América Latina, o que foi alvo de críticas de economistas mais ortodoxos e de participantes do mercado financeiro.