O Banco Central avalia ser pouco provável intensificar os cortes na Selic à frente após ter reduzido a taxa básica em 0,50 ponto percentual na semana passada, de acordo com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira (8), defendendo postura conservadora na flexibilização monetária e firme compromisso com a reancoragem das expectativas.
“O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, apontou o documento, ressaltando que não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta.
O documento explicou que essa confiança na melhora do ritmo de queda de preços viria apenas com uma “alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação”, como reancoragem “bem mais sólida” das expectativas, “abertura contundente do hiato do produto” ou “dinâmica substancialmente mais benigna” do que a esperada da inflação de serviços.
A autoridade monetária ressaltou que o ritmo de cortes de 0,50 ponto mantém a política monetária contracionista necessária para reduzir a inflação e representa “firme compromisso” com a reancoragem das expectativas, além de ajustar o nível real do aperto monetário diante de uma dinâmica de preços mais benigna do que o antecipado.
O BC ainda diz haver necessidade de se manter uma política monetária contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas.
“A extensão do ciclo ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, afirmou.
Na avaliação do economista da ASA Investments Leonardo Costa, a ata mostra que o BC está “tentando segurar ritmo de corte de 0,50 ponto percentual” ao apresentar condições para que esse passo seja alterado.
“Não vemos nenhuma dessas condições se materializando no curto prazo”, avaliou, ao destacar que mantém aposta de cortes de 0,50 ponto à frente, chegando a 11,75% ao ano no fim de 2023.
O BC iniciou na semana passada o ciclo de baixa da taxa básica de juros com um corte de 0,5 ponto percentual, o primeiro em três anos, além de sinalizar novas reduções equivalentes nas próximas reuniões do Copom.
A decisão surpreendeu parte dos analistas de mercado que esperavam uma redução mais moderada, e não foi tomada por unanimidade, com cinco votos por um corte de 0,50 ponto e quatro votos por uma redução de 0,25 ponto.
Divergências
Segundo o documento, o grupo defensor do corte mais intenso argumentou que a política monetária em patamar significativamente contracionista permitia um início do ciclo já no ritmo moderado considerado para as próximas reuniões, “sem detrimento do comprometimento com a meta e a credibilidade da política monetária”.
Para o grupo que defendeu redução mais parcimoniosa, o Copom já enfatizava cautela e não se observaram alterações relevantes no cenário que justificassem uma reavaliação dessa sinalização.
A ata afirmou que o Copom viu mérito tanto na opção de reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual como em 0,50 ponto.
“Qualquer que fosse a decisão, era consensual que um cenário com expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial, núcleos de inflação ainda acima da meta, inflação de serviços acima do patamar compatível com a meta para a inflação e atividade econômica resiliente requer uma postura mais conservadora ao longo do ciclo de flexibilização da política monetária”, disse.
Segundo o documento, ambas as opções de corte, a depender do ciclo, seriam compatíveis com a convergência da inflação para a meta tanto nos cenários de referência do Comitê, como em outros cenários apresentados na reunião.
O documento destacou que a reancoragem observada nas expectativas “se mostra ainda parcial”, ressaltando que embora tenha retirado de seu balanço de riscos para a inflação a incerteza sobre a aprovação do arcabouço fiscal, o Copom “notou que a dinâmica fiscal seguia sendo relevante em seu cenário-base”.
De acordo com o BC, parte dos diretores avaliou que persiste alguma incerteza sobre desafios fiscais, com expectativas de resultado primário divergindo das metas do governo.
“Nesse caso, a ancoragem das expectativas em torno das metas previstas no novo arcabouço fiscal, com a manutenção do compromisso fiscal externado, além de uma diminuição das incertezas acerca das medidas tributárias que fundamentam a execução de tal objetivo, contribuiria para um processo desinflacionário mais célere”, afirmou.
A ata ponderou que outros membros do Copom avaliam que um cenário global de maior inflação também dificulta a reancoragem das expectativas.
Foi mencionada ainda a hipótese de percepção dos agentes de que, ao longo do tempo, o BC poderia ser mais leniente no combate à inflação.
“Foi unânime o entendimento de que, independentemente da composição da diretoria colegiada ao longo do tempo, deve-se garantir a credibilidade e a reputação da instituição”, disse.