O primeiro dia da “era Milei” foi marcado por um “feriado virtual” do mercado de câmbio, alta das ações e aumento dos preços da carne no mercado. E muita expectativa com relação às medidas que devem ser anunciadas nesta terça-feira (12) pelo novo presidente argentino e por seu Ministro da Fazenda, Luis Caputo.
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Logo no começo dos negócios, o Banco Central da República Argentina (BCRA) estabeleceu uma paralisação dos negócios com o dólar. Antes da abertura do pregão, a autoridade monetária divulgou uma circular informando ter decidido “aplicar hoje a regra de cumprimento prévio a todas as operações realizadas no mercado de câmbio”.
Traduzindo, qualquer operação de compra e venda de dólares teria de ser diretamente aprovada pelo Conselho de Administração do BCRA. “Durante a transição, as operações cambiais serão analisadas e processadas com base em prioridades”, informou o banco central. E explicou que a medida visa “dar tempo (…) para as novas autoridades anunciarem e implementarem as políticas que serão executadas”.
Caputo já teria completado a sua lista de nomes para o Ministério, mas as mudanças no BCRA ainda não estão efetivadas. Na segunda-feira, Santiago Bausili, futuro banqueiro central se reuniu com o ainda presidente Miguel Pesce para “jornadas informais” de trabalho.
O futuro do dólar
A desvalorização da taxa de câmbio oficial poderá ser adiada. Na noite do domingo (10), após a posse presidencial, a expectativa era que isso vai levar alguns dias para ocorrer.
Há uma semana, Guillermo Francos, ministro do Interior, afirmou que o governo Milei vai elevará inicialmente o dólar oficial para 650 pesos. Isso representa uma maxidesvalorização de 62,5% em relação aos 400 pesos do fechamento “Banco de La Nacion” na segunda-feira (11). Essa cotação, praticada pelo principal banco argentino, é considerada o mais próximo de um dólar “oficial”.
Além da desvalorização, os profissionais do mercado esperam possíveis medidas para “descomplicar o câmbio”. No seu discurso, Milei evitou referir-se ao fim das restrições cambiais, mas os analistas acreditam que entre as primeiras medidas deverá haver sinais de liberalização de operações no mercado financeiro. Enquanto isso, alguns bancos chegaram a cotar o “dólar tarjeta” a 1.200 pesos, alta de 23,7% ante os 970 pesos do fechamento da sexta-feira.
Preço da carne
O governo de Javier Milei estreou com um aumento de 20% no valor da carne no atacado, que nos próximos dias poderá ser transferido para os preços nas prateleiras. A cotação na manhã da segunda-feira (11) chegou a 1.445 pesos o quilo em média para novilhos de até 390 quilos, avanço de 20%, após várias altas nos últimos dias.
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Segundo Eduardo Buzzi, ex-presidente da Federação Agrária Argentina, se o Governo Milei “deixar o mercado fluir” o preço da carne poderá subir para 25.000 pesos o quilo. “Um quilo de carne vale € 20 na Alemanha. Se deixarem a carne fluir livremente, serão 4 ou 5 milhões de argentinos que poderão comer carne, o resto vai comer macarrão e terá proteínas de feijão e lentilha”, diz ele. “Viva a maldita liberdade.”
Comparação com Fujimori
A falta de definição sobre as medidas levou parte dos analistas argentinos a comparar a situação com o que ocorreu no Peru em 1990, com a eleição de Alberto Fujimori. Outsider da política peruana, Fujimori foi eleito com um discurso de que não realizaria nenhum choque na economia para conter a inflação peruana. Em 1989, um ano antes da eleição, os preços haviam subido 2.775%. “Vamos atacar a inflação, mas sem choques”, disse Fujimori, eleito com uma maioria esmagadora: 62,5% dos votos, contra 37,2% do escritor Mário Vargas Llosa.
No início de agosto, logo após Fujimori assumir a presidência, o ministro da Economia e Finanças, Juan Carlos Hurtado Miller, anunciou um pacote econômico em que desregulava os preços de itens da cesta básica como açúcar, pão e leite em pó, além da gasolina. Alguns dos aumentos chegaram a 3.200%. Não por acaso, a inflação em 1990 chegou a 7.650%.
Fujimori ficaria no poder por dez anos, até o ano 2000, quando renunciou por fax e fugiu para o Japão. Foi preso durante uma visita ao Chile em 2005 e extraditado para o Peru, onde foi julgado e condenado. Aos 85 anos, foi libertado há menos de uma semana, no dia 6 de dezembro, devido a problemas de saúde.