Após a euforia da quinta-feira (14), os mercados no Brasil e no exterior estão com um estado de espírito menos festivo nesta sexta-feira. Durante quase todo o pregão, o Ibovespa testou o “nível psicológico” de 130 mil pontos e o dólar fechou em alta de 0,5% a R$ 4,94. Além de um movimento natural de realização dos lucros dos dois pregões anteriores, o mercado repercutiu declarações de diretores do Federal Reserve (FED), o banco central americano, que foram menos otimistas do que a média.
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Nesta sexta-feira, John Williams, presidente do FED de Nova York, rejeitou as expectativas do mercado em relação a novos cortes na taxa de juros americana. Segundo Williams, o FED ainda está concentrado em verificar se a política monetária está no caminho certo para continuar levando a inflação de volta à sua meta de 2%. “Não estamos realmente falando sobre cortes de juros no momento” disse Williams em uma entrevista à CNBC. “Acho que é prematuro pensar nisso.”
Williams foi o primeiro diretor do FED a se manifestar após a decisão de manter a taxa de juros referencial entre 5,25% e 5,50% ao ano. Os diretores do banco central americano indicaram uma perspectiva de corte de 0,75 ponto percentual em 2024, devido às expectativas de queda da inflação. Essa mudança ajudou a provocar uma forte recuperação nos mercados de ações e títulos.
Inflação nos EUA
Apesar da euforia do mercado, os dados econômicos não justificam tanto entusiasmo. Na terça-feira (12), a autarquia americana Bureau of Labor Statistics (BLS) divulgou a inflação ao consumidor de novembro. No acumulado em 12 meses, o Consumer Price Index registrou uma inflação de 3,1% no índice geral e de 4,0% no “núcleo” do índice, que exclui os preços mais voláteis de alimentos e energia.
Na ponta do lápis, a inflação caiu: em outubro, a variação do índice geral havia sido de 3,2% e a do núcleo foi de 4,1%. Mesmo na descendente, a inflação permanece o dobro da meta, que é de 2,0% em 12 meses. “De forma geral, os dados vieram em linha com as expectativas e não parecem suportar uma eventual mudança na condução da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC)”, afirma Lucas Schwarz, analista da VG Research.
A resiliência da inflação não só manteve os juros no patamar mais elevado em 22 anos, como deverá amplificar a volatilidade dos mercados de ações, moedas e commodities no curto prazo. “O FED parou de elevar suas taxas na última reunião, mas o temor é de a inflação americana não ceder. E por conta disso, nossa Bolsa sente muito”, diz Antonio Marcos Samad Júnior CEO da mesa proprietária Star Desk.
Segundo Samad, a resiliência da inflação aumenta a oscilação dos preços dos ativos e a busca por ‘hedge’, o que beneficia os agentes de mercado que têm um perfil mais especulativo e estão dispostos a aproveitar esses momentos de volatilidade ampliada.
Alta de juros?
O presidente do FED de Nova York alertou para esse impacto em sua entrevista à CNBC. O rali nos mercados “poderia complicar a missão do FED”, disse ele, “pois o banco central [americano] ainda tem trabalho a fazer para garantir que a inflação continue seu recuo em direção à meta”. Williams destacou que as condições financeiras gerais ainda estão mais apertadas, refletindo como a política monetária mudou.
Williams advertiu que um aumento na taxa de juros ainda não pode ser descartado. “Uma coisa que aprendemos, mesmo no último ano, é que os dados podem se mover de maneiras surpreendentes”, disse ele, acrescentando que “precisamos estar prontos para aumentar ainda mais se a inflação, o progresso da inflação, estagnar ou reverter”.
Esse cenário de incerteza quanto a manter posições de longo prazo vem estimulando a busca por ganhos no day trade, operações de curto prazo com o objetivo de obter ganhos no mesmo dia. Segundo Samad, as oportunidades aumentam em momentos de volatilidade. O trader escolhe uma determinada ação que ele acredita que vai subir no curto prazo e vende quando o preço atingir a meta.