Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), realizada na terça e quarta-feira desta semana, tivemos o sétimo corte consecutivo da taxa Selic, que caiu 0,25 pp e não os 0,50 pp que haviam sido, de certa forma, sinalizados pelo BC na Ata da reunião anterior.
Tal qual a votação no próprio Copom, que ficou dividida, com 5 votos pelo corte de 0,25 pontos e 4 votos para 0,50 pontos, o mercado também já vinha dividido quanto ao resultado desta reunião. Cerca de 60% dos analistas já esperavam um corte menor
Porém, o corte em si não é o ponto mais importante dessa reunião. O impacto e maior stress dos mercados devem estar presentes nos próximos dias, mas não em escala muito significativa, já que esse corte menor da taxa Selic já vinha sendo precificado nos ativos tanto na renda variável quanto na fixa.
O ponto focal nessa reunião do Copom está muito mais no fato de que a votação foi apertada, com cinco membros votando de forma mais conservadora, muito em virtude das preocupações com a situação fiscal do país, e outros quatro membros – indicados pelo atual governo – votando por uma política mais expansionista. Essa falta de coesão acende o alerta do mercado.
Por que a Selic caiu menos do que poderia?
Aqui temos um ponto que sempre ressalto: o mercado financeiro não gosta de incertezas, e a realidade objetiva tem trazido à pauta incertezas macroeconômicas relevantes, a começar pela revisão da meta fiscal, trazendo instabilidade e desconfiança quanto ao compromisso do governo quanto a uma política fiscal alinhada com a sustentabilidade da dívida pública.
No fim do ano teremos troca de comando no Banco Central, e o risco de termos um novo presidente com viés mais expansionista, sem que tenhamos internamente condições fiscais equilibradas, e no mercado externo perspectivas de melhora dos dados de inflação, pode resultar numa combinação que aumenta o risco, eleva o câmbio e derruba a bolsa de valores.
A inflação dos Estados Unidos é um ponto de atenção
Como se as condições objetivas no cenário doméstico já não fossem suficientemente desafiadoras, os dados de inflação nos Estados Unidos vieram acima do esperado e, portanto, sem previsão de cortes na taxa de juros estadunidenses no curto prazo, e esse ambiente externo adverso, é um balizador para nosso mercado.
Por mais que economias emergentes, como é o caso do Brasil, estejam com taxas de inflação decrescentes e mais próximas da meta, dependemos muito da queda da taxa de juros nos Estados Unidos para poder cortar juros por aqui. Afinal, uma diferença muito pequena em relação aos juros norte-americanos provocaria o movimento natural dos investidores trocando o risco Brasil pelo risco EUA: estável, forte e sem o elevado risco fiscal que temos por aqui.
O mercado deve se manter cauteloso
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em recente evento, comentou que a expansão da meta fiscal para 2025 poderia mudar a leitura do Copom quanto às perspectivas de corte da taxa Selic e isso se concretizou agora.
Em termos macroeconômicos faz sentido que o Banco Central não tome riscos além do que sua equipe avalia como ideal, até porque, se o cenário voltar a ficar favorável em algum momento, é sempre possível lançar mão de uma eventual aceleração nos cortes, não é mesmo?
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O novo comunicado do Copom reforça que a continuidade, ou não, de cortes na taxa Selic dependem de uma política fiscal consistente por parte do governo, pois a boa performance dos indicadores de atividade econômica e mercado de trabalho no cenário doméstico não são suficientes para assegurar estabilidade e reduzir o prêmio de risco em nossa economia, ao contrário disso, na visão do mercado financeiro, podem até significar maior pressão inflacionária.
O mercado considera ainda o cenário instável, onde as taxas de juros futuras disparam, onerando custos do governo que ao se financiar emitindo dívida, tem de fazê-lo com taxas mais elevadas.
O que muda com a divulgação da nova taxa Selic
Em relação ao que já vínhamos observando nas últimas semanas, me parece que muda bem pouca coisa, já que o mercado já estava precificando esse corte de 0,25 ponto porcentual.
Devemos ter um aumento das taxas dos títulos IPCA+ que, com taxas acima de 6%, levam o investidor ao comportamento rentista, coletando esses prêmios elevados, ao invés de investir na economia real, comprando ações e fundos imobiliários.
Dessa forma, a renda variável deve sofrer um pouco, especialmente as ações de crescimento, como o varejo, por exemplo.
É hora de mudar sua carteira de investimentos?
Essa decisão depende totalmente de qual a sua meta e prazos para alcançá-la, daí a importância de você estudar e aprender a gerenciar seu plano de investimentos, pois ele é mandatário em qualquer cenário e possibilita que você faça ajustes ou surfe ondas específicas em busca de crescimento patrimonial e rentabilidade.
Nesse momento, quem tem como meta o crescimento patrimonial no longo prazo, deve estar fazendo uma combinação de aportes, aproveitando as taxas elevadas da renda fixa, mas sem deixar de aportar também em ações sub precificadas de excelentes empresas, que a longo prazo irão se valorizar significativamente.
Por outro lado, quem precisa de rentabilidade com baixo risco, mais do que nunca tem a oportunidades no Tesouro IPCA e no crédito privado.
Como sempre digo, não há um investimento específico que seja melhor ou pior. A combinação ideal é uma carteira balanceada, com várias classes de ativos, graus de risco variados e tudo montado em percentuais compatíveis com os objetivos que você tem, e isso não depende do que está ocorrendo no mercado.
Ter esse tipo de carteira é a atitude que tomam as pessoas que não desejam ser conduzidas pelos movimentos do mercado. Ao contrário, desejam estar preparadas para aproveitar as oportunidades de cada cenário.
O mercado financeiro e seus agentes equilibram o tempo todo uma infinidade de interesses políticos, econômicos e institucionais, e tudo isso permeado por fatores macro e nem sempre controláveis. Sendo assim, cabe a você investidor, estudar e aprender a otimizar seus recursos, pois ninguém mais poderá fazer isso por você.
Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI, pós graduado em pedagogia empresarial, coordenador do MBA em Planejamento Financeiro e Análise de Investimentos da Anhembi Morumbi, sócio do Clube FII e sócio fundador da holding financeira MR4 Participações.
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