A mensagem transmitida pelo Banco Central não mudou desde a reunião de julho do Comitê de Política Monetária (Copom). A autoridade monetária atuará com cautela após análise de dados, podendo subir os juros básicos se necessário.
As declarações foram feitas nesta terça-feira (20) pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Em evento promovido pelo BTG, em São Paulo, ele ponderou que o cenário externo está em situação melhor após período de forte volatilidade. No entanto, o presidente da autoridade monetária reafirmou que a desancoragem das expectativas do mercado para a inflação no Brasil “incomoda muito”.
Leia também
“Se precisar subir os juros, a gente vai subir os juros. A gente decidiu não dar um ‘guidance’ (orientação), pois entendemos que o Banco Central vai estar ‘data dependent’ (dependente de dados)”, disse. Ele pontuou ainda que o BC não vai “olhar tanto” para ruídos e volatilidades momentâneas.
“Não mudou nada (na mensagem do BC). De lá para cá, a gente teve um pouquinho de dados mais fortes no local, uma volatilidade grande lá fora, com um cenário que eu acho que hoje lá fora está melhor do que estava antes.”
Externo x Interno
Entre os fatores de melhora no ambiente externo, Campos Neto avaliou que prevalece uma previsão de que os Estados Unidos passarão por um pouso suave da economia – ou uma “desaceleração organizada”.
Na reunião de julho, o Copom manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano e incorporou em seu cenário a possibilidade de voltar a elevar os juros se necessário para levar a inflação à meta de 3%.
Após a decisão, ganharam força no mercado apostas de elevação do juro básico no cenário à frente. O próximo encontro do Copom ocorrerá em setembro, no mesmo dia da reunião do Federal Reserve.
Na apresentação, Campos Neto afirmou que existia no país uma percepção errada sobre como seria a condução da política monetária no futuro, em meio às trocas de membros da diretoria.
Para ele, após a reunião do Copom de maio, que mostrou divergência entre diretores indicados pelo atual governo e membros mais antigos, o BC está agora em um processo de construção de credibilidade, mostrando que a diretoria tem espírito de equipe e toma decisões técnicas.
“Parte do prêmio (de risco) ter caído foi por passarmos (a mensagem de) que existe essa organização, e que o Banco Central vai continuar, vai sempre perseguir a meta, vai subir os juros se for preciso, independente de eu estar no BC ou não”, afirmou.
Em relação ao orçamento do governo federal, Campos Neto afirmou que com a vigência do novo arcabouço para as contas públicas o Brasil tem uma desaceleração fiscal “encomendada”. Segundo ele, isso tem efeito no crescimento econômico e nas expectativas.
Ele acrescentou que começou a haver nos mercados uma percepção mais sincronizada de que haverá um processo de melhora fiscal no mundo.
- Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Campos Neto ainda reafirmou ainda que não quer continuar atuando na esfera pública após o encerramento do seu mandato à frente do BC no fim deste ano. Ele demonstrou interesse em retornar ao setor privado, nas áreas de finanças e tecnologia.