Será realizada nesta terça-feira (5) a eleição americana com o resultado menos previsível em décadas. As pesquisas eleitorais não conseguem definir com precisão quem está mais próximo de ocupar o Salão Oval da Casa Branca a partir de 21 de janeiro de 2025, se a democrata Kamala Harris ou o republicano Donald Trump.
Ao contrário dos demais países, a eleição americana interessa a todos, americanos ou não. Os Estados Unidos são o principal (ou o segundo maior) parceiro comercial do resto do mundo. São o maior mercado consumidor, a principal fonte de tecnologia e de capital e também o principal poder militar. Por isso, o resultado das eleições, que definirá também as relações econômicas e políticas, vem sendo aguardado ansiosamente.
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Como isso afeta a economia brasileira? Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, há o riscos de mudança na política econômica. “Caso Trump vença, o Brasil pode reforçar sua aliança política com os EUA, porém, enfrentará desafios econômicos com um dólar valorizado. Com Kamala, o governo brasileiro pode se beneficiar de um ambiente mais favorável para o comércio exterior, sobretudo se o dólar enfraquecer”, diz ele.
Apesar da turbulência do mercado, porém, as alterações deverão demorar um pouco para ocorrer. “Não devemos esperar mudanças significativas, apesar da tendência do mercado em precificar incertezas”, diz Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. “Kamala Harris representa a continuidade da administração Biden, o que sugere que não haverá mudanças radicais. Por outro lado, Donald Trump, que já ocupou a presidência recentemente, também não promoveu alterações drásticas em sua gestão.”
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Juros e dólar
Em um primeiro momento, a variável mais afetada seria a taxa de câmbio. O Federal Reserve (FED), o banco central americano, vem mantendo as taxas em um patamar bastante elevado para conter a inflação. Na reunião mais recente, o Federal Open Market Committee (Fomc), o equivalente americano do Copom, reduziu os juros referenciais em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano.
Na próxima reunião, agendada para a quarta e a quinta-feiras desta semana (o encontro foi adiado em um dia devido à eleição) a expectativa quase unânime dos mercados é de mais um corte de juros de 0,25 ponto percentual, seguido de uma redução da mesma magnitude no encontro de dezembro, o último do ano. Entre 2023 e 2024, o FED manteve os juros americanos no patamar mais elevado desde 2001. Porém, com a queda da inflação e a desaceleração do crescimento econômico, os juros começaram a cair. E as expectativas do mercado são de que essa queda se estenda pelo menos durante o primeiro semestre de 2025.
O banco central americano é independente e seu presidente tem mandato fixo, deliberadamente não-coincidente com os mandatos presidenciais. Por isso, o nome do ocupante da Casa Branca não tem uma influência direta sobre a política monetária. Apesar disso, as propostas de Trump são de redução de impostos e de imposição de tarifas, o que pode tanto desequilibrar as contas públicas quanto aumentar os custos da economia. São políticas que podem elevar a inflação, provocando um repique nos juros americanos.
Isso fortalece o dólar, o que também é inflacionário para países emergentes como o Brasil. “Uma interrupção na queda das taxas de juros americanas teria um impacto negativo para o Brasil, especialmente com a pressão inflacionária próxima do teto de 4,50%”, diz Eyng. “O adiamento dos cortes de juros nos EUA pressionaria o câmbio, fortalecendo o dólar e aumentando o custo de importações”, diz Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
Relações comerciais
Kamala Harris não tem tanta desenvoltura em política externa quanto Joseph Biden, seu companheiro de partido. Mesmo assim, a expectativa dos analistas é que muitas das posições do governo atual devem seguir inalteradas. Os principais são meio ambiente, direitos trabalhistas e relações econômicas com a China. A relação de Lula com Biden é melhor do que a de Jair Bolsonaro, mas essa proximidade em temas como direitos trabalhistas – Biden, como Lula, militou nos sindicatos – até agora rendeu poucos frutos. Não se esperam grandes mudanças em uma eventual vitória de Harris, e diversas políticas intervencionistas devem seguir em vigor.
No caso de uma vitória do republicano, porém, deverá haver mudanças. Trump é um grande defensor do protecionismo econômico. Ele já afirmou que “tarifa” é sua palavra preferida no dicionário, o que não favorece uma ampliação das relações comerciais.
Os EUA são contrários a uma aproximação econômica mais intensa entre Brasil e China, e isso não deverá mudar, independentemente de quem ganhe a eleição. O que interessa é a relação americana com a China, que deve ser mais áspera no caso de uma vitória republicana. Em um evento em São Paulo no dia 23 de outubro, Katherine Tai, representante comercial dos Estados Unidos, afirmou que o Brasil “deveria considerar os riscos” de aderir a um projeto de integração econômica chinês denominado Nova Rota da Seda. A declaração provocou críticas da embaixada chinesa em Brasília.
Qual a conclusão dos especialistas? Apesar dos discursos eleitorais inflamados, na prática o próximo presidente americano terá de lidar com um pesado déficit público e relações tensas com o principal parceiro comercial, além de uma situação internacional adversa com os conflitos no Oriente Médio e na Rússia. Por isso, não se esperam alterações drásticas em um primeiro momento.
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