Com juízes como The Edge, do U2, e parceiros como o Banco Internacional de Desenvolvimento (BID), a empresa de transformação digital e cognitiva Globant está lançando a primeira edição do prêmio Women That Build, que vai premiar mulheres atuantes em tecnologia e incentivar outras a construir carreiras no setor.
O prêmio deriva de uma campanha da Globant formada por iniciativas voltadas à equidade de gênero, empreendedorismo feminino, inclusão e diversidade, e terá etapas locais no Brasil e em outros países da América Latina, além da Espanha e Estados Unidos.
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A iniciativa terá um corpo de jurados que inclui The Edge, que é presidente da Endeavor na Irlanda, além de Linda Rottenberg, diretora executiva e cofundadora da Endeavor Global e Shari Loessberg, professora da escola de negócios MIT Sloan. O prêmio contemplará executivas em posição de liderança em tecnologia, além de líderes sem treinamento formal relacionado à área, mas que tenha causado impacto direto no setor, além de mulheres com menos de 26 anos de idade que demonstre uma história de auto-aperfeiçoamento e inovação por meio da tecnologia.
As finalistas de cada categoria em seu país participarão da grande final global, que acontece em dezembro e premiará a vencedora com uma bolsa de estudos internacional. Além do BID e da Endeavor em nível global, organizações apoiadoras do prêmio no Brasil incluem a gigante de software SAP além da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM),a São Paulo Digital School, além da Mete a Colher, startup que usa a tecnologia como aliada para combater a violência contra as mulheres. As inscrições para o prêmio estão abertas até 4 de novembro. LINK: womenawards.globant.com
A executiva à frente do prêmio é Patricia Pomies, chief delivery officer da Globant, que falou com o Forbes Insider sobre temas como a participação das mulheres no mercado de tecnologia, e o que a própria empresa está fazendo para contribuir para a mudança deste cenário. Confira a seguir os melhores momentos da conversa:
Forbes Insider: Por quais motivos você acredita ser importante aumentar o número de mulheres em tecnologia?
Patricia Pomies: As mulheres ainda são pouco representadas na área de engenharia de software e tecnologia em geral. Três em cada 10 trabalhadores da área de matemática e ciência da computação na América Latina e no Caribe são mulheres. É muito importante gerar mudanças substanciais, tanto dentro da nossa organização quanto na sociedade.
Imagine um mundo onde a inovação depende exclusivamente de um grupo de pessoas iguais, que pensam e trabalham de maneira semelhante, que enxergam as coisas do mesmo ponto de vista e tomam decisões relacionadas. Sem diversidade não há espaço para criatividade, para encontrar novas ideias e diferentes soluções, seria um mundo sem inovação.
Imagine também um mundo onde as mulheres, sem estereótipos culturais que condicionaram sua vocação de meninas, optem por estudar e se desenvolver no setor de tecnologia, que tenham acesso, possam liderar equipes e projetos de tecnologia e sejam reconhecidas por seu potencial e trajetória.
Atualmente, esses dois problemas coexistem, afetando em primeiro lugar o desenvolvimento pessoal e profissional das mulheres e impactando negativamente a capacidade de inovação e crescimento do setor e, em última instância, da sociedade.
FI: Quais são os principais entraves que você identifica em relação ao acesso de mulheres a empregos em tecnologia, bem como as causas disso?
PP: A desigualdade de gênero na área de tecnologia continua ao longo do tempo, mas isso não é apenas uma responsabilidade única do setor, a questão é mais profunda. A raiz do problema está diretamente ligada à ineficiência dos sistemas educacionais em inspirar mulheres e diferentes comunidades a promover talentos com base na diversidade.
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A principal barreira para alcançar a igualdade de gênero está relacionada à mudança do conceito de que certas carreiras e profissões são exclusivas para homens ou mulheres. A única forma de mudar isso, é fazendo uma mudança sólida na forma como os percursos de formação são desenvolvidos. Para isso, precisamos estabelecer os valores de diversidade e inclusão como pilares principais.
Por outro lado, uma das principais barreiras para alcançar a igualdade de gênero neste setor específico está relacionada à falta de políticas públicas que garantam tratamento adequado, ambientes de trabalho inclusivos e remuneração igual. A desigualdade também surge porque as mulheres tendem a não ter as mesmas chances de mostrar suas habilidades e realizações no dia a dia em comparação com os homens.
Mudar essa situação é um verdadeiro desafio, principalmente porque o problema tem múltiplas causas e arestas. Abordar essa questão levando em consideração apenas um determinado setor é apenas olhar para a ponta do iceberg.
FI: De que formas empresas podem contribuir para que mais mulheres ingressem na área de tecnologia?
PP: Segundo Maria Klawe, presidente do Harvey Mudd College, os três principais motivos pelos quais as próprias mulheres alegam para não ingressarem no mercado de tecnologia são: falta de interesse, não acreditar que são boas em tecnologia e pensar que irão trabalhar com pessoas com as quais não se sentiriam confortáveis ou felizes. Assim, as empresas, têm como missão tornar a tecnologia mais atrativa para as mulheres, formar e qualificar as mulheres nos segmentos para que se sintam seguras em seus cargos e aptas para o desempenho de suas atividades e, por último, mas não menos importante, preparar-se internamente junto aos seus colaboradores para que não haja disparidade ou qualquer tipo de assédio.
Para que as empresas façam a diferença nesse cenário e causem mudanças significativas na sociedade, mais do que acreditar, é preciso viver a causa. As empresas são formadas por pessoas, portanto, além de uma imagem na parede com sua missão, visão e valores, elas precisam capacitar sua equipe e atrair pessoas que concordam com seus valores e princípios. Na seleção de candidatos, a empresa deve ter em mente a composição de uma equipe diversificada e como permitir que ela atinja seus objetivos.
É fundamental que as empresas definam uma meta para que o plano se torne tangível. Somado a isso, é importante apoiar os funcionários para o crescimento e a capacitação em seus cargos. Em uma sociedade cada vez mais tecnológica, formar meninas programadoras e inseri-las no mercado de trabalho é importante para combater a desigualdade de gênero. Além disso, quanto mais diversificadas forem as equipes nas empresas, mais completas serão as soluções criadas.
FI: Como a Globant está avançando neste sentido no Brasil e em sua operação global? Por exemplo, quantas mulheres ocupam cargos seniores, qual é a porcentagem de mulheres no quadro de forma geral e que iniciativas a empresa implementou para fazer com que estas mulheres possam ter as mesmas oportunidades que homens, além de providências tomadas em relação à pandemia, em que muitas tem funções acumuladas no lar além do trabalho?
PP: No caso do Brasil, a Globant está em um momento de grande e acelerada expansão e em seus investimentos foram consideradas a formação e qualificação de talentos para a composição de um time diversificado e de alta performance. Incentivamos as mulheres a seguirem carreiras em TI por meio de programas de treinamento, bolsas de estudo, programas de liderança e várias iniciativas que contribuem para a igualdade de gênero.
Globalmente, estabelecemos dois objetivos para 2025: que 10.000 mulheres de todo o mundo se inspirem e treinem em tecnologia e atingir 50% de mulheres e pessoas não binárias em cargos gerenciais.
Para desafiar o status quo, criamos o [programa] Women That Build, para promover a inspiração, inclusão e o crescimento. Elaboramos este programa no qual acompanhamos as mulheres em sua trajetória profissional, desde o momento em que estão na escola, passando pelo primeiro emprego, até o desenvolvimento de carreira e profissional.
Em cada estágio, colocamos em prática uma variedade de programas de treinamento e iniciativas para ajudá-las a prosperar. Nas cinco etapas que compreendem o Women That Build, temos inspiração, que visa incentivar as mulheres a se interessarem por ciência, tecnologia e matemática. Alguns dos principais programas que desenvolvemos são o Programadoras Chicas de Chicas, da Argentina, do qual já participaram 1.500 meninas de 12 a 17 anos, em 15 cidades diferentes. Existe o programa Empower Her na Índia e nossa parceria com Laboratoria, uma organização sem fins lucrativos, onde temos como objetivo treinar e orientar mulheres no Peru, Chile, México e Colômbia. Mais de 450 mulheres já desfrutaram do treinamento.
No pilar de educação, estamos trabalhando para melhorar o acesso à educação para mulheres e pessoas não binárias. Colocamos em prática iniciativas Globant específicas para fornecer ferramentas e conhecimento, e também colaboramos com instituições educacionais. Oferecemos mais de 500 bolsas. Como parte de nossa iniciativa Be Kind, pretendemos treinar 5.000 mulheres e pessoas não binárias em tecnologia até 2025.
Em contratação, aplicamos práticas de diversidade e inclusão em nossos processos de recrutamento para aumentar a conscientização, compreensão e garantir a diversidade em escala. Criamos um treinamento de contratação inclusivo, que atualmente estamos realizando com todos os nossos recrutadores. Temos um treinamento de identidade e expressão de gênero com a equipe de People da Globant. Todo [colaborador] tem que fazer um treinamento obrigatório de conscientização sobre diversidade e inclusão.
Em acompanhamento, apoiamos mulheres e pessoas não binárias para sustentar suas carreiras em diferentes fases de suas vidas, como ao se tornar mãe, oferecendo licença maternidade e paternidade prolongada. Também criamos um programa para ajudar as mulheres enquanto se tornam mães. Em relação à liderança, para ajudar no desenvolvimento de carreira, temos programas específicos administrados pela Globant University. Continuaremos a investir nessas iniciativas à medida que promovemos uma empresa global e inclusiva com oportunidades iguais para todos os nossos colaboradores.
FI: De que formas o governo e a academia devem intervir para endereçar esse gap de gênero no setor?
PP: Acreditamos fortemente que é importante que todos os atores da sociedade, incluindo o governo e as instituições de ensino, trabalhem para desenvolver iniciativas de inclusão e diversidade para educar os futuros profissionais nas áreas de tecnologia e inovação.
A sociedade como um todo deve unir esforços em torno da educação para preparar as novas gerações para a vida profissional, e a tecnologia é um campo muito promissor e que oferece muitas oportunidades.
FI: O Plano Nacional de Inovação do governo brasileiro tem um aspecto de capacitação da força de trabalho – na sua opinião, de que formas esta política pública em particular deve ser trabalhada para corrigir a disparidade de gênero no setor de tecnologia?
PP: Ficamos muito felizes e satisfeitos ao ver que existe uma preocupação em treinar e qualificar a mão de obra no Brasil, temos a convicção de que esta iniciativa proporcionará grandes profissionais no futuro. Para minimizar esta lacuna, acreditamos que o Plano deva considerar igualdade de condições para homens e mulheres. Além disso, para que uma transformação real e permanente aconteça, todas as áreas da sociedade, como governo, empresas, instituições de ensino. Estes atores devem se preocupar em promover iniciativas igualitárias em todos os aspectos, inclusive de gênero.
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