Ela costuma dizer que está nos negócios online desde o tempo em que “a internet era o negócio do futuro”. Diretora de Marketing Solutions para a América Latina do Linkedin, a rede social de negócios e relacionamento profissional, Ana Moisés comanda uma equipe de 35 pessoas no Brasil, além do escritório em Miami e se reporta diretamente com os domínios da empresa em Londres.
“Estávamos prontos para iniciar a operação comercial e de publicidade no México, onde o Linkedin se estabeleceu no ano passado e vai muito bem, porém tivemos que adiar tudo por conta da pandemia”, informa Ana, que também vai comandar mais essa ação de sucesso da empresa. E, apesar da quarentena, adiamento de planos e do expediente remoto, ela conta que anda trabalhando mais do que nunca. Porém, não reclama.
“Adoro meu trabalho e faço com paixão, como meu pai me ensinou”, declara. O pai de Ana, o professor e escritor Massaud Moisés (1928-2018), especialista em literatura portuguesa, foi um dos grandes intelectuais brasileiros do século passado, tendo atuado na USP por mais de 20 anos. “Ele me dizia que o conhecimento, aquilo que aprendemos, ninguém tira de nós”, lembra orgulhosa.
Criada em um ambiente de muita leitura e intensa atividade intelectual, ela enveredou pela área dos negócios a partir da universidade, quando se formou em administração de empresas na ESPM, pensando em conseguir “um bom cargo em uma multinacional”. Porém, no meio do caminho havia a internet, ainda incipiente no final dos anos 1990 e, depois de muita insistência de um amigo com quem havia estudado, ela topou ver do que se tratava o tal negócio do futuro. Na verdade, ninguém ainda sabia muito bem, mas todos concordavam que “iríamos conquistar o mundo”, diverte-se.
Durante dois anos trabalhou em um provedor de internet, passou pela bolha da primeira onda digital e acabou na Microsoft, que estava lançando o portal MSN no Brasil, sempre na área de marketing e publicidade. Foram dez anos na empresa e depois mais quatro no Yahoo, até receber o convite para integrar a equipe do Linkedin, na área de publicidade B2B, há seis anos. “Nesse tempo, a rede social explodiu no Brasil e hoje é considerada a plataforma digital de maior credibilidade no mundo”, apenas.
Sobre a trajetória de sucesso no mundo dos negócios digitais, Ana resume: “Quando comecei no setor, eu era jovem, recém-divorciada, com um filho pequeno e tinha voltado a morar com meus pais. Ou seja, não havia outra opção: eu só podia ser bem-sucedida”. Segundo ela, a independência financeira é o fator determinante para o que hoje se chama “empoderamento feminino”, algo que deve ser ensinado às meninas desde a mais tenra idade: “Elas precisam saber que toda mulher deve ser dona de seu destino e pode tanto ser astronauta quanto ganhar um prêmio Nobel”.
Na Microsoft, Ana diz ter aprendido muito sobre planejamento, os rumos e as movimentações do mercado, enquanto no Yahoo, aprendeu sobre inovação e novos produtos do setor. E o acúmulo de experiência profissional, faz com que ela se posicione, cada vez mais, pela valorização dos profissionais de mais idade: “Não é justo que um headhunter só procure pessoas com menos de 50 anos. O preconceito de idade me preocupa. Eu quero estar na ativa até bem depois dos 70 anos”, avisa.
Outra coisa que Ana diz ter aprendido com o pai, o poder da palavra e da linguagem. “Se você fala bem, domina a língua, pode enfrentar qualquer pessoa em uma discussão ou em um debate. Isso faz toda a diferença”, ensina. “Palavra e paixão. Essa receita é 100% sucesso”, conclui.
A seguir, Ana Moisés, #MulherdeSucessoResponde:
Donata Meirelles: Qual o seu maior exemplo de mulher de sucesso?
Ana Moisés: Depende do conceito de sucesso. A minha infância foi marcada por Margaret Thatcher e, aos vinte poucos anos, por Maria Silvia Bastos Marques, na época presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Uma era conhecida como “Dama de Ferro” e a outra, “Dama de Aço”. Uma frase da Maria Silvia: “Eu nunca pensei como homem. Pelo contrário. Meu grande diferencial foi ser uma boa executiva e ter uma cabeça feminina”. Eu uso o fato de ser mulher como um ‘plus’. Sempre brinquei com meus diretores que tenho uma arma a mais do que eles e sei usar muito bem. Sei mesmo.
DM: Qual sua ideia de felicidade no trabalho?
AM: Fazer o que eu gosto, trabalhar com quem eu admiro, não ter de fazer concessões que vão contra aquilo que eu acredito.
DM: Eu achava que sucesso era…. e descobri que é ….
AM: Achava que sucesso era ser reconhecida pelos meu chefes e descobri que sucesso é ser reconhecida pelo meu time, pelos meus clientes, pelo mercado em que atuo.
DM: Depois da pandemia qual será a mudança mais significativa na sua área de atuação profissional?
AM: A venda de publicidade, pelo menos no B2B, cresceu muito. Grandes eventos foram cancelados e ainda não sabemos se voltarão. As pessoas provavelmente farão mais home office, mesmo que tudo volte ao normal. O trabalho remoto já é uma realidade e temos que estimular as pessoas a desenvolverem mais conexões mesmo que à distância.
DM: Se você pudesse escolher um superpoder, qual seria?
AM: Não sei se é um superpoder, mas eu gostaria de falar todas as línguas. Acho que eu viajaria o mundo só para conhecer as pessoas e conversar com elas. Agora, se for para sonhar alto, gostaria de ser o Papai Noel e poder presentear cada criança no mundo.
DM: Que tipo de hábito ou exercício você recomenda para desligar ou aliviar sua mente?
AM: Depende de cada um: cinema me faz desligar, mas para muitas pessoas a melhor maneira é suar. O importante é que cada um respeite o limite da sua mente.
DM: Qual mensagem você gostaria de deixar para as próximas gerações?
AM: Que nós somos as relações que construímos. Ninguém chega a lugar algum sozinho. E, se chegar, não será capaz de se manter lá. Não importa qual seja a discussão, qual seja a inovação, o fato é que somos por natureza gregários, precisamos uns dos outros. Talvez alguns até precisem menos, mas só sobreviveremos como humanidade se cultivarmos as relações.
Com Mario Mendes e Antonia Petta
Donata Meirelles é consultora de estilo e atua há 30 anos no mundo da moda e do lifestyle.
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