“Estou orgulhosa por ter conquistado uma cadeira de liderança em uma big tech”, diz Beatriz Bottesi, de 38 anos. A executiva, que durante dois anos atuou como líder de marketing no Instagram, foi promovida a head de marketing em todos os braços do Facebook no Brasil, incluindo as redes sociais e o Whatsapp. A empolgação, no entanto, não a faz perder de vista a representatividade feminina que carrega após a novidade. “As mulheres representam apenas 20% dos profissionais de tecnologia. O movimento para alcançar a mudança tem que ser diário e incansável.”
Sua trajetória começou ainda em 2001, durante o primeiro ano do curso de administração na ESAMC (Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação de Campinas). “Sempre fui apaixonada por comunicação e publicidade, mas acabei escolhendo administração porque trabalhava durante o dia e esse era o único curso noturno”, explica Beatriz. O pequeno contratempo não atrapalhou seu direcionamento de carreira. Conseguiu seus primeiros cargos em agências de publicidade ainda como estudante e se graduou com ênfase em marketing.
Em seguida, Beatriz decidiu buscar conhecimento além das fronteiras. Do Brasil, voou para a Inglaterra, onde acabou morando por dois anos enquanto estudava novos formatos de mídia e trabalhava na área de eventos de uma rede de restaurantes. Sentindo-se pronta após a experiência, voltou a sua terra natal para começar uma sequência de passagens por grandes empresas: Red Bull, Nike, Coca-Cola – onde ficou por quase cinco anos – e, finalmente, Instagram.
Nos dois anos em que atuou como líder de marketing da rede social, Beatriz também teve a chance de participar de diversos projetos de marcas para o Facebook e o Whatsapp, o que ajudou na sua transição como head oficial da família de aplicativos de Mark Zuckerberg. Responsável pela imagem das gigantes de tecnologia, a executiva trabalha diretamente com Kate Johnson, consumer marketing director do Facebook e outra liderança feminina na comunicação.
“Estamos bem longe do ideal, mas o setor de tecnologia, de predominância masculina, é um dos grandes exemplos da evolução da diversidade”, diz. “Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) apontam que, nos últimos cinco anos, a participação feminina cresceu 60% na área tech — de 27,9 mil, em 2014, para 44,5 mil em 2019.” Para Beatriz, o segredo para aumentar a participação feminina é investir em iniciativas de diversidade e políticas de retenção de talentos. Isso depende, é claro, de “uma liderança comprometida em fazer mudanças”, destaca.
Com o aumento de mulheres em cargos de liderança, como Beatriz, o caminho se torna mais otimista. Muito mais do que o setor tecnológico, a executiva também observa o avanço da diversidade no mundo publicitário de forma geral. “Como comecei a trabalhar bem cedo, passei por momentos desagradáveis em ambientes muito competitivos, machistas, com bastante ego e falta de maturidade dos líderes”, relembra. “O cenário evoluiu bastante desde então. Cuidar das pessoas se tornou uma pauta genuína, o que me faz, atualmente, muito mais feliz e realizada na minha profissão.”
Competitividade feminina e ego nunca foram termos presentes em seu vocabulário, mas Beatriz revela ter passado por muitos altos e baixos para lidar com a aceitação e a síndrome de impostora – ela revela que sentia constantemente que o que fazia não era bom o suficiente. “Ter certeza de que estava no caminho certo, fazendo algo que sempre me trouxe muita paixão, foi fundamental para eu ter resiliência e continuar investindo e me dedicando à carreira”, conclui.
Equilíbrio de pratos
Enquanto construía seu nome no mundo do marketing, a executiva também crescia em sua vida pessoal. Entre as idas e vindas de São Paulo e Rio de Janeiro, conheceu seu marido, com quem casou em 2016 e teve seu primeiro filho, Francisco, hoje com quatro anos. Mais do que nunca, sua rotina como mulher de negócios ganhou algumas responsabilidades extras, as quais Beatriz sabe cumprir com êxito.
“Confesso que, ultimamente, tenho feito menos planos e deixado a vida me levar”, diz com bom humor. “Sou bastante controladora e ansiosa, então tirar essa pressão de querer mandar nos meus próximos passos está me fazendo muito bem.” Essa visão mais leve surgiu exatamente após a maternidade, mais especificamente quando teve seu segundo filho, que hoje tem apenas um ano. “São tantos pratos para equilibrar que eu mudei meu ponto de vista: em vez de tentar equilibrar todos, foco em suavizar o impacto dos que estão caindo.”
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Para ela, a urgência de quebrar a fantasia da rotina perfeita está muito clara. “Estou trabalhando de casa há mais de um ano. Durante a pandemia, nasceu meu segundo filho, enquanto eu ainda tenho que lidar com meu filho mais velho. No meio desse turbilhão de novos modelos, tive o privilégio e a honra de ser promovida e abraçar novos desafios”, conta, ressaltando que essa não é a melhor hora para agir como uma super-heroína de filmes infantis. “Tenho compartilhado bastante a minha realidade com outros líderes, com a minha equipe e pedido ajuda sempre que preciso. Neste momento, precisamos contar com as pessoas e, principalmente, apoiá-las.”
A comunicação, paixão de Beatriz desde o início da faculdade, é considerada por ela como um item essencial para um ambiente de trabalho saudável – principalmente nos dias de hoje. “Relacione-se com pessoas de diferentes áreas da empresa”, recomenda. “Quando eu trabalhava na Coca-Cola, marcava, pelo menos uma vez por semana, um almoço com algum colega de outra área. Além de conhecer mais sobre o desafio de outras pessoas, era um momento em que eu aproveitava para ampliar meus olhares e conhecimentos.”
A partir da troca de experiências e desabafos, Beatriz acredita que seja muito mais fácil trabalhar com sucesso. No cargo de liderança atual, por exemplo, ela pode motivar outras mulheres a buscarem suas cadeiras em grandes espaços. “Tenho o dever de continuar fomentando e inspirando outras mulheres para que batalhem e consigam alcançar seus sonhos. Sem sombra de dúvida, essa é minha maior motivação de carreira.”
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