Foi ao se preparar para uma prova de triatlo que Elisa Spader, de 32 anos, percebeu as opções limitadas que as mulheres brasileiras tinham quando o assunto era menstruação. “Na hora de fazer a inscrição, já me veio à cabeça: e se eu estiver menstruada no dia? Como vou pedalar e nadar assim?”, relembra a catarinense formada em biotecnologia pela PUC-PR. A dúvida se transformou em oportunidade de mercado e propósito: criar soluções menstruais alternativas de alta qualidade.
Era o quarto negócio da triatleta – antes, ela teve empresas de importação por mais de 10 anos, que não mais a deixavam realizada. O aprendizado, ela levou para o novo negócio. Foi mais de um ano e meio de pesquisa e desenvolvimento de produto, incluindo conversa com consumidoras para entender as queixas sobre os produtos disponíveis no mercado. Em junho de 2021, a Yuper foi lançada com dois itens principais, o coletor e o disco menstrual – acessórios reutilizáveis para o canal vaginal, que recolhem o sangue.
Os primeiros do Brasil a serem 100% recicláveis, segundo a marca, os acessórios feitos de TPE (material de uso médico) foram pensados para serem adaptáveis ao maior número de mulheres possível- e assim se tornarem parte de suas rotinas. “Percebemos que o maior problema das consumidoras era na hora de pôr e tirar o coletor. Por isso, adicionamos diversas features para facilitar isso: uma barra lateral para ajudar na hora de o coletor abrir, ranhuras na ponta para aumentar a aderência no dedo, um cabo em forma de palito para mais conforto”, explica Elisa.
Um copo menstrual pode durar mais de 3 anos. Por isso, traz vantagens econômicas para a consumidora e ambientais para o planeta. “Se fizermos uma conta, uma mulher gasta uma média de R$ 9 por mês com a menstruação. Se ela adota o coletor, esse gasto passa para R$ 2,75. Isso sem contar no impacto do meio ambiente, com menos acúmulo de lixo e CO2”, ressalta a CEO.
Há também uma questão social, especialmente quando o assunto é pobreza menstrual. “Temos uma parceria com um projeto muito bacana de Florianópolis, que é o ‘Menstruando Sem Tabu’. Nossa maior preocupação era fazer a informação chegar a essas mulheres em situação de vulnerabilidade, para que elas conheçam o coletor e saibam usá-lo da forma correta”, explica Elisa. “Não adianta nada doarmos 10 mil itens, é preciso educação também.”
O conhecimento é um dos pilares da marca, que investe em conteúdo explicativo sobre os coletores e os discos e a anatomia feminina – com vídeos de passo a passo, por exemplo, de como introduzir ou higienizar os produtos. Para isso, conta com um time de mais de 40 especialistas (desde médicas ginecologistas a psicólogas, nutricionistas e profissionais de educação física) para entregar textos quase que diariamente em um país onde cerca de 55 milhões de mulheres menstruam. “A estratégia é entregar um grande volume de informação de qualidade, abrindo o nosso leque e aproximando profissionais diferentes entre si, para que cada mulher possa se identificar mais com uma delas”, conta Elisa.
O plano de conteúdo não funciona apenas no blog e nas redes sociais da marca, mas no aplicativo próprio da Yuper. Desenvolvido especialmente com o objetivo de entregar informação às clientes, o app permite acompanhar as fases do ciclo hormonal feminino e registrar as características de cada uma delas – como intensidade do fluxo de menstruação, humor, sintomas da TPM, qualidade do sono, entre outros. “É o primeiro aplicativo do mundo a controlar o uso do coletor menstrual”, diz a empresária, em referência a ferramenta que alerta quando o tempo máximo de uso foi atingido (12 horas) e é preciso esvaziar e higienizar o acessório.
Dentro desta tática, existe um número que Elisa se orgulha e gosta de destacar: em menos de três meses de operação, a Yuper impactou mais de 14 milhões de brasileiras com seus vídeos. “Todas essas mulheres tiveram o primeiro contato com uma solução alternativa, o que já nos deixa superfeliz e só mostra o quanto ainda podemos fazer e crescer. Sei que estamos vindo para mudar a relação da mulher com a menstruação e que, daqui cinco ou dez anos, vamos ver uma menina no seu primeiro ciclo com uma relação bem mais sadia com ele e com o seu corpo”, diz a empreendedora.
Em menos de seis meses desde sua inauguração, a empresa reviu a projeção de faturamento: inicialmente com a expectativa de arrecadar R$ 10 milhões no primeiro ano, agora a meta foi elevada para R$ 12 milhões – junto ao intuito de impactar diretamente 100 mil mulheres com seus produtos.
CALCINHAS ABSORVENTES DA YUPER
Não foi apenas a meta de faturamento que a Yuper expandiu recentemente, mas o portfólio. Hoje (26), a marca faz seu segundo lançamento desde que chegou ao mercado, desta vez com calcinhas absorventes. “Essa novidade veio porque queremos dar opções menstruais e liberdade para as mulheres decidirem o que é melhor para elas. Nosso objetivo é ter um leque tão aberto de alternativas que elas possam encontrar tudo que precisam para um ciclo em uma única marca”, diz Elisa. “Muitas delas também não têm o conhecimento inicial para usar o coletor, então as calcinhas podem ser um primeiro passo mais fácil para aproximá-las da Yuper”.
Com três modelos diferentes, até o tamanho XXGG, a novidade chega ao mercado com uma tecnologia patenteada, desenvolvida especialmente para a marca. São três camadas, sem nenhum componente de plástico, que potencializam o poder de absorção e diminuem as chances de vazamento, segundo Elisa.
As calcinhas foram pensadas em detalhes: desde o sentido da absorção do fluxo de sangue (neste caso, ele escorre de cima para baixo, e não para as laterais) até bolhas de ar e um tipo de tecido repelente que evita escapes. Os modelos são: biquíni (R$ 64,90), tanga (R$ 69,90) e a pele (R$ 74,90).