Amanhã (27), pela primeira vez, a cerimônia do Oscar será apresentada por três mulheres: a comediante Wanda Sykes e as atrizes Amy Schumer e Regina Hall. Nas premiações, no entanto, as mulheres não têm uma presença muito expressiva. Diferentemente do ano passado, quando havia duas mulheres concorrendo ao prêmio de melhor direção, (Emerald Fennell, por “Bela Vingança”, e Chloé Zhao, a grande vencedora, por “Nomadland”, que também levou a estatueta de melhor filme), o Oscar deste ano tem uma diretora na lista dos possíveis premiados.
Jane Campion é a única indicada e também a favorita a receber o prêmio, pela produção da Netflix “Ataque dos Cães”, estrelada pelo ator britânico Benedict Cumberbatch. O longa é líder em indicações ao Oscar deste ano, com 12, e já levou os prêmios de melhor filme e direção para Campion no Bafta, da academia britânica de cinema. “Estou na torcida por Jane Campion, o filme dela é muito original no ritmo, na fotografia, na relação entre som e imagem”, diz Lúcia Monteiro, curadora, crítica de cinema e professora de roteiro na Universidade Federal Fluminense.
Os outros indicados ao Oscar de melhor direção são Kenneth Branagh, por “Belfast”; Paul Thomas Anderson, por “Licorice Pizza”; Ryusuke Hamaguchi, por “Drive My Car”; e Steven Spielberg, por “Amor, Sublime Amor”. “No Ritmo do Coração”, de Sian Heder, concorre a melhor filme, mas não rendeu indicações para a diretora.
As dificuldades de fazer cinema sendo mulher são inúmeras. “Desde chefiar equipes muitas vezes masculinas e em jornadas de trabalho de muitas horas até o desafio de conciliar essa carreira com trabalhos não remunerados que mulheres assumem, no cuidado com pais e filhos”, afirma Monteiro.
Nas premiações mais importantes do cinema, as mulheres não são maioria, nem mesmo representam a metade dos indicados. “Talvez isso só ocorra quando houver uma paridade de gênero na composição dos votantes, na direção dos festivais, e quando houver mais mulheres realizando longas metragens com grande orçamento”, diz a crítica de cinema.
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Em quase um século de Oscar, apenas sete mulheres foram indicadas ao prêmio de melhor direção e duas levaram a estatueta. “Cada conquista, Oscar, Palma de Ouro, Urso de Berlim ou troféu de outro festival importante que vai para uma mulher, encoraja outras mulheres a acreditar que é possível e inspira novas cineastas”, afirma Monteiro. Confira agora as outras diretoras que marcaram história na festa mais famosa do cinema.
Lina Wertmüller, “Pasqualino Sete Belezas” (1977)
A cineasta italiana Lina Wertmüller foi a primeira mulher indicada ao Oscar de melhor direção, na 49ª edição do prêmio, por “Pasqualino Sete Belezas”, que conta a história de um desertor italiano capturado por soldados alemães e levado a um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. O filme também foi nomeado nas categorias de melhor ator, roteiro e filme estrangeiro.
O longa não levou nenhuma estatueta mas, em 2019, Wertmüller recebeu o Oscar honorário, que reconheceu suas contribuições ao cinema, e foi homenageada com uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Ela morreu no ano passado, aos 93 anos, na Itália.
Jane Campion, “O Piano” (1994)
A diretora neozelandesa é a primeira mulher a receber duas indicações para o Oscar de melhor direção. A primeira delas foi na 66ª edição da premiação, pelo filme “O Piano”. Ele conta a história de uma escocesa que se muda com a filha para a Nova Zelândia na época vitoriana para cumprir um casamento arranjado e se apaixona por um negociador local que deseja seu piano.
O longa arrecadou US$ 140 milhões (cerca de R$ 672 milhões) e rendeu a Campion o prêmio de melhor roteiro original, além da Palma de Ouro, do Festival de Cinema de Cannes. A estatueta de melhor direção no Oscar daquele ano ficou por conta de Steven Spielberg, por “A Lista de Schindler”, que também levou como melhor filme. “O Piano” está disponível no TeleCinePlay.
Sofia Coppola, “Encontros e Desencontros” (2004)
Foram os “Encontros e Desencontros” de uma estrela de cinema (Bill Murray) e uma mulher (Scarlett Johansson) acompanhando seu marido em Tóquio que renderam à cineasta ítalo-americana Sofia Coppola uma indicação ao Oscar de melhor direção, em 2004. A filha do diretor de “O Poderoso Chefão” levou o prêmio de melhor roteiro original, enquanto o de direção ficou para Peter Jackson, por “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”. “Encontros e Desencontros” está disponível no TeleCinePlay, Star+, Net Now, Paramount+ e Globoplay.
Kathryn Bigelow, melhor diretora por “Guerra ao Terror” (2010)
A cineasta norte-americana Kathryn Bigelow se tornou a primeira mulher a levar o Oscar de melhor direção, na 82ª edição da premiação, em 2010, por “Guerra ao Terror”, que também levou prêmios de melhor filme, com Bigelow na produção, e em outras quatro categorias. O longa conta a história de um esquadrão antibombas enviado à Guerra do Iraque e concorria nas principais categorias com “Avatar”, um sucesso bilionário à época, dirigido pelo ex-marido de Bigelow, James Cameron, e que ficou com três estatuetas em prêmios técnicos. “Guerra ao Terror” está disponível na Netflix.
Greta Gerwig, “Lady Bird” (2018)
Só depois de oito anos, mais uma mulher foi indicada ao prêmio. A americana de ascendência alemã Greta Gerwig, hoje também conhecida pela nova adaptação de “Adoráveis Mulheres”, concorreu ao Oscar em 2018 por “Lady Bird”, seu primeiro trabalho solo de direção. O filme, estrelado pela atriz Saoirse Ronan, acompanha a vida de Christine McPherson em Sacramento, na Califórnia, e sua adolescência recheada de descobertas, turbulências e crises com os pais, namorado e consigo mesma. A estatueta foi para o mexicano Guillermo del Toro, por “A forma da água”. “Lady Bird” está disponível para aluguel no AppleTV+, na Amazon e no streaming da Claro.
Emerald Fennell, “Bela Vingança” (2021)
Em 2021, a diretora e atriz britânica Emerald Fennel foi indicada pelo seu primeiro trabalho de direção, “Bela Vingança”, que narra a jornada vingativa de uma mulher contra homens abusadores. O longa também foi indicado a melhor filme, montagem, atriz e acabou levando a estatueta por melhor roteiro original. Ele está disponível no TeleCinePlay.
Chloé Zhao, melhor diretora por “Nomadland” (2021)
O prêmio de melhor direção em 2021 foi para Chloé Zhao, a segunda mulher a receber a estatueta e a primeira não-branca, por “Nomadland”, que também levou o maior prêmio da noite, o de melhor filme. O longa, baseado no livro “Nomadland: sobrevivendo nos Estados Unidos no século 21”, da jornalista Jessica Bruder, acompanha as viagens de Fern (Frances McDormand), uma mulher na casa dos 60 anos, pelo oeste dos Estados Unidos, e seus encontros com nômades modernos.