Sozinha, uma mulher tem poder mas, coletivamente, as mulheres têm impacto. Esse é um ditado que venho retomando em conversas sobre como as mulheres podem aumentar a riqueza global e trazer empoderamento econômico para si mesmas e outros. De fato, a riqueza das mulheres está crescendo e há uma tendência de que elas queiram assumir e de fato assumam o controle de suas finanças, de acordo com uma pesquisa da empresa de serviços financeiros UBS.
Para discutir essa tendência, conversei recentemente com duas empreendedoras sociais de mercados emergentes, a indiana Ajaita Shah, CEO e fundadora da Frontier Markets, e Joanna Bichsel, CEO e fundadora da Kasha Global, com sede em Ruanda. Falamos sobre como o crescente poder financeiro das mulheres está trazendo impacto social positivo e crescimento sustentável para a economia global, por que é tão importante que as mulheres tomem decisões financeiras por conta própria e como abordar esses assuntos com investidores homens. Aqui estão alguns trechos das nossas conversas:
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Forbes: Ajaita e Joanna, por favor, contem sobre seus negócios e o que está acontecendo em seus países que reflete o crescente impacto financeiro das mulheres globalmente.
Joanna Bichsel: A Kasha é uma plataforma de varejo digital otimizada para a saúde e o autocuidado da mulher. Fornecemos acesso ao mercado de massa em toda a África Oriental e em mercados emergentes. A empresa começou porque percebemos que as mulheres são consumidoras extremamente intelectuais, mas quando falamos sobre saúde da mulher, muitas vezes isso é visto como um caso de caridade. As mulheres conduzem mais de 80% das compras feitas pelos consumidores. Também somos as maiores tomadoras de decisão quando se trata da saúde de nossas famílias. Esse mercado é bastante claro. É uma grande oportunidade.
Ajaita Shah: Na Índia, é muito semelhante. Temos 800 milhões de clientes que vivem na Índia rural, dos quais 51% são mulheres. As mulheres são a força de vendas mais inteligente em que você poderia investir porque são influenciadoras, mas também são confiáveis. Quando recebem a tecnologia e as ferramentas certas, elas coletam os dados mais incríveis que permitem criar insights profundos e que podemos usar para o bem e para criar e projetar soluções inovadoras.
Isso é o que a Frontier Markets fez: nos últimos 10 anos, evoluímos de uma empresa sem tecnologia, energia e sem inclusão de gênero para uma plataforma de comércio social com uma força de vendas feminina, atendendo uma infinidade de serviços de agricultura, finanças, saúde, serviços essenciais e clima, todos orientados por dados. É tudo feito por mais de 12 mil mulheres poderosas que ajudaram um milhão de clientes a encontrar soluções melhores para resolver seus problemas de vida de maneira lucrativa.
F: Vamos falar sobre investidores homens em negócios liderados por mulheres. Como as empreendedoras podem ganhar confiança para pedir capital?
JB: Quando abri uma empresa e levantei capital, não estava tão confortável. No entanto, à medida que o negócio cresceu, aumentamos a receita e nossas margens ficaram mais fortes do que a dos nossos concorrentes, e aí fiquei mais confiante. Você aprende com o tempo. À medida que você expande seus negócios, o importante é ter confiança em quem você é, no que construiu e no que faz. Sua confiança para pedir capital aumenta quando você tem os dados, a tração e o crescimento para te dar apoio.
AS: Quando você se senta na frente de investidores para pedir dinheiro, a confiança para entender que “somos iguais” é fundamental. A falta de confiança das mulheres está em pedir “apenas o suficiente”, em vez de pedir muito capital. Sempre pergunto ao investidor qual é a sua tese e o quanto e o que tem a oferecer. Mas vai além do capital: é também a estratégia, a parceria e a visão. Nós, como empreendedoras, representamos algumas das poucas empresas que dão lucro, crescimento, escala e impacto. Os investidores homens estão agora percebendo a estratégia por trás do elemento de inclusão de gênero.
F: O que você pode nos dizer sobre investir em negócios liderados por mulheres e como isso está crescendo e mudando?
AS: Está mudando de “por que fazer isso” para “como fazer isso”. É maravilhoso ver cada vez mais fundos pedindo ferramentas que permitirão avaliar organizações e empresas com uma visão mais profunda. Acho que ter fundos como GenderSmart, 2X Collaborative [comunidades de investidores em negócios de mulheres] e todas as iniciativas que realmente fornecem as ferramentas é bom para ver a mudança de “devemos colocar dinheiro atrás das mulheres” a fundos perguntando “como identificamos melhor os defensores da igualdade gênero”.
JB: Quando comecei a levantar fundos, em cerca de 99% das minhas ligações com investidores, eles perguntavam: “Por que você quer se concentrar em mulheres? Por que não abrir para todos?” Eles não tinham o entendimento de que se você conquista o coração e a mente das mulheres, você conquista o coração e a mente da maioria da população e do mercado. No começo, precisava explicar isso. Daqui a cinco anos, acho que vou ter que responder essa pergunta para talvez 10% das ligações com novos investidores. Não preciso mais explicar por que focamos nas mulheres e onde está a oportunidade com as mulheres. É um fato.
Também estou vendo mais mulheres envolvidas nas tomadas de decisão dos fundos de investimento. Há um claro entendimento de que elas têm um papel-chave no mercado. Elas tomam decisões e lideram fundos. É uma grande mudança – não há mais a mentalidade de que as mulheres são um caso de caridade, elas são uma grande oportunidade de negócios.
F: Qual o segredo para conseguir o “sim”, ou, mais especificamente, como vocês conseguiram o “sim” de investidores homens?
AS: Nos primeiros dias, tratava-se realmente de focar na história da pobreza e do impacto. Minha mentalidade era levar o mínimo necessário porque tinha que provar algo para o setor. Já hoje, falo sobre oportunidades de mercado e escala e por que esse é um negócio de um milhão de dólares. De repente você está falando uma língua muito diferente. É uma grande mudança. Isso mostra que você é capaz de gerenciar esse tipo de dinheiro e levá-lo a uma escala maior, o que deixa os investidores empolgados. Eles estão finalmente percebendo que as mulheres têm um histórico para respaldar a sua capacidade de levar os negócios para o próximo nível.
JB: Acho que a melhor coisa de ser empreendedora é o crescimento pessoal – você precisa se aprimorar de várias maneiras para expandir seus negócios. Para obter o “sim”, acho que é sobre tração. Uma fração dos fundadores homens têm o tipo de tração que estamos fazendo, mas estou aprendendo e ficando mais confiante porque sei que quando falamos que vamos realizar algo, nós realmente realizamos. Quando pensarmos grande e formos agressivas, conseguiremos esse “sim”.