A recente reunião anual de acionistas da Shell foi interrompida por acionistas ativistas que pressionavam a empresa a se voltar mais rápida e agressivamente para a energia renovável. Dezenas de ativistas usavam camisetas e forçaram o presidente da empresa a interromper a reunião por mais de uma hora, escreveu Steven Mufson nesta semana no Washington Post.
Sete dos 13 membros do conselho da Shell são mulheres. Um estudo de 2020 do Dr. Mark Goergen, da IE University, no Reino Unido, e membro de pesquisa do Instituto Europeu de Governança Corporativa, descobriu que “empresas com membros do conselho do sexo feminino usam mais energia renovável do que empresas com apenas homens no conselho.”
Goergen estudou as empresas norte-americanas do índice do mercado de ações americanas S&P 1500 entre 2008-2016 e percebeu que “a combinação de diretoras mulheres no conselho e o uso de energia renovável cria valor para os acionistas”. Não na Shell, aparentemente.
Mais mulheres em conselhos do que nunca
O novo Relatório de Membros do Conselho em 2022 nos EUA, da Heidrick & Struggles, descobriu que “as mulheres representavam um recorde de 45% das nomeações de diretores em empresas da Fortune 500”, lista com as 500 maiores corporações dos Estados Unidos por receita. E o número de novos diretores com experiência em sustentabilidade dobrou em 2021 para 14%, citando um foco maior no “propósito organizacional”, de acordo com um comunicado da empresa.
“Das mulheres que foram recém-nomeadas para os conselhos em 2021, 14% (29) tinham experiência anterior em ESG [práticas ambientais, sociais e de governança]. De 2020 a 2021, vimos a experiência das mulheres em ESG dobrar” , disse a equipe de Heidrick.
Os conselhos também estão procurando cada vez mais diretores fora das funções tradicionais de CEO/CFO/COO, bem como mais diversidade étnica, segundo o estudo, para trazer uma gama de experiências e perspectivas para a mesa – embora os números de diversidade racial no recrutamento de conselhos pareçam estar estagnados.
Pressões
Os conselhos e os C-Level estão sob uma pressão incomum devido à convergência dos impactos econômicos ainda persistentes da pandemia, especialmente nas cadeias de suprimentos e recrutamento; a guerra na Ucrânia obstruindo ainda mais essas cadeias e restringindo os mercados de energia e alimentos; inflação; os contínuos bloqueios de Covid na China; e a crescente ameaça das mudanças climáticas. O aquecimento global não para enquanto lidamos com outras questões econômicas.
O setor de energia está sendo pressionado por todos os lados, o que ficou evidente com a ação dos acionistas da Shell. O Acordo de Paris e os compromissos assumidos na COP26 em novembro do ano passado estão pressionando as empresas, especialmente as de combustível fóssil, a reduzir drasticamente suas pegadas de carbono e usar energias renováveis. A guerra da Rússia contra a Ucrânia está acelerando a transição da Europa para a energia limpa, ao mesmo tempo em que aumenta os preços do petróleo e do gás – e os lucros.
As mulheres no conselho melhoram o impacto ambiental?
Uma pesquisa da norte-americana Morgan Stanley Capital International, ou MSCI, mostrou que ter mais mulheres no conselho de fato reduz as emissões de carbono das empresas. Parece haver uma correlação entre pelo menos três mulheres que permanecem no conselho e empresas de vários setores reduzindo suas emissões de carbono.
De acordo com o estudo, as empresas dos setores de serviços financeiros, de energia e consumo que mantiveram um mínimo de três mulheres em seus conselhos por três anos ou mais reduziram mais suas emissões, em 7,8%, 6,6% e 6,0%, respectivamente.
Portanto, se as mulheres conselheiras ajudam ou não a reduzir o impacto ambiental da empresa depende, em parte, de quanto tempo elas permanecem nesses conselhos. “Descobrimos que, entre as empresas com diversidade contínua no conselho (ou seja, empresas que atualmente têm pelo menos três mulheres diretoras que serviram por pelo menos três anos), 33,3% alcançaram o status de líder (classificada AAA ou AA) nas classificações MSCI ESG”, disse a vice-presidente de pesquisa da MSCI, Christina Milhomem.
Para empresas que não mantinham pelo menos três mulheres no conselho, no entanto, “a porcentagem de liderança em ESG caiu pela metade – para 16,2% – e a porcentagem de atrasados em relação ao ESG mais que dobrou, para 23,8%.
Isso nos traz de volta à Shell.
Quatro mulheres estão no conselho da Shell há pelo menos três anos. No entanto, além dos protestos dos acionistas ativistas climáticos, uma importante funcionária de longa data renunciou citando a quebra dos compromissos de neutralidade de carbono da Shell.
Caroline Dennett rescindiu de seu contrato com a empresa após 11 anos, em protesto pelo que ela considera ações irresponsáveis da Shell em expandir a extração de petróleo e gás em vez de reduzir. Dennett postou no LinkedIn que “a Shell está plenamente ciente de que seus projetos contínuos de extração e expansão de petróleo e gás estão causando danos extremos ao nosso clima, meio ambiente, natureza e às pessoas. Não posso mais trabalhar para uma empresa que ignora todos os alarmes e descarta os riscos das mudanças climáticas e do colapso ecológico. Devemos encerrar todos os novos projetos de extração imediatamente e fazer uma transição rápida dos combustíveis fósseis para fontes de energia limpas e renováveis.”
Causa ou efeito?
Também não está claro se as mulheres tendem a ingressar em conselhos que já estão realizando esforços significativos para reduzir sua pegada de carbono ou se elas aceleram esses esforços. “Dada a novidade dos conselhos com diversidade sustentada, simplesmente não há dados suficientes para testar se a correlação implica causalidade”, disse Milhomem, da MSCI.
Sobre a duplicação de mulheres no C-Level em 2021, Bonnie Gwin, vice-presidente e sócia-gerente do escritório de Nova York da Heidrick & Struggles, disse que os conselhos estavam procurando um tipo diferente de liderança devido à Covid, aos movimentos de justiça social e às mudanças climáticas. “Existem tantas tendências e mudanças que afetaram todos em todas as esferas de nossas vidas, e isso também vale no âmbito dos CEOs”, disse ela.
A questão é: as empresas vão colocar mais mulheres nos seus conselhos, mantê-las por tempo suficiente e ouvi-las para que elas façam a diferença?
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