Ao longo de sua carreira de 28 anos na consultoria KPMG, onde é sócia e faz parte da área de inovação, Marienne Coutinho subiu relativamente rápido. Começou quando ainda estava na faculdade de direito na Unip, curso que bancava com o salário de vendedora em uma loja de shopping. Entrou como trainee, tornou-se a segunda mulher a ser sócia da companhia, colocou de pé no Brasil o KNOW, e rede de networking feminino criada pela consultoria no Brasil e no mundo, e foi uma das pioneiras no país a fazer parte do WCD (o Women Corporate Directors) órgão global que promove a diversidade de gênero em conselhos, formado apenas por altas executivas. “Um grupo que se iniciou com cerca de 20 mulheres tem atualmente 345 associadas, entre conselheiras e CEOs.”
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Durante a pandemia, Marienne ajudou a fundar o Conselheira 101, que prepara mulheres pretas para ocupar o board em corporações e já colocou 30% de suas formandas. Não é exagero dizer, portanto, que Marienne é a mulher que mais empoderou outras profissionais no Brasil, já que fez disso sua segunda carreira, à qual dedicou quase tanto tempo quanto ao seu trabalho remunerado. “Eu tenho certeza absoluta de que ninguém dedicou mais horas a essa tarefa do que eu.”
Networking e ascensão
Assumir esse papel de propulsora da liderança feminina não foi natural no início. Marienne veio de uma família sem muitos recursos, não fez uma faculdade de primeira linha e concorria com gente muito mais preparada. “Foram nove trainees junto comigo, gente da São Francisco ou da PUC. Eu não conhecia ninguém importante, mas tinha a resiliência de quem trabalhava 12h por dia de pé com uma roupa que detestava.”
Na época, ela estava tão preocupada com sua ascensão que mal teve tempo de perceber os obstáculos que enfrentou por ser mulher. E ao longo de sua carreira se deu conta de que outras fizeram o mesmo: ignoraram os problemas que tinham por conta da desigualdade de gênero. “As executivas gostam de contar sobre o dia em que se descobriram mulheres no ambiente profissional. No início, todas achavam que eram iguais aos homens, até que algo acontece e você percebe que só aconteceu porque você é mulher.”
A partir dessa consciência, Marienne Coutinho se dedicou a abrir espaço para outras. Na própria KPMG, onde as mulheres não chegavam aos cargos de liderança, apesar de serem metade dos trainnes, foi uma das que lutou para implantar salas de amamentação, políticas para levar bebês em viagens a trabalho, licença-maternidade remunerada para sócias e criar programas de inclusão para os talentos femininos.
Lideranças femininas foram inspiração
Ela se lembra que, há 15 anos, abria os jornais de manhã à procura de mulheres em cargos de liderança corporativa para criar o grupo de networking feminino com o qual sonhava. Anotava cada nome em uma planilha e ia em busca de um contato. “Na época, praticamente não existiam os grupos de afinidade e a temática feminista estava adormecida. Então não existia um mailing list.”
O primeiro encontro foi uma catarse. Eram mulheres mais velhas do que Marienne, gente do calibre de Chieko Aoki, dona da rede Blue Tree, e Andrea Alvares, que foi vp da Natura, e que deixaram de ser um nome no Excel para se tornarem companheiras de batalha. “Estar entre essas mulheres tão experientes foi muito bacana para minha visão de futuro profissional e para inspirar minha jornada.”
Sua dedicação se estende por várias frentes pelas quais Marienne circula e foi reconhecida mais uma vez, recentemente. No início do mês, a executiva foi apontada pela ONU Women como uma das mulheres no mundo que impulsionam outras com o prêmio “Rise and Raise Others”, que teve quatro brasileiras entre as ganhadoras. “Meu papel não é dizer a essas mulheres porque é importante subir e ocupar cadeiras em conselhos, mas mostrar aos homens o poder da contribuição que elas podem dar ao mundo.”
Onde ainda quer chegar
“Estou exatamente onde sempre quis estar”
Turning point da carreira
“Quando migrei de tributação internacional para a área de inovação”
Quem te apoiou
“Minha mãe”
Primeiro cargo de liderança
“Subgerente da loja Chocolate aos 16 anos”