A italiana Alessandra Elia está liderando, pela segunda vez, a união entre Montblanc e Ferrari, que dessa vez produziu uma série limitada de canetas projetadas em co-autoria por Flavio Manzoni, CDO (Chief Design Officer) da Ferrari.
Elia é diretora de cultura da escrita da fabricante de canetas alemã, liderou a aproximação entre as duas marcas icônicas na primeira collab, em 2021. Ela assumiu a direção da fabricante de canetas em 2018 e tem passagens pela L´Occitane e Burberry. “Trabalhar no mercado de luxo exige uma certa obsessão”, diz, sobre ter a pressão de produzir algo sempre melhor do que já foi feito.
Aqui, Elia fala sobre as qualidades necessárias para fazer carreira nesse mercado e sobre como vê o espaço para mulheres na liderança.
Forbes: Você conduziu uma aproximação entre duas marcas icônicas pela segunda vez nessa collab entre Montblanc e Ferrari. Que habilidades você usou para conduzir essa união?
Alessandra Elia: Com prazer. Eu conto a vocês um pouco da história. Há cerca de cinco anos, nos desafiamos a pensar. Com quem poderíamos fazer parceria? Por que, por um lado, somos muito conhecidos por nossos produtos icônicos e clássicos que todo mundo conhece bem. Mas também somos conhecidos por todas as novas histórias e o storytelling que criamos. Estamos sempre procurando histórias de grandes personalidades e de grandes marcas para que nossos consumidores redescubram algo. Então qual marca tem essa mesma relação com arte e ciência e com esse mesmo nível de luxo que a Montblanc tem? Nisso veio a Ferrari, pois eles também são líderes em seu mercado.
F: E como você fez essa parceria funcionar?
AE: Peguei um voo para Maranello, contei que somos os melhores no que fazemos e precisávamos fazer algo juntos. E foi mais ou menos assim… Ao pensar em escrita de luxo e ao pensar em carros de luxo e de alto desempenho, são essas duas marcas que vêm à mente. Mostrei o que criamos, eles ficaram impressionados e não precisou de muito esforço para convencer. Eles também estavam procurando parcerias com alguém que tivesse esse nível de excelência. Então, junto com nossos designers, criamos as formas de todo o conceito do instrumento de escrita para a primeira collab. Havia tantas ideias… Nessa segunda edição, invertemos um pouco os papéis. Na primeira vez, a gente liderou um pouco o design. E dessa vez, foi Flavio Manzoni, diretor de criação da Ferrari, que criou a forma e também o funcionamento da caneta.
F: Alessandra, você fez uma carreira em marcas de luxo. O que você acha importante para quem faz carreira nesse mercado?
AE: Acho que meu sucesso nessa carreira, em luxo principalmente, é ser extremamente ligado em excelência. Porque luxo é nunca desistir de fazer o melhor sempre, cada vez mais, ser obsessivo mesmo. Então por isso tem que ser algo que você realmente ame fazer. Ou não vai adiante, porque é o que esse mercado exige. Você precisa convencer a todos e levar todo mundo com você nessa jornada de querer fazer sempre com excelência. Você tem que saber como levar todos com você.
F: O que você acha importante passar para mulheres mais jovens que querem chegar a uma posição de liderança?
AE: Infelizmente não há tantas outras mulheres no topo ainda e eu gosto de mostrar que é possível. Eu participo de um grupo de trocas sobre como ser uma mulher neste lugar, gosto de conversar com outras mulheres sobre isso e de mostrar que é possível estar aqui da mesma maneira que um homem estaria. E não gosto de estereotipar os papéis. Não gosto de pensar que há uma maneira específica para uma liderança feminina agir. E, sim, acho que é importante entender que você pode ter tudo. Se quiser ser mãe, se não quiser…
F: E quais são as características que você cultiva em seu dia a dia?
AE: Acho que empatia é a mais importante na liderança. Procuro desenvolver uma conexão verdadeira com as pessoas que trabalham comigo. E não é algo que eu faça para conseguir algo em retorno. Às vezes, no entanto, isso se transforma em um comprometimento maior com a equipe. E exercito essa empatia não porque sou uma mulher, mas tento fazer disso uma assinatura de liderança que me permite criar laços com as pessoas que trabalham comigo e que já me seguiram em diferentes lugares.
F: Você falou em ser mãe. O que a maternidade trouxe para sua vida?
AE: Tenho um filho de 2,5 anos que pôs minha vida de ponta cabeça [risos]. Acho que ele mudou minha relação com o trabalho e mesmo meu estilo de liderança. Acho que posso olhar pras coisas com um pouco mais de distanciamento. Com a chegada dele, continuo cheia de opiniões e muito envolvida, mas vejo as coisas de um jeito diferente, talvez um pouco menos emotiva e colocando as coisas nos devidos lugares com mais eficiência. Acho que hoje penso melhor em momentos de stress. Ter um filho é o trabalho mais lindo da minha vida, ensina muito e me dá muito propósito.