O poder financeiro das mulheres em casamentos heterossexuais está crescendo, de acordo com um novo relatório do Pew Research Center. No entanto, mesmo com mais mulheres com salários iguais ou até superiores aos de seus maridos, esses mesmos dados mostram que a divisão do trabalho doméstico permanece desigual, com as mulheres gastando mais tempo em tarefas e cuidados com a casa do que seus cônjuges.
O novo relatório do Pew, divulgado na última quinta-feira (13), mostra que a proporção de mulheres que são as únicas ou as principais responsáveis pela renda da casa triplicou entre 1972 e 2022, de 5% para 16%. Nesse mesmo período, a porcentagem de casamentos “financeiramente igualitários” – em que ambos ganham entre 40% e 60% dos ganhos combinados do casal – aumentou de 11% para 29%. Entre esses casais, o Pew encontrou uma diferença salarial insignificante: as esposas nesses casamentos têm ganhos médios anuais de US$ 60 mil (R$ 296 mil), enquanto seus maridos têm salários médios de US$ 62 mil (R$ 306 mil).
>> Leia também: “Só a lei não resolve desigualdade salarial”, diz presidente da OAB/SP
À medida que o número de mulheres chefes de família e de parcerias financeiramente iguais aumentou, a proporção de relações em que o homem é o provedor da família diminuiu. Em 1972, os maridos traziam a maior parte da renda da casa em 85% dos casamentos heterossexuais. Hoje, esse número é de 55%.
O economista sênior do Pew, Richard Fry, disse à Forbes que os dados foram surpreendentes, considerando as tendências recentes no emprego e nos rendimentos das mulheres. A empresa de pesquisa informou em março que a disparidade salarial entre homens e mulheres mudou pouco em duas décadas, e Fry apontou para dados de emprego mostrando que a participação das mulheres casadas na força de trabalho atingiu seu pico no final dos anos 1990 e diminuiu ligeiramente nos anos seguintes.
“Quando penso em algumas das tendências mais amplas que estão ocorrendo, não esperava necessariamente que a influência das mulheres continuaria a aumentar em termos de suas contribuições econômicas.”
Uma grande razão para isso, diz Fry, é que nos últimos anos as mulheres têm ganhando mais diplomas universitários do que os homens, e hoje representam uma parcela maior da força de trabalho com nível superior. E os salários tendem a ser “fortemente influenciados” pelo nível de educação de uma pessoa. “A proporção de casamentos em que a esposa tem mais educação do que o marido está crescendo e tem aumentado nos últimos 50 anos.”
Mas as mulheres não têm a mesma probabilidade de ganhar mais que seus maridos. Segundo o Pew, mulheres negras são significativamente mais propensas do que brancas, asiáticas e hispânicas a terem casamentos nos quais recebem salários iguais ou maiores que seus maridos. Aqui, novamente, a educação é um grande impulsionador – as mulheres negras superam os homens negros no acesso a diplomas universitários –, mas de acordo com Bola Sokunbi, fundadora da comunidade de finanças pessoais Clever Girl Finance, a mentalidade empreendedora também está em jogo. “Mulheres negras especificamente abrem mais negócios do que qualquer outro grupo demográfico feminino”, diz ela. “Elas estão tentando retomar o poder.”
As mulheres podem estar retomando algum poder financeiro, mas divisões desiguais de cuidados e responsabilidades domésticas podem impedir que alcancem plenamente seu potencial econômico. Em casamentos igualitários, o Pew descobriu que os homens têm mais tempo em atividades de lazer ou relaxando (25,2 horas por semana) do que as mulheres (com uma média de 21,6 horas). Enquanto isso, as esposas registram uma média de 4,6 horas de trabalho doméstico em comparação com 1,9 hora de seus maridos. Adicione filhos a essa equação e as disparidades se aprofundam: em lares com crianças menores de 18 anos, as mulheres gastam 12,2 horas por semana cuidando das crianças, em comparação com as 9 horas de seus maridos.
O novo relatório do Pew faz alusão a alguns dos ressentimentos que podem surgir quando uma esposa ganha mais dinheiro do que seu marido. Quase metade de todos os americanos (48%) disseram que acham que a maioria dos maridos em casamentos heterossexuais prefere ganhar mais do que suas esposas, um dado que corrobora com outros estudos que mostram que o estresse emocional masculino aumenta quando suas esposas começam a ganhar mais de 40% da renda familiar total.
Sokunbi, que era a principal fonte de renda da casa no início do seu casamento, quando eles ainda estavam se formando, diz que é natural que os egos se interponham nesses casos, mas uma boa comunicação em torno do dinheiro e da divisão familiar de trabalho é essencial.
Ela também diz que a sociedade como um todo precisa evoluir e aceitar as mulheres com alto poder aquisitivo. “Acho que às vezes a resistência não vem de casa. Vem do mundo exterior”, diz ela. “Existe essa expectativa sobre o lugar da mulher na sociedade, admitamos ou não.”