Desde que entrou no JPMorgan como estagiária, há 26 anos, Silvana Montenegro acompanhou a evolução do termo “diversidade”, dentro e fora do banco. Mas foi apenas em 2020 que a área de DEI (diversidade, equidade e inclusão) da empresa deixou de estar sob o guarda-chuva de Recursos Humanos e passou a integrar todas as áreas da empresa, o que trouxe um novo cargo para a executiva. Com isso, foram criados grupos focados em mulheres, negros, pessoas com deficiência, LGBT+ e nos 40 mil latinos e hispânicos do banco, do qual Montenegro é líder global.
Essa mudança faz sentido tanto em termos sociais quanto econômicos. “Diversidade não é filantropia”, diz a executiva. Pelo contrário: estudos mostram que essa política está intimamente ligada a resultados financeiros, assim como o avanço profissional dos latinos. “Quando cheguei aos Estados Unidos, em 2001, a América Latina era uma região importante para o banco, mas não como é hoje”, diz a head do JPMorgan, banco que atua nesse mercado há mais de 120 anos e tem um argentino, Daniel Pinto, ocupando a presidência e diretoria de operações.
Os latinos nos EUA representam a 5ª maior economia do mundo, a 3ª que mais cresce e US$ 2,8 trilhões em PIB, de acordo com um relatório de 2022 da organização Latino Donor Collaborative. “Não estamos falando sobre latinos serem apenas futebol, música e comida maravilhosa, estamos falando sobre crescimento econômico.”
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Montenegro trabalha há dois anos para atingir esse potencial, impulsionando as carreiras de hispânicos e latinos dentro e fora do JPMorgan. Na América Latina, são 6.500 funcionários, sendo 1.200 no Brasil. E nos EUA, mais 35 mil colaboradores latinos. A executiva lidera ações de desenvolvimento profissional e crescimento financeiro para esse grupo no mundo todo, por meio de programas de carreira e mentorias adaptados às suas necessidades específicas. “Ajudamos os profissionais a serem mais assertivos em reuniões e a usarem as suas vozes, e isso está abrindo portas para que as pessoas tenham carreiras mais significativas.”
Uma das iniciativas de avanço profissional, lançada pelo seu time este ano, já tem membros em 20 países. O programa de mentoria voltado para latinos, que começou em 2022, teve mais de 1300 participantes na sua primeira edição. Esse trabalho, além de ser estratégico para o JPMorgan, toca em um lado pessoal de Montenegro, uma latina que chegou à alta liderança em um banco americano.
De São Paulo a Nova York
A executiva começou a carreira no Brasil, ainda na faculdade de psicologia da USP, em São Paulo, quando se deparou com um cartaz do programa de estágio do Chase Manhattan – que em 2000 se fundiu com o JPMorgan & Co. “Desde muito nova, eu tinha bem claro na minha mente que qualquer coisa que eu fosse fazer, eu queria que fosse internacional”, afirma Montenegro – daí o interesse na empresa americana.
Ela trabalhou para ser a 1ª estagiária de RH efetivada e, depois, venceu a timidez e insistiu para ser mandada para os Estados Unidos. Em 2001, aos 27 anos, desembarcou em Nova York sem amigos, família ou o namorado (hoje, marido), e na intenção de ficar no máximo 2 anos – que já viraram 20.
Assim que pisou nos EUA, estranhou ser vista como “hispânica”. O inglês era ótimo, mas com sotaque, o que a impedia de falar nas reuniões. Até que uma líder observou seu estilo “diferente, mas eficiente”. “Gastei tanta energia pensando no que eu dizia, como eu dizia, como eu me comportava, tentando me encaixar”, lembra Montenegro, que entendeu que podia fazer diferente. “Se um dia eu tiver que comprometer quem eu sou para subir na carreira, eu não vou subir.”
Em mentorias com brasileiras e outras latinas, ela trabalha os desafios enfrentados por não serem falantes nativas ou virem de uma cultura diferente. “Eu fui interrompida muitas vezes. As pessoas terminavam a minha frase porque eu não estava indo rápido o suficiente”, diz ela, que emendava um “deixa eu terminar” e concluía seu raciocínio.
Hoje, ela atribui grande parte do seu sucesso profissional ao fato de ter nascido no Brasil. “Às vezes, vemos certas características como deficiências, quando, na verdade, elas podem ser uma força”, diz a executiva, cujo trabalho é garantir que latinos como ela tenham a melhor oportunidade de crescimento no JPMorgan.
Insegurança não pode barrar
Nos seus 26 anos de JPMorgan, Montenegro assumiu diversos cargos dentro do RH, e se destacou ao prestar atenção no que seus chefes não olhavam. “À medida que encontrava essas brechas, minhas responsabilidades se expandiam.”
Quando a posição atual surgiu, não se candidatou, até que um mentor a incentivou e o chefe de diversidade da época praticamente vendeu a vaga para ela. “Venho de uma carreira de 24 anos em RH. No início, quando participava de reuniões em que discutiam negócios ou produtos bancários, não entendia nada.”
As inseguranças vêm, claro, mas não a impedem de agarrar as oportunidades que cruzam seu caminho. Quando foi chamada para liderar o setor de RH na abertura de um escritório na Colômbia, sorriu para o seu chefe à época e se mostrou animada. “Depois, peguei o elevador, desci e dei uma volta no quarteirão porque não conseguia respirar”, lembra ela, que enrolava no espanhol e mal entendia a legislação trabalhista, mas foi até o fim no projeto. “Eu tenho uma persistência que é quase teimosia. Falo ‘sim’ antes mesmo de pensar porque eu sei que vou encontrar uma maneira de fazer dar certo.”
Equilíbrio não é 50-50
Foi assim para construir uma carreira e uma família fora do seu país e longe da rede de apoio. “Lembro que tinha uma mulher mais experiente que me via no escritório até tarde e dizia: ‘Silvana, você não vai casar'”. Mas três meses depois de chegar aos EUA sozinha, seu namorado brasileiro abraçou seu sonho e se mudou para lá também. Hoje, eles têm dois filhos.
O trabalho exige que ela viaje muito. De passagem no Brasil, em maio deste ano, completava sua oitava semana consecutiva fora de casa. Para Montenegro, o equilíbrio nunca é 50-50. “Minha mentalidade é: ‘preciso ter um bom desempenho para causar impacto’. Se isso requer 50 horas de trabalho, então essa semana terá essas horas.”
E se passa muito tempo fora, o final de semana é totalmente dedicado aos filhos. “Precisamos aceitar que não somos supermulheres. No início, sobrou uma culpa. Mas estamos dando o exemplo de que podemos ter uma carreira, fazer o que quisermos, e que eles também podem fazer o mesmo.”
A jornada de Silvana Monteiro
Primeiro cargo de liderança
“Quando me tornei chefe de Aprendizagem e Desenvolvimento do JPMorgan para a América Latina.”
Turning point da carreira
“Quando fui nomeada a primeira chefe global da Advancing Hispanics & Latinos, uma função projetada para servir minha comunidade em nível global, tanto interna quanto externamente. Essa posição me levou a expandir meu conjunto de habilidades e zona de conforto, especialmente no que se refere à incorporação de diversidade, equidade e inclusão na forma como fazemos negócios.”
Quem me ajudou
“Tantas pessoas, incluindo um mentor de longa data que foi a primeira pessoa a me incentivar a desenvolver minha carreira além da América Latina há uma década e me incentivou a assumir minha função atual.”
O que ainda quero fazer
“Eu gostaria de ver muitos brasileiros e mais latinas em cargos de liderança em todo o mundo.”
Causas que abraço
“Para mim, tudo se resume à educação, dando às crianças acesso a oportunidades e aos jovens talentos a chance de ter uma carreira significativa. Sou membro do conselho da Hispanic Alliance for Career Enhancement, uma organização sem fins lucrativos dedicada a capacitar o desenvolvimento de carreira de latinos nos EUA.”
Minha formação
Psicologia na USP (Universidade de São Paulo)
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Quinzenalmente a Forbes publica a coluna Minha Jornada retratando histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso.