Surfista brasileira de ondas grandes e sete vezes vencedora do Billabong XXL Global Big Wave Award, Maya Gabeira está em uma missão diferente. Seus objetivos são tão ambiciosos que podem ser maiores do que a onda portuguesa de 22,4 metros que lhe rendeu um recorde do Guinness em janeiro de 2020 – quebrando seu recorde original de 2018 para a maior onda já surfada por uma mulher.
Como defensora dos oceanos e conservadora da natureza, integrante do conselho da Ong Oceana e premiada pela UNESCO na proteção dos mares, Gabeira tem a missão de salvar os oceanos da mesma forma que eles a salvaram: quando ela era uma criança asmática que, com 13 anos, começou a surfar.
Maya Gabeira começou a surfar com 13 anos. Veja fotos
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Jason Reposar/@repofoto Maya já venceu o prêmio da ESPN de Melhor Atleta Feminina de Esportes de Ação
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Ana Catarina/ @anacatarinaphoto Em 2013, a carioca teve um acidente quase fatal ao surfar
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Getty Images Maya surfando em uma onda gigante em Nazaré, em 2022
Maya já venceu o prêmio da ESPN de Melhor Atleta Feminina de Esportes de Ação
“Quando era mais jovem eu tinha medo do oceano, mas também me sentia atraída por ele”, diz. “É engraçado, minha família não gostava muito de praia, apesar de morarmos em Ipanema.”
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“Quando eu tinha uns 13 anos, mudei de escola e fiz amizade com um grupo de meninos. Eles eram todos surfistas e o amor deles pelo esporte entrou no meu coração. Nossos fins de semana eram sempre na praia e percebi que não queria apenas sentar e observá-los da areia.”
Esse foi o começo da história de Maya Gabeira como uma surfista entre os meninos.
Na escola de surf, Gabeira demorou bastante tempo para sentir-se à vontade numa prancha e para aprender a “ler” o mar. Ela se lembra vivamente do momento exato em que a curiosidade pelo esporte se transformou em amor nas ondas da Praia do Arpoador no Rio de Janeiro.
Tímida, mas muito ambiciosa, a força do oceano a inspiraria a desenvolver a força mental para conquistar seu lugar em uma profissão repleta de preconceitos. Ela começou a competir aos 15 anos e, apenas dois anos depois de começar, se tornou profissional. “Eu tive, e ainda tenho, que ser muito forte para me defender e pegar uma onda – às vezes contra 40 a 50 caras”, ela diz.
O renascimento da surfista
Em 2013, Maya Gabeira sofreu uma queda quase fatal no que ela chama de “a maior onda que já viu” – um “caldo” com o peso estimado de 144 toneladas sobre a surfista. O acidente aconteceu na praia de Nazaré, na costa de Portugal, o mesmo local onde ela iria quebrar o recorde mundial anos depois. Apesar de uma longa recuperação que consistiu em múltiplas cirurgias e traumas emocionais, o ícone do surf de ondas gigantes diz que os oceanos a salvaram.
“Devo minha vida aos oceanos”, diz ela. “Eles me ensinaram uma lição importante sobre resiliência. Os oceanos enfrentam inúmeras ameaças todos os dias, mas são resistentes. Com as precauções certas, os oceanos se recuperam quando as coisas dão errado. Eles não desistem e eu também não. Lutei, me recuperei e sobrevivi para surfar mais um dia. Por essa razão, vou defender os oceanos o máximo que puder.”
O empreendedorismo sustentável de Maya Gabeira
Apenas um ano após sua experiência de quase-morte, a vencedora do prêmio da ESPN de Melhor Atleta Feminina de Esportes de Ação estrelaria um comercial para a Oceana, defendendo a proteção do habitat marinho. Ela também desenvolveu a edição limitada de uma prancha de madeira com uma parte de todos os rendimentos sendo doados para a organização de conservação do oceano.
Gabeira ainda é fundadora da Blue Aya, a marca de protetores solares orgânicos que foi lançada em 2022 “para proteger o corpo e cuidar do mar” e oferece uma devoção otimista ao oceano. O manifesto da marca diz:
“Nascemos para quem gosta de se posicionar. Para quem assume seu papel na transformação do mundo. Para aqueles comprometidos com a mudança e ativos na construção do nosso futuro.”
A resiliência de Gabeira permitiu que ela continuasse perseguindo as causas que lhe eram caras, apesar de lutar com o trauma de sua experiência de quase morte.
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“Tive a sensação de que ia morrer. Depois disso, fiquei com medo de sair de novo. Com medo de que isso acontecesse novamente. Com medo de não ser bom o suficiente. Mas o medo é um grande motivador. O medo cria um senso de urgência e nos obriga a agir rapidamente e fazer as mudanças necessárias”.
Usando a influência para salvar os oceanos
Como surfista profissional há duas décadas e uma das surfistas mais influentes de todos os tempos, Gabeira observou em primeira mão os danos causados pela poluição marinha e a destruição da biodiversidade marinha – e passou anos usando sua plataforma para defender a mudança.
“As baleias não cantam porque têm uma resposta. Elas cantam porque têm uma mensagem”, ela postou no Instagram em abril de 2023, meses depois de aceitar o cargo de embaixadora da UNESCO para os oceanos e lançar seu livro autobiográfico infantil “Maya e a Fera”.
Ainda neste ano, Gabeira colaborou com uma organização de conservação dos oceanos brasileira e convenceu o iFood a reduzir o uso de plásticos descartáveis. Desde então, a empresa se comprometeu a eliminar 2,7 bilhões de itens de plástico descartáveis até 2025.
Gabeira continua a usar suas rede sociais para defender os esforços globais de conservação marinha, como o projeto da ONU para a proteção dos oceanos United Nations Decade of Ocean Science for Sustainable Development e a meta adotada na COP 2015 para ter 30% das terras e dos oceanos mundiais sob proteção ambiental e gestão eficazes até 2030.