Dezenas de milhares de mulheres islandesas fizeram uma greve de 24 horas na terça-feira (24) como protesto contra a desigualdade de gênero. Entre elas estava a a primeira-ministra, Katrin Jakobsdottir, que afirmou que a luta por tratamento igualitário avança muito lentamente, dentro e fora do país. “Ao olhar para o mundo inteiro, poderia levar 300 anos para alcançar a igualdade de gênero“, disse Jakobsdottir, de 47 anos, à rádio pública Ras 1.
Em toda a Islândia, escolas e bibliotecas foram fechadas ou funcionaram em horários limitados, já que funcionárias ficaram em casa, enquanto hospitais disseram que só lidariam com casos de emergência.
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A greve foi convocada para protestar contra disparidades salariais em relação aos homens e a violência de gênero, além de destacar o trabalho não remunerado, como o cuidado com as crianças, que frequentemente recai sobre as mulheres, afirmaram os organizadores.
Com o lema “Você chama isso de igualdade?” e composto por mulheres e pessoas não-binárias da Islândia, o protesto é a primeira greve de um dia inteiro desde um evento inaugural das mulheres há quase meio século. Em 1975, 90% das mulheres islandesas pararam de trabalhar para protestar contra a desigualdade de gênero.
“Estamos celebrando nossas precursoras, nossos modelos de igualdade”, disse a legisladora islandesa Thorgerdur Katrin Gunnarsdottir, de 58 anos. “Precisamos de igualdade, precisamos de justiça, precisamos de liberdade.”
Líder de igualdade de gênero
Com uma população de menos de 400 mil habitantes, a Islândia é considerada um dos países mais progressistas do mundo em termos de igualdade de gênero e lidera o índice de disparidade de gênero do Fórum Econômico Mundial há 14 anos consecutivos.
No entanto, em algumas indústrias e profissões, as mulheres ganham pelo menos 20% a menos do que os homens islandeses, de acordo com o Statistics Iceland.
“Este dia é para todas as mulheres na Islândia”, disse Sonja Rut Adalsteinsdottir, de 41 anos, que trabalha em uma empresa que produz equipamentos para a indústria de alimentos.
“Tenho sorte de trabalhar em uma empresa que paga igualmente tanto para mulheres como para homens, mas estou aqui pelas minhas filhas e por todas as outras mulheres neste país”, disse ela durante um comício na capital, Reykjavik. A mídia local informou que cerca de 70 mil a 100 mil pessoas participaram do protesto.
Um estudo da Universidade da Islândia descobriu que 40% das mulheres islandesas sofrem violência de gênero e sexual.
“Estamos buscando chamar a atenção para o fato de que somos chamados de paraíso da igualdade, mas ainda existem disparidades de gênero e uma necessidade urgente de ação”, disse Freyja Steingrimsdottir, uma das organizadoras da greve e diretora de comunicações da Federação Islandesa de Trabalhadores Públicos.
“Profissões lideradas por mulheres, como serviços de saúde e cuidados infantis, ainda são subvalorizadas e têm salários muito mais baixos”, disse Steingrimsdottir à Reuters na segunda-feira (23).