A advogada capixaba Fayda Belo tem hoje 1,8 milhão de seguidores – que ela chama de crimelovers – no TikTok e mais 384 mil no Instagram. Nada mal para quem fala de assuntos como legislação, direito das mulheres, equidade racial e constituição. Sem dancinhas, sem efeitos especiais, sem cachorrinhos fofos para chamar a atenção. Só vídeos em que comenta acontecimentos recentes. “O que me diferenciou, desde o começo da carreira, é que eu traduzo o ‘juridiquês’ para a linguagem popular, falo de leis de um jeito que todo mundo entende”, diz Fayda.
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O trabalho – e o alcance – rendeu um prêmio: no último sábado (24), Fayda recebeu o prêmio das Black Sisters in Law, grupo de advogadas negras, na categoria Direito Antidiscriminatório.
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Nem sempre a advogada teve essa intimidade com as câmeras. Na verdade, quando começou a exercer a profissão, há 10 anos, nem pensava em estar nas redes sociais. Essa virada começou durante a pandemia de Covid-19, quando passava mais tempo no Instagram e assistiu um vídeo em que uma garota relatava que seria “deserdada” pela mãe, quando essa descobriu que a filha era lésbica.
Diante da injustiça, Fayda Belo resolveu gravar o primeiro vídeo mostrando que, em termos legais, isso não podia acontecer. “Abri a câmera e gravei um vídeo pra explicar o que a lei diz sobre o assunto. E viralizou”, lembra. Depois disso, passou a madrugada vendo e revendo o tal vídeo para entender porque havia sido visto e compartilhado por tanta gente. “Percebi que as pessoas querem entender seus direitos, mas não entendem a língua dos advogados. A minha linguagem é inclusiva porque direito é para todo mundo.”
Essa é a ideia que norteia também seu livro, “Justiça para Todas – O que toda mulher precisa saber para garantir seus direitos”, lançado no ano passado, é um manual explicadinho de cada tipo de violência que mulheres podem sofrer com base na legislação, desde crimes contra o patrimônio a estelionato sentimental.
Equidade de gênero e raça = maior lucro
A atuação de Fayda hoje é voltada para a violência contra a mulher – e seus diversos recortes, com um foco mais forte em raça. “Quando falamos que uma mulher ganha 28% a menos que um homem branco, não estamos falando de todos os recortes: uma mulher negra ganha 46% do que eles recebem. São várias as realidades”, diz ela, que circula nos palcos corporativos para falar de equidade de gênero e de raça nas empresas e carreiras.
Entre seus clientes a consultoria PwC, Livelo e Zamp, empresa que controla o Burger King. Para cada ambiente, ela cria uma estratégia para trazer mais equidade, combater a violência – racial ou de gênero – e trazer esclarecimento aos profissionais. “Eu não falo apenas sobre segurança psicológica, eu falo sobre empresas plurais, que têm lucro 20% maior do que as outras.”
De vendedora de carros a advogada
Antes de ir para a faculdade de direito, Fayda Belo trabalhava como vendedora de automóveis em Cachoeiro do Itapemiriam (ES). Quando começou a estudar, com uma bolsa do Prouni, o marido, André, se dispôs a ficar responsável pela casa e filhos para que ela pudesse se dedicar à nova carreira. “Fui ganhar R$ 300 por mês para ser estagiária na Defensoria Pública e passei 4 anos aprendendo muito. Foram 5 anos usando roupas de brechó, mas valeram a pena.”
Hoje seu guarda-roupas mudou. Fayda Belo é assessorada por Luiza Brasil e recebe looks de grifes como Apartamento 03 e Isaac Silva para circular pelos principais eventos ligados à promoção da cultura e empreendedorismo negro. “Amo trabalhar mas também gosto de dar um close.”