Mais de três mil líderes globais se reúnem nesta semana em Davos, na Suíça, para o encontro anual do Fórum Econômico Mundial. Entre as lideranças de 130 países e um grupo seleto de palestrantes, estão brasileiras que discutem temas urgentes em painéis durante o principal evento da economia mundial.
“É não só uma oportunidade de fazer conexões, mas também de dar visibilidade à igualdade de gênero e ao Brasil”, afirma Maira Genovese, fundadora e CEO da MG Empower, citando que, em 2024, o Fórum de Davos teve 28% de participação feminina. A empreendedora é a única brasileira na agenda da World Woman Davos, que debate pautas de gênero durante o Fórum Econômico Mundial desde 2018.
O evento nos Alpes Suíços, que teve início na segunda-feira (20), define a agenda do ano e discute soluções para desafios atuais como mudanças climáticas, geoeconômicas e tecnológicas. A pauta central de 2025 é a “Colaboração para a Era Inteligente”. “Vamos observar como a IA está avançando e quais os benefícios para as empresas, mas também analisar os riscos e como a sociedade está reagindo”, diz Luana Génot, fundadora e CEO do ID_BR, sobre suas expectativas para o evento.
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A empreendedora, que participa de sessões em Davos, também espera debates em torno das prioridades do governo de Donald Trump. O presidente americano assumiu no mesmo dia da abertura do Fórum Econômico e também deve estar presente no evento.
O olhar da China em resposta ao retorno de Trump também deve fazer parte das discussões, aposta a fundadora do IB_BR, assim como a nova era após o cessar-fogo entre Israel e o Hamas e o protagonismo do Brasil na agenda de sustentabilidade. “Podemos aproveitar esse momento para convidar o mundo a olhar para o Brasil e investir no nosso país.”
O momento é propício: neste ano, Belém, capital do Pará, será palco da COP 30, o que coloca o país no centro dos debates. “O Brasil tem se posicionado como um importante player global, especialmente com a liderança da COP 30 no horizonte”, avalia Luana Ozemela, Chief Sustainability Officer do iFood. Ao lado de líderes políticos e empresariais brasileiros, a executiva participará de um painel sobre como o país se prepara para enfrentar desafios socioeconômicos, de transição energética e segurança rumo à Conferência das Nações Unidas, que acontece em novembro.
Abaixo, conheça algumas brasileiras que estão na agenda do Fórum Econômico Mundial
Luana Génot, fundadora e CEO do ID_BR
Nesta terça (21), a empresária Luana Génot participa de um painel sobre investimentos em diversidade e tendências para 2025. A sessão vai abordar como estratégias de negócios inclusivas também são relevantes para o desempenho das companhias. “É uma oportunidade incrível para levar a pauta racial à mesa de decisões globais”, afirma Génot, CEO e fundadora do ID_BR, ONG que promove ações em prol da igualdade racial e inclusão de pessoas negras no mercado de trabalho.
A brasileira é Young Global Leader, título concedido anualmente pelo Fórum Econômico Mundial a jovens líderes globais que contribuem em suas áreas e causam impacto positivo no mundo. Luana fundou o Instituto Identidades do Brasil em 2016. No último ano, a empresa criou a Deb, uma IA que promove diálogos e responde a dúvidas sobre igualdade racial. “A diversidade é um pilar do desenvolvimento econômico sustentável e social.”
O painel desta terça também conta com Ebru Özdemir, membro do conselho da Limak Holding, da Turquia, e Katy Talikowska, CEO da The Valuable 500, do Reino Unido, com moderação de Jochen Wegner, editor-chefe do Zeit Online, da Alemanha. A sessão faz parte do programa sobre o Futuro da Diversidade, Equidade e Inclusão do Fórum Econômico Mundial.
Luana Marques Garcia Ozemela, Chief Sustainability Officer do iFood
A executiva Luana Ozemela, líder de sustentabilidade do iFood, estará em um painel que discute o futuro do Brasil, também nesta terça. “Vou participar de cinco mesas, abordando temas como inclusão social, transição energética e o papel das plataformas digitais no combate às desigualdades, que estão diretamente conectados aos desafios e oportunidades que o Brasil enfrenta hoje.”
Ao lado dos brasileiros Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia; Luís Roberto Barroso, presidente do STF; Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro; Helder Barbalho, governador do estado do Pará; e com mediação de Ilona Szabó de Carvalho, cofundadora e presidente do Instituto Igarapé, vai abordar como o Brasil se prepara para enfrentar desafios socioeconômicos, de transição energética e segurança enquanto assume papéis globais, como a presidência da COP30. “O foco em temas essenciais, como inovação e mudanças climáticas, trouxe maior diversidade de participantes, incluindo mais líderes políticos e da sociedade civil”, diz. “Isso reforça a relevância do Fórum e aumenta a responsabilidade de contribuir de forma significativa.”
A executiva também está na agenda de sexta-feira, em fórum aberto que abordará como governos e empresas podem colaborar para a inclusão de grupos marginalizados. “Há um foco mais prático e urgente em soluções para transições energética e digital, bem como na construção de sistemas econômicos mais justos”, avalia sobre o caráter do evento global. O painel também será mediado por Ilona de Carvalho.
Ilona Szabó de Carvalho, cofundadora e presidente do Instituto Igarapé
A empreendedora social é fundadora do Instituto Igarapé, um think tank global focado nas áreas da segurança pública, digital e climática. Mestre em Estudos Internacionais pela Universidade de Uppsala na Suécia, foi fellow de políticas públicas na Universidade de Columbia em NY e é pesquisadora afiliada do Brazil Lab da Universidade de Princeton.
A brasileira também foi reconhecida como Young Global Leader.
Stefanie Ólives, advogada e Global Shaper
Na quarta, a advogada Stefanie Ólives participa de um fórum aberto sobre transição energética. Ólives atua em projetos e operações de energia e infraestrutura no Machado Meyer Sendacz e Opice. “Tenho acompanhado de perto os desafios e oportunidades que a transição energética apresenta para o país e para o mundo.”
O painel discutirá como a transição e o acesso à energia pode ser um fator relevante para o crescimento econômico e o desenvolvimento social. Na visão da advogada, o Brasil tem potencial para liderar essa transformação. “Precisamos garantir que o novo modelo seja mais eficiente, justo e traga impactos positivos de longo prazo, corrigindo desigualdades estruturais e promovendo um desenvolvimento sustentável que beneficie não apenas os grandes players do mercado, mas também as comunidades locais.”
Como Global Shaper e líder em empreendedorismo social no Fórum Econômico Mundial, ela liderou mais de 300 jovens em ações sem fins lucrativos, e deixa suas expectativas para o evento global: “Minha aposta para Davos é que as discussões avancem para um novo patamar, focando não apenas na descarbonização, mas também na necessidade de um sistema energético mais resiliente, descentralizado e acessível.”
O painel também terá a presença de Joyeeta Gupta, professor da Universidade de Amsterdam; Ipeleng Selele, presidente do conselho da Brand South Africa; Jozef Sikela, Comissário para Parcerias Internacionais da Comissão Europeia; e moderação de John Defterios, professor da New York University Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Maira Genovese, fundadora e CEO da MG Empower
A brasileira é fundadora da MG Empower, agência de marketing baseada em Londres. Genovese saiu do Brasil há mais de 20 anos e se mudou para a capital britânica sem falar a língua ou ter uma rede de apoio. Trabalhou em lojas e pubs e começou uma carreira na indústria da moda e luxo. Mais de uma década depois, fundou a agência.
Durante o Fórum Econômico Mundial, a World Woman Foundation, organização sem fins lucrativos e uma comunidade global de líderes mulheres, promove uma agenda de igualdade de gênero reunindo líderes políticas e empresariais. Genovese vai participar de um painel sobre o poder da economia criativa em prol da igualdade. “Não acredito que seja possível incluir igualdade de gênero em uma agenda de questões globais sem um olhar atento para a presença feminina no espaço.”
Em 2024, cerca de 28% dos participantes do Fórum Econômico Mundial eram mulheres. “Por mais que haja otimismo em torno desse número, ele revela que ainda há muito trabalho a ser feito.”
As expectativas da empreendedora para os temas que devem nortear o evento vão além das discussões geopolíticas e ambientais. Em plena era da inteligência artificial, o foco deve estar na colaboração e na valorização do ser humano como elemento central. “Acredito que veremos uma nova perspectiva sobre o papel da tecnologia, junto ao entendimento de que, sem investimento no fator humano, não conseguiremos criar soluções sustentáveis para o futuro.”