O estudante do Ensino Médio Vinnícius Rodrigo tem uma rotina diferente dos garotos da sua idade. Aos 17 anos, ele se divide entre as aulas no colégio e o cargo de CEO na startup Cordel, que cria alternativas de ensino e aprendizagem por meio de jogos e experiências lúdicas que unem empreendedorismo e educação.
Filho de uma auxiliar de cozinha e de um frentista, Vinnícius conta que tudo começou quando entrou na Escola Técnica Estadual Cícero Dias, no Recife, onde vive com a família. A unidade faz parte do Núcleo Avançado em Educação (Nave), uma parceria do Oi Futuro com a Secretaria de Estado de Educação de Pernambuco e do Rio de Janeiro. A iniciativa tem como foco o estímulo às economias criativa e digital e, para isso, mantém espaços de criação e experimentação de metodologias pedagógicas inovadoras, disseminadas para escolas de todo o país por meio de publicações digitais distribuídas gratuitamente e da formação de mais de 1 mil educadores das redes públicas de 53 municípios dos dois estados em cursos sobre uso de tecnologias, robótica educacional e midiaeducação.
Foi nesse espaço que Vinnícius passou a ter contato mais direto com a tecnologia e a desenvolver projetos. “No Ensino Fundamental, eu estudava em uma escola de bairro e não tinha tantas informações técnicas. Eu sabia que a tecnologia estava presente no meu dia a dia, mas não via o seu potencial relacionado à economia criativa”, conta, revelando, ainda, que era uma aluno tímido. “Mas fui bastante encorajado por alguns professores para começar a desenvolver projetos. Fui então começando a me interessar pelo empreendedorismo.”
Todo esse estímulo fez com que o estudante se aprofundasse em programação. A startup nasceu de um projeto de fim de semestre de Vinnícius e seus amigos centrado no game “O Pequeno Cabra da Peste”, um jogo com visual da literatura de cordel e que leva para o ambiente do sertão as aventuras de um pequeno príncipe em versão nordestina. A iniciativa foi ampliada para o desenvolvimento de games, aplicativos e aprendizagem e consultoria em gamificação.
O projeto do segundo ano do Ensino Médio fez com que Vinnícius fosse selecionado para participar de um programa de dez semanas de aceleração no Porto Digital, na capital pernambucana, um dos principais centros de inovação do país, em parceria com o British Council. “Esse passo foi essencial para começarmos a nos posicionar como startup”, conta.
A empresa agora já pode ser contratada por clientes reais para desenvolver jogos digitais e analógicos, aplicações mobile e consultoria educacional em gamificação, com o objetivo de criar ambientes de aprendizado com maior engajamento estudantil e novas ferramentas de ensino por meio do universo lúdico e metodologias ativas.
A startup também participa de diversos programas de mentoria e preparação de ONGs para compartilhar a iniciativa de empreendedorismo com outras escolas. “Fomos descobrindo que nosso modelo de negócio é trabalhar com educação, levando os jogos para estimular o engajamento de estudantes e professores”, conta o jovem empreendedor. “Eu vi uma oportunidade de disseminar essa experiência que tive na escola entre educadores e alunos.”
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O estudante também participou da elaboração de um guia digital voltado para educadores e gestores das redes públicas e privada lançada ontem (8) para mostrar como conectar empreendedorismo de impacto social e escola, incorporando o tema às práticas pedagógicas e ao dia a dia dos alunos. “Quero mostrar como essa cooperação entre educador e agentes da sociedade pode potencializar as ferramentas que a gente tem dentro da sala de aula.”
A pouca idade do empreendedor, responsável por gerar certa desconfiança em algumas situações, não assusta o CEO mirim. Segundo ele, o preconceito vai embora no momento em que as pessoas conhecem o trabalho da Cordel. “Elas começam a achar que temos 32 anos e já estamos no mercado de trabalho há algum tempo”, brinca. Ao mesmo tempo em que pode ser um empecilho, a juventude, para Vinnícius, traz proatividade e ousadia. “Empreendedorismo é mais do que o simples fato de abrir uma empresa. Obviamente está ligado a isso, mas é sobre saber se posicionar. Acho que uma característica comum é a vontade de querer impulsionar, de fazer alguma coisa.”
O mais recente feito de Vinnícius foi a seleção, entre os 15 primeiros colocados, no evento Peter Drucker Challenge, na Áustria, na categoria de empreendedores e gerenciadores. Por conta da pandemia, no entanto, a participação terá que ser online. O estudante também foi aprovado em uma academia de liderança na Colômbia.
A lição que fica da história de Vinnícius é a da importância da estrutura escolar na formação do ser humano. O jovem empreendedor atribui suas conquistas ao forte apoio dos professores, tem convicção de que a educação pode melhorar a realidade brasileira e faz questão de manter as origens. “Tenho contato com a minha antiga professora para trabalhar aspectos capazes de desenvolver mais a tecnologia. Até já fiz um projeto para conectar as escolas de bairro aos ecossistemas de inovação. Se a gente tiver essa conexão, veremos uma geração empreendedora surgir dentro das salas de aula.”
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