Os meses desde o início da pandemia tem sido intensos para Ana Fontes. A presidente da Rede Mulher Empreendedora (RME), que realiza hoje (6) o segundo dia do fórum anual da organização, aumentou a abrangência de sua atuação com um modelo que inclui capacitação, conteúdo, aceleração, mentoria e capital para mulheres à frente de seus negócios.
Desde a emergência do novo coronavírus, a RME arrecadou mais de R$ 40 milhões de parceiros como Itaú, Bradesco e Santander para alavancar suas diversas iniciativas, que já atingem 750 mil mulheres em território nacional. Movimentos recentes incluem a expansão de um modelo de capacitação que vai treinar mais de 50 mil mulheres para a economia digital nos próximos 24 meses e o Potência Feminina, que tem o apoio do Google e escolherá 180 negócios liderados por mulheres a cada três meses para receber uma doação de R$ 10 mil cada.
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A intenção da RME é que a captação ultrapasse os R$ 100 milhões em 2021, segundo Ana, para fazer com que os programas de empreendedorismo da organização cheguem em 2 milhões de mulheres: “Somos a única entidade que faz esse trabalho focado em mulheres no mundo, e queremos atrair mais empresas com a visão de que é possível causar um impacto gigantesco através da responsabilidade social e da inovação”, ressalta.
Ana faz parte da W20, plataforma da Organização das Nações Unidas cujo foco é tratar questões de igualdade de gênero e empoderamento feminino nas 20 maiores economias do mundo. Segundo ela, empresas tem um papel crítico na promoção da diversidade e no apoio da inovação, através de programas que apoiam mulheres a participarem de uma economia hiper-digital. Por outro lado, a especialista acredita que o governo também precisa agir, em áreas como políticas de acesso a crédito, de inclusão de meninas e mulheres em carreiras relacionadas à tecnologia.
Apesar de seu trânsito entre tomadores de decisão no universo corporativo e sua voz no debate de políticas públicas, Ana diz que o diálogo com o governo não tem sido fácil: “A gente não consegue falar na palavra gênero, ou de políticas afirmativas para incluir mais mulheres na economia e promover o desenvolvimento delas, porque esse governo não acredita nisso”, aponta.
“Temos um canal aberto com o G20 no Brasil e temos colocado essas questões em pauta, mas não temos políticas efetivas e nem vontade para isso. Mas é impossível pensar em uma estratégia de inovação para o país e não incluir mulheres neste desenho”, acrescenta, referindo-se ao plano a ser criado por um comitê interministerial como parte da Política Nacional de Inovação, publicada através de decreto presidencial no mês passado.
Outros pontos nevrálgicos apontados por Ana e que precisam ser endereçados incluem a falta de um ambiente nacional integrado de educação empreendedora e um espaço de geração de negócios entre grandes corporações e empreendedores: “A Fundação Getulio Vargas, o Insper, a Fundação Dom Cabral estão entre as instituições que atuam neste sentido mas ainda não vemos um ambiente conectado no Brasil em educação. O mesmo pode ser dito sobre a conexão de empreendedores com as grandes empresas”, ressalta.
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“Nós conseguimos, como Rede Mulher Empreendedora, atender uma parcela das mulheres que querem tocar seus negócios, mas não com tudo o que elas precisam. É necessário que o acesso a crédito para mulheres seja melhorado, bem como a conexão ao mercado e a capital de inovação. O governo tem condições para isso”, ressalta.
Apesar destas limitações, a presidente da RME aposta no crescente foco das empresas em melhores práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês, como são conhecidas internacionalmente): “Não podemos mais, como instituições, esperar que só o governo faça seu papel, estabelecendo políticas de inovação, inclusão e diversidade. As grandes empresas têm um papel e responsabilidade de apoiar o avanço destes temas, não só para a sociedade, mas para impulsionar sua própria mudança.”
Segundo uma pesquisa do Sebrae com a Fundação Getulio Vargas (FGV), empreendedoras foram mais ágeis na hora de implementar inovações a seus negócios e mais de 70% delas utilizam canais digitais para vender. Por outro lado, mostram-se mais pessimistas quanto ao retorno a algum tipo de normalidade para seus negócios. Ana diz não acreditar em um “novo normal”, mas na necessidade da construção de um novo ambiente, pautado em diversidade:
“Daqui a um ano, quero poder constatar que a situação de mulheres Brasil afora está sendo apoiada por mais empresas. Empreender é isso, não é um otimismo bobo de quem fica sentado, esperando as coisas acontecerem. É um otimismo com movimentação.”
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