O setor de tecnologia vive um grande desafio: oferta de profissionais qualificados. De acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias (Brasscom), até 2025, o Brasil deve criar 797 mil novas vagas relacionadas, no entanto, faltarão profissionais para ocupar 532 mil delas. Neste contexto, é muito comum que as próprias empresas de tecnologia desenvolvam programas de formação de desenvolvedores e programadores, por exemplo. Porém, o número de empresas tradicionais buscando atrair mão de obra de tecnologia qualificada, vem incentivando que elas criem seus próprios programas.
Na semana passada, a Globo, em parceria com a Cesar School, lançou o programa ‘Globotech Academy’ cujas inscrições ficam abertas até 14 de janeiro. É a primeira vez que a empresa oferece um programa de formação para pessoas com foco na área de tecnologia. O objetivo é acelerar e desenvolver as competências e habilidades dos profissionais de desenvolvimento de software com nível júnior, buscando alavancar suas carreiras. Ao todo, serão oferecidas 40 bolsas.
A Globo vem investindo em outras iniciativas neste sentido. Trabalharam com a PrograMaria, negócio de impacto social de formação e engajamento de mulheres na tecnologia. Outras parcerias aconteceram com comunidades como Afropython, UX para Minas Pretas e em eventos como o Potências Negras Tec. A Resilia, com foco em pessoas de baixa renda, a TOTI, que trabalha com formação de refugiados e imigrantes e o Educatransforma, programa de formação com foco em pessoas trans, também foram iniciativas apoiadas pela empresa que vem se estruturando como uma midiatech.
A rede varejista Magazine Luiza anunciou, em novembro, seu novo programa de formação em tecnologia, o Desenvolve 40+. O projeto, em parceria com a escola de programação Let’s Code, ofereceu 100 bolsas de formação em tecnologia (Python) para pessoas com 40 anos ou mais, sendo que 50% foram destinadas a pessoas autodeclaradas pretas ou pardas, além de serem abertas ao público interno da empresa. A formação abrange desde os primeiros conceitos de programação até os níveis complexos da linguagem Python.
Por que empresas tradicionais investem em formação para tecnologia?
Rodrigo Terron, COO da Rocketseat e Forbes 30 Under 30 2021, explica que há alguns anos, a maior parte das empresas se posicionava como sua atividade fim e não como companhias de tecnologia. Com o tempo e a evolução dos dispositivos mobile, desenvolver tecnologia se tornou mais acessível e isso colocou a figura do desenvolvedor no centro do processo. “O fato é que a formação de desenvolvedores não acompanhou esse mesmo ritmo e a grade curricular das universidades sempre esteve atrasada em relação às constantes mudanças tecnológicas, isso gerou o princípio do problema de falta de mão de obra.”
“A partir de 2014 o Brasil passou a entrar no mapa das startups e isso também impacta diretamente na questão de mão de obra. Startups nascendo e recebendo investimento geraram um efeito de transformação nas empresas tradicionais e acelerou mais uma vez a necessidade de investimento em grandes times de tecnologia dentro das empresas. Com a chegada da pandemia, um problema que já era latente foi potencializado: a evasão de profissionais para oportunidades internacionais (mesmo estando no Brasil). Todos esses fatores foram suficientes para atribuir para as empresas uma responsabilidade que originalmente não é do mercado, a de formar como estratégia para atrair e principalmente reter profissionais”, explica.
A Rocketseat, por exemplo, já auxiliou empresas como Globo, Riachuelo e Suzano na oferta de bolsa para estudos de tecnologia. “Definitivamente essa estratégia vai se potencializar, pois as empresas têm investido em ter times de educação tecnológica e usando educação como estratégia de employer branding”, conclui Terron.