O motivo de o Facebook ter se tornado Meta, em outubro de 2021, e impulsionado a indústria em torno do chamado metaverso, é o mesmo que ajudou as ações da Meta terem desvalorização recorde ontem, (3). Os papeis da dona do Facebook caíram 26,39%, o que fez a empresa perder US$ 237,6 bilhões (R$ 1,26 trilhão) em valor de mercado, a maior desvalorização de uma companhia em um único dia já registrada na história de Wall Street. Até então, o recorde era da Apple, que perdeu US$ 182 bilhões (R$ 963,8 bilhões) em 3 de setembro do ano passado.
A divisão que desenvolve o metaverso é origem direta de investimentos da empresa e fonte expressiva de prejuízos nos últimos anos. Em 2019, a área teve US$ 4,5 bilhões (R$ 23,7 bilhões) de perdas. No ano seguinte, 2020, foram US$ 6,6 bilhões (R$ 34,8 bilhões) e, em 2021, esse valor saltou para US$ 10,1 bilhões (R$ 53 3 bilhões).
De acordo com análise da XP Investimentos, desenvolvida pelos analistas Vinicius Araújo, Jennie Li e Rafael Nobre, existem alguns desafios na construção do metaverso. “Apesar dos milhões que estão sendo gastos em NFTs, ainda é cedo para imaginar uma substituição de itens físicos, como automóveis e casas por suas versões digitais. Tal mudança envolveria uma transformação cultural de longo-prazo”, pontua a análise.
Além disso, conforme aponta o estudo, para ser adotado em massa, o metaverso terá que oferecer uma experiência mais robusta que os atuais conteúdos digitais, de mídia e e-commerce, que seguem em constante evolução. “A nova tecnologia necessitará de investimentos massivos em uma infraestrutura capaz de oferecer um ambiente de transações, logística de entrega de produtos físicos, bem como desenvolver novas formas de publicidade direcionada.”
Por fim, o lado da privacidade também impacta: “O metaverso será capaz de armazenar ainda mais dados sobre as pessoas, que podem resistir a compartilhar mais informações digitais do que já permitem. Neste sentido, também é difícil imaginar que órgãos reguladores sejam mais permissivos do que vimos nos últimos anos.”
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Thiago Lobão, fundador e CEO da Catarina Capital, explica que o metaverso se fortaleceu com os resultados da Meta. “Na prática, e mesmo abrindo mão dos lucros em prol de investir nessa nova indústria, a Meta sinaliza que está, de fato, levando a sério a dinâmica de apostar em novos tipos de interações baseadas em realidade aumentada e virtual. Vale reforçar que, diante das quedas desta quinta-feira, (3), não significa que a empresa enfraqueceu em relação à capacidade de gerar caixa. O longo prazo vai dizer se foi uma decisão acertada, mas eu reforço que a empresa sinaliza seu empenho para ser protagonista do metaverso”.
Mudança de nome e bilhões destinados ao metaverso
Quando mudou o nome da empresa, em outubro, Mark Zuckerberg, destacou que a nova marca institucional da empresa seria Meta. “Somos uma companhia que desenvolve tecnologia para conectar e, juntos, podemos colocar as pessoas no centro dessa tecnologia e desbloquear uma economia de criadores mundo afora”, afirmou.
Zuckerberg explicou que a nova marca não abrange totalmente o que o ecossistema de Facebook entrega. “Neste momento, Meta está ligada a um produto em especial, que é nossa aposta no metaverso, mas, aos poucos, esperamos ser vistos como uma empresa com foco em várias soluções desse universo”, afirmou.
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Meta e a construção de um super computador
Os investimentos para o metaverso por parte da Meta incluem, inclusive, computação quântica. A Meta anunciou, em janeiro, que sua equipe de pesquisa montou um novo supercomputador de inteligência artificial que poderá ser “o mais rápido do mundo quando concluído ainda neste ano”. A Meta disse que seu novo AI Research SuperCluster (RSC) a ajudará a montar melhores modelos de IA e podem aprender com trilhões de exemplos, trabalhar em centenas de idiomas e analisar texto, imagens e vídeo para determinar se o conteúdo for prejudicial.
O que é metaverso?
Segundo Álvaro Machado Dias, professor livre-docente de neurociências da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integrante do painel global de inovação tecnológica do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), o metaverso permite que iniciativas que estão no mundo físico se propaguem para os ambientes digitais. “É a criação de um ecossistema com propriedades relacionais profundas e eficientes para pessoas que estão separadas geograficamente”, explica.