Em março de 2020, três dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter decretado a pandemia da Covid-19, o South by Southwest (SXSW), festival de inovação realizado em Austin, no Texas, que começou na sexta-feira, 11, e vai até o dia 18, decretava suspensa sua edição às vésperas do primeiro dia. O cancelamento do evento, bem como o impacto financeiro na empresa responsável, fez com que o festival passasse por dificuldades o que culminou, em abril de 2021, na venda de 50% das ações para a PMRC, dona das revistas Rolling Stone e Billboard.
Após dois anos sem versão presencial, o SXSW retornou em 2022 com muitas expectativas. Para Austin esse é o momento mais importante, já que são gerados mais de US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) em receitas para a cidade. Líder dentre as comitivas estrangeiras nas últimas edições, o Brasil perdeu o posto desta vez para o Reino Unido. No entanto, segue sendo o destino de muitos profissionais brasileiros em busca de tendências, além de startups que têm na área de inovação e tecnologia uma plataforma importante de visibilidade e negócios.
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Antonio Camarotti, publisher da Forbes Brasil, que acompanha o evento presencialmente há alguns anos, reforça o crescimento notável do festival em relação às edições anteriores. “Quando estive pela primeira vez, em 2014, eu já achava que era um dos eventos com maior quantidade de conteúdo. Acompanhei nos anos seguintes um crescimento considerável, mas neste 2022, tudo está maior e isso é muito representativo, principalmente pelo fato de ser o primeiro grande evento presencial no pós-pandemia”, afirma.
Etienne Du Jardin, cofundadora e CPO da startup de live-commerce Mimo, que mantém um estande nesta edição, explica que o SXSW possibilita a discussão e a compreensão de inovações e maneiras diferentes de se fazer negócios. “Um ambiente onde algumas das mentes mais inquietas do mundo estão dispostas a trocar e dividir sobre diferentes abordagens para os assuntos do nosso cotidiano. Ou seja, um espaço fértil para insights de negócios e novas ideias. A música, o cinema, a tecnologia, as novas metodologias e a cultura que cada parte do mundo traz para mesa nas discussões. Acredito que, além dos brasileiros gostarem do evento para aprender, cada vez mais pessoas estão indo ao SXSW para mostrar que nosso país também é um polo de criatividade, tecnologia e inovação”, afirma a executiva.
Olhar para o futuro
Uma das principais características do SXSW, apontadas pelos participantes, é a capacidade do evento de reunir em seus palcos grandes tendências. Ana Paula Passarelli, fundadora da agência de influência Brunch, explica que o investimento dos brasileiros vem de várias motivações. “Eu sou a líder de uma empresa da creator economy e estou sempre atenta para onde o farol está apontando. E esse farol vem mostrando caminhos para a Web3. Aqui mora um desejo de descobrir como a descentralização da internet vem se desenhando e como poderei atuar de maneira assertiva, propositiva e democrática nela, ajudando todos os nossos clientes a fazerem a travessia da Web 2.0 para a Web3 da melhor maneira possível.”
Ana Paula também reforça a importância trazida pelo festival sobre o equilíbrio entre tecnologia e o humano. “Busco por parceiros e referências que expressam de maneira equilibrada como a tecnologia pode ser nossa melhor aliada e não uma inimiga. Como a fundadora de uma martech, busco para nossa operação de marketing de influência não cair no mesmo erro que tantas outras empresas caíram oferecendo escala desmedida para um serviço onde o olhar humano é importante para encontrar influência de verdade.”
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Franklin Costa, fundador do hub de inovação OCLB, que envia comitivas para o SXSW há mais de dez anos, ressalta que existe uma linha transversal de interesses. “Diversas indústrias, executivos e empreendedores vão até o SXSW para descobrir novidades e oportunidades, se atualizar e ampliar seus repertórios, a prova é a quantidade de palestras e lives no estilo download que acontece após o festival, ou o fato do festival criar neste ano uma nova track chamada 2050. Em um segundo nível, existem os interesses específicos de cada indústria ou setor. Empreendedores da área de tecnologia buscam investidores e assuntos relacionados à startups e à track Tech Industry. Profissionais de marketing e comunicação vão até o SXSW para se relacionar com clientes, pesquisar ativações de marcas e conferirem os conteúdos de tracks como Advertising & Brand Experience e Design. Esse último grupo, tradicionalmente, é o maior entre os brasileiros nos últimos anos de SXSW”.
Marketing e publicidade
Além de profissionais de startups, o SXSW também atrai o mercado publicitário brasileiro, como sinalizou Franklin Costa. Douglas Nogueira, diretor de planejamento da agência Talent Marcel, reforça que o apetite do Brasil pelo futuro contribui para um número considerável de comitivas brasileiras por lá. “O fato desse futuro parecer nunca chegar, também nos mantém em uma eterna busca para encontrá-lo. É preciso fazer uma ponderação aqui, olhar para o futuro é uma posição de privilégio, infelizmente, e não corresponde à realidade da maioria dos brasileiros que estão focados em resolver problemas básicos do presente. Consciente da minha posição de privilégio e responsabilidade, o futuro sempre esteve conectado, para mim, em melhorar a vida das pessoas. De uma forma mais inteligente, mais barata, mais rápida. É sobre negócios, mas em um país como o nosso, não pode ser só sobre isso. Usar a tecnologia para dar escalas aos negócios e piorar a vida das pessoas nos mantém presos em um passado que nos condena. E o SXSW também traz essas provocações.”