O tema dominante dos últimos meses na tecnologia tem sido inteligência artificial, sobretudo com a ascensão do ChatGPT, sistema de inteligência artificial da Open AI. A atenção recebida por grandes empresas, como Microsoft, também vem despertando vários questionamentos sobre o funcionamento da tecnologia. Dentre vários conceitos relacionados está o de algoritmo do pensamento explicado por Álvaro Machado Dias, mestre, doutor, pós-doutor e professor associado livre-docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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Inspiração no cérebro humano
“Os algoritmos baseados em inteligência artificial tiveram como pontapé inicial o Perceptron (1958), um sistema de aprendizagem digital muito simples, inspirado no funcionamento dos neurônios. Isso inaugurou a tradição de sistemas de aprendizado de máquina inspirados no nosso cérebro. Até recentemente, sempre foi assim: esses softwares eram inspirados e respondiam aos nossos inputs. Porém, a explosão no uso das redes sociais e web, com seus algoritmos de recomendação, mudou esse cenário. De uma hora para outra, começamos a agir de modo a extrair o máximo desses algoritmos, e.g., postando coisas curtas e superficiais (ao invés de textões) e fazendo dancinhas já conhecidas para surfar a sua popularidade”
Algoritmo o pensamento
“A via de mão dupla criada com os algoritmos tornou-se ubíqua, transcendendo o campo do entretenimento. Um dos seus efeitos foi a alteração no próprio funcionamento do cérebro, como ilustrado por um par de estudos com taxistas ingleses. Em 2000, ressonâncias do cérebro mostraram que estes profissionais tinham o hipocampo hipertrofiado pela necessidade de aprender o mapa londrino, que é altamente complexo; em 2017, a replicação do procedimento mostrou que o ganho havia sido revertido. O diferencial foi o uso do Waze. Algoritmo do pensamento é este processo de moldagem da mente/cérebro pelas tecnologias algorítmicas. Isso afeta as nossas tomadas de decisão (decidimos bem menos), raciocínio, memória de trabalho e, acima de tudo, preferências.”
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ChatGPT e derivados
“Os algoritmos de linguagem como o ChatGPT deverão levar a algoritmização do pensamento a níveis hiperbólicos. Trata-se de algo que precisa fazer parte do debate público pois irá impactar o neurodesenvolvimento, a vida profissional e mesmo a maneira como os idosos se relacionam com o mundo (a algoritmização para combater a solidão é estratégia N.1). O nosso objetivo é discutir esse tema contigo, apresentando o estado da arte na questão, além de ideias inéditas e especialmente pertinentes para o contexto brasileiro”