Há cinco meses na liderança da operação da Intel no Brasil, Claudia Muchaluat tem uma carreira multidisciplinar. Egressa da IBM, onde atuava na divisão de consultoria, Claudia atuou por vários anos também na IBM, chegando a ser, de 2015 a 2019, Chief Digital Officer da companhia na América Latina. Agora, como líder de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, avaliada em US$ 118 bilhões, em um de seus 10 principais mercados, a executiva vê um momento de desafios antes às readequações estruturais no segmento, fruto do cenário macroeconômico, mas destaca um contexto especial no que diz respeito ao Brasil.
De acordo com Claudia, a escassez de semicondutores que assolou a economia global nos últimos três anos ficou para trás no contexto da Intel. Atualmente, a empresa mantém o foco em reduzir a dependência da Ásia ampliando as operações nos Estados Unidos e América Latina, para isso, conta com suporte à produção global na Costa Rica e México. Sobre o papel do Brasil neste contexto, ela reforça os investimentos recentes da companhia, sobretudo na parceria com universidades e com projetos que passam, principalmente pela formação de mão de obra qualificada para suportar um novo momento da tecnologia no mundo.
“Ainda que pensemos somente no hardware quando o assunto é Brasil, nosso foco aqui é transformar o negócio como um todo. Investimos em três centros de pesquisa avançada focados em inteligência artificial, saúde e cidades inteligentes. Cada um deles em parceria com empresas âncoras de seus respectivos segmentos e tendo as universidades como parte importante em reduzir o déficit de mão de obra especializada. Esse movimento coloca o Brasil como estratégico também nesse momento global da companhia”, explica Claudia.
A Intel Brasil também direcionou R$700 mil, em 2022, na parceria com o Instituto da Oportunidade Social (IOS) e a Dell Technologies que tem como foco auxiliar a recolocação no mercado de trabalho. O projeto já está no terceiro ano e conta com 892 formados, dentre eles, jovens com idades entre 15 e 29 anos, professores e pessoas com deficiência. À Forbes Brasil, Claudia comenta o atual contexto econômico e a crise entre as empresas de tecnologia, além da escassez de semicondutores que, no contexto de Intel, ficou para trás.
Forbes Brasil – Em que estágio chegamos em relação à crise dos semicondutores que preocupou a indústria de tecnologia nos últimos três anos?
Claudia Muchaluat – A Intel prevê que até 2030 os semicondutores representarão mais de 20% dos custos dos veículos. Sem contar games, internet das coisas. Os semicondutores estão cada vez mais presentes na nossa vida e é absolutamente normal que a gente tenha que colocar investimento e estratégia em suprir essa demanda. Hoje, na Intel, não temos problema mais em equilibrar demanda com cadeia de suprimentos. Estamos atendendo mercados com vários parceiros. Nestes últimos anos desafiadores, estruturamos um ecossistema de parceiros que foi muito relevante para lidar com o contexto.
FB – Existe um movimento para reduzir a dependência da China em relação a produção dos semicondutores?
Claudia – Hoje, 80% da demanda global é atendida por fábricas na Ásia, a ideia é que consigamos ter uma cadeia de suprimentos global mais segura. No caso da Intel, temos, atualmente, na Costa Rica e no México, parques relevantes de fabricação que vai nos ajudar neste movimento de lidar com a demanda. Além disso, também trouxemos para a região o desenvolvimento de propriedade intelectual, pesquisa e desenvolvimento massivo. Também reforçamos a continuidade de investimentos em novas fábricas nos Estados Unidos e União Europeia que são de US$ 20 bilhões e 33 bilhões de euros, respectivamente.
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FB – O Brasil terá um papel relevante neste novo contexto?
Claudia – Ainda que pensemos somente no hardware quando o assunto é Brasil, nosso foco aqui é transformar o negócio como um todo. Investimos em três centros de pesquisa avançada focados em inteligência artificial, saúde e cidades inteligentes. Cada um deles em parceria com empresas âncoras de seus respectivos segmentos e tendo as universidades como parte importante em reduzir o déficit de mão de obra especializada. Esse movimento coloca o Brasil como estratégico também nesse momento global da companhia.
FB – O ecossistema de tecnologia vive um momento delicado no que diz respeito a demissões e readequações, isso chega até a Intel também?
Claudia – Na pandemia, as demandas cresceram de forma muito acelerada e de uma maneira que o mercado não havia monitorado. Hoje, vivemos um cenário macroeconômico desafiador e complexo. Eu diria que é um momento de readequação necessário. Muitas decisões globais que acabam impactando operações inteiras. Além disso temos um contexto de Guerra da Ucrânia que também tem impacto. Mas ao mesmo tempo, no longo prazo, temos um aumento massivo no consumo de microinformática e mesmo com um cenário de demanda mais reprimida, no longo prazo nossa vida estará cada vez mais digital.
FB – A Intel passou por um processo recente de readequação que optou por, ao invés de demitir, ajustar salários, no caso do Brasil, e em especial no déficit de vagas de tecnologia que vivemos, qual é, de fato, o contexto em termos de demanda ou não por mão de obra?
Claudia – Se comparamos o que as escolas formam versus o que o mercado demanda em termos de profissionais capacitados, sobretudo pela demanda com IA, iot, blockchain, computação quântica e outras tecnologias, estamos com um déficit muito grande. Precisamos de 100 mil profissionais ao ano para lidar com esse contexto, em cinco anos, meio milhao de profissionais. E o grande desafio é formar essa mão de obra. No caso do Brasil, temos várias iniciativas com nossos parceiros para lidar com essa questão. A Intel Brasil também direcionou R$700 mil, em 2022, na parceria com o Instituto da Oportunidade Social (IOS) e a Dell Technologies que tem como foco auxiliar a recolocação no mercado de trabalho. O projeto já está no terceiro ano e conta com 892 formados, dentre eles, jovens com idades entre 15 e 29 anos, professores e pessoas com deficiência.