Imagine a seguinte cena: enquanto você almoça, uma gota de ketchup de repente se transporta de um ponto em seu prato para outro. Por incrível que pareça, isso não faz parte de um filme da Pixar. Você está comendo em um prato projetado para fazer a comida “dançar”.
Cientistas do Laboratório de Jogos da Universidade de Monash, na Austrália, projetaram o prato para oferecer experiências de jantar lúdicas e interativas. Ele é equipado com uma placa de eletrodos controlada por software que pode ser pré-programada para fazer com que alimentos líquidos, como molhos e condimentos, se movam em direções diferentes.
Os pesquisadores chamam o sistema de “Delícias Dançantes”.
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“Cozinhar e comer é mais do que simplesmente produzir um prato e facilitar a ingestão de energia”, disse o professor Floyd Mueller, especialista na interação entre humanos e computadores da universidade australiana. “Trata-se de compartilhar, cuidar, criar, desacelerar e se expressar, e as ‘Delícias Dançantes’ têm como objetivo destacar essas virtudes em um momento em que são frequentemente esquecidas.”
O prato tecnológico se baseia no conceito de “alimentação computacional”, a ciência de combinar alimentos com dados e tecnologia para refeições mais envolventes e saudáveis. Outros objetos já surgiram desse campo experimental, como um garfo que muda de forma de acordo com a rapidez com que uma pessoa come e um garfo que pode detectar a quantidade de água nos alimentos — ambos utensílios surgiram no MIT Media Lab.
“A integração de alimentos e computação transformará a maneira como entendemos tanto a computação quanto os alimentos, não como duas coisas muito diferentes, mas como uma nova fronteira que combina o melhor de ambos”, disse Mueller. Entre os projetos passados do Laboratório de Jogos de Esforço da Monash está uma sobremesa interativa, que permite às pessoas em uma mesma mesa alterarem os sabores antes de comer.
A equipe das “Delícias Dançantes”, que inclui pesquisadores do Laboratório de Matéria em Transformação da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, e do Gaudi Labs, na Suíça, imprimiu com tecnologia 3D quatro pratos que medem cerca de 9 polegadas, o tamanho de um prato comum. Eles transformaram os pratos em pistas de dança para os alimentos usando uma tecnologia chamada “eletroumectação”, que envolve a aplicação de tensão a pequenos volumes de líquidos para estimular o movimento. (Ou seja, não espere ver hambúrgueres dançantes, pelo menos por enquanto.)
“Embora a tecnologia não manipule diretamente itens de comida sólida, o design criativo do prato nos permite usar itens líquidos em sinergia com sólidos”, explicou Jialin Deng, um candidato a doutorado da Monash no departamento de computação centrada no ser humano. “Por exemplo, gotas de comida podem ser usadas para transportar uma folha de manjericão pelo prato ou dissolver uma pitada de pó de café.”
Os pesquisadores acreditam que tais cenários têm o potencial de enriquecer a indústria de hospitalidade com experiências inovadoras. Ao direcionar a localização da comida no prato usando seus eletrodos, que podem ser ligados e desligados individualmente, os chefs podem animar suas criações culinárias para contar histórias ou transformar as porções em uma espécie de arte performática.
Como parte da pesquisa das “Delícias Dançantes”, a equipe realizou oficinas para que os chefs pudessem experimentar o sistema. “Realmente conseguimos interagir com os sentimentos e movimentos do cliente”, disse Matthew Birley, um dos chefs participantes.
Os chefs criaram dois pratos. O “Yin & Yang” situa molhos pretos e brancos em padrões opostos para capturar a essência do equilíbrio, e o “Balé de Sabores”, que envolve um conjunto coreografado de alimentos que leva os degustadores a uma jornada sensorial. Não se preocupe com o gosto dos eletrodos, uma camada isolante os protege de tocar diretamente na comida.
A Worksmith, empresa australiana de inovação para a indústria de hospitalidade, apoiou a pesquisa das “Delícias Dançantes”, junto com o Conselho Australiano de Pesquisa, e está trabalhando com os cientistas para levar a configuração para restaurantes em “um futuro próximo”, conta Mueller. Mas os acadêmicos imaginam que seus pratos vão chegar a mesas além dos restaurantes, possivelmente nas mãos de crianças entediadas com suas ervilhas e cenouras.
Se os pratos se tornarem populares, os pais podem dizer frases raramente ouvidas nas mesas de jantar em família: “Crianças, comecem a brincar com a comida.”
(Traduzido por Caroline De Tilia)