A controladora do TikTok, a chinesa ByteDance, lançou discretamente quatro novos aplicativos de IA generativa para usuários fora da China. Cici AI, Coze, ChitChop e BagelBell foram todos lançados nos últimos três meses e, juntos, já têm milhões de downloads.
Os três primeiros são plataformas que permitem aos usuários criar e compartilhar seus próprios chatbots. Já o BagelBell cria enredo e texto de histórias de ficção de acordo com as escolhas dos leitores.
Mas a ByteDance não construiu os modelos de linguagem que os alimentam. Os aplicativos contam com a tecnologia GPT da OpenAI, dona do ChatGPT, acessada por meio de uma licença do Microsoft Azure, de acordo com Jodi Seth, porta-voz da ByteDance.
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Como funcionam os apps
Nos sites dos novos aplicativos e em seus termos de licença, não há menção à ByteDance. Três deles são administrados pela Spring (SG) Pte. Ltd., uma nova subsidiária da ByteDance, e o quarto pela Poligon Pte., subsidiária que já publicou romances eróticos na web e videogames para a ByteDance no passado.
O Cici e o ChitChop são focados principalmente em entretenimento, oferecendo bots baseados em personagens fictícios e companheiros românticos, enquanto o Coze fornece bots destinados a simplificar tarefas no trabalho. O Cici é o mais popular até agora, com mais de 10 milhões de downloads, de acordo com a Google Play Store.
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Corrida da IA generativa
Os aplicativos parecem fazer parte dos esforços da ByteDance para enfrentar seus concorrentes no campo da IA generativa. A empresa também lançou uma ferramenta de IA para gerar vídeos curtos e tem tentativas de construir um gerador de imagens de IA semelhante ao Midjourney e Dall-E.
O Facebook lançou sua própria linha de chatbots baseados em celebridades em setembro passado, e o Snap incorporou um chatbot de IA ao Snapchat em abril.
Todas as gigantes de tecnologia estão trabalhando para desenvolver seus próprios negócios de IA generativa, com a Microsoft construindo assistentes de IA para muitas de suas ferramentas de software, graças à parceria de US$ 10 bilhões com a OpenAI.
Além disso, o Google lançou um novo modelo de linguagem Gemini para competir com o GPT-4 e a Amazon integrou produtos de IA generativa à Alexa.
Onde os apps estão disponíveis
Dos quatro novos aplicativos da ByteDance, apenas um – o Coze – está atualmente disponível nos EUA e nenhum está disponível na União Europeia. É comum que as gigantes de tecnologia testem produtos primeiro em mercados menores, com menos regulamentações, antes de expandirem para os EUA e a UE.
Questionada sobre os planos da ByteDance para os aplicativos, Seth disse que estão “ainda em fase de testes” e se recusou a compartilhar mais detalhes sobre os planos da empresa.
Não está claro se esses aplicativos seriam ou poderiam ser integrados ao TikTok, embora este ano a ByteDance tenha feito um teste que integrou um chatbot de IA chamado “Tako” ao TikTok.
A ByteDance tem um histórico de lançamento de aplicativos em formato de teste e, em seguida, desativa qualquer um que não funcione. Antes de liberar o TikTok nos EUA, a empresa lançou (e eventualmente descontinuou) um aplicativo de curiosidades, um de gifs engraçados e um agregador de notícias.
Seus negócios em todo o mundo continuam a crescer e a mudar. Atualmente, tem um concorrente do WhatsApp na África, um do Spotify no Sudeste Asiático e um do Twitter que foi recentemente descontinuado no Brasil.
Embora esses quatro aplicativos de inteligência artificial generativa estejam focados nos mercados internacionais da empresa chinesa, a ByteDance também lançou apps de IA na China, começando com o chatbot de IA Dou Bao. O aplicativo foi lançado em agosto, após a ByteDance receber aprovação do governo. Regulamentações chinesas exigem que os bots na China estejam de acordo com os “valores socialistas fundamentais” do estado chinês – o que muitas vezes significa seguir as diretrizes de censura do governo.
Acesso a dados sensíveis dos usuários
Não é surpreendente que a ByteDance também esteja lançando aplicativos de IA generativa nos mercados ocidentais, dado o recente aumento da demanda por bots e o grande sucesso da ByteDance com o TikTok.
Mas isso pode motivar mais fiscalização por parte dos reguladores, já preocupados com a possibilidade de o governo chinês usar os funcionários da ByteDance para recolher informações privadas sobre estrangeiros, ou usar o controle da empresa sobre dados dos usuários para transmitir mensagens pró-China.
Todos os quatro novos aplicativos da ByteDance usam políticas de privacidade (também presentes em outros apps da empresa) que dizem que podem compartilhar informações do usuário com outras “entidades dentro do nosso grupo corporativo”.
Seth, porta-voz da ByteDance, confirmou que os dados dos usuários podem ser acessados por funcionários da ByteDance na China, sujeitos aos controles de acesso e processos de aprovação da empresa.
Testando os novos apps de IA generativa
Em nossos testes, o Coze e o Chitchop forneceram descrições úteis do massacre da Praça Tiananmen em 1989 e de outros temas sujeitos à censura do governo chinês, embora ambos os bots tenham tido dificuldades (não ideológicas).
Como o BagelBell cria histórias fictícias, não testamos seu conhecimento histórico, mas pedimos que criasse uma história sobre Xi Jinping brincando em campos de flores com o ursinho Pooh, e o app obedeceu.
Quando a Forbes tentou criar uma conta para testar o Cici, que foi projetado para se parecer exatamente com o DouBao, o aplicativo deu erro repetidamente. Consequentemente, não conseguimos testá-lo.
Os reguladores também levantaram preocupações sobre o governo chinês usar IA para roubar propriedade intelectual de empresas estrangeiras. Em dezembro, o portal de notícias The Verge relatou que a ByteDance estava usando os modelos de linguagem da OpenAI para criar o seu próprio – uma clara violação dos termos de serviço da OpenAI. Posteriormente, a OpenAI suspendeu o acesso da ByteDance à sua API (Interface de Programação de Aplicativos, em português).
Seth disse que a ByteDance está usando a OpenAI por meio de uma licença do Microsoft Azure, que dá acesso ao GPT. A OpenAI não respondeu a um pedido de comentário até o momento de publicação da reportagem.