Além da inteligência artificial para o monitoramento do desempenho de atletas, da igualdade de gênero entre competidores e do break dance como categoria esportiva, a Olimpíada de Paris 2024 trouxe à tona outra novidade: a criação de conteúdo em tempo real na Vila Olímpica.
Se você abriu o TikTok, o Instagram ou o YouTube nos últimos dias, provavelmente se deparou com vídeos de bastidores do evento, de equipes treinando, medalhistas após as competições e até comentários de celebridades do esporte sobre a alimentação em Paris.
“As redes sociais fizeram com que alguns eventos fossem transmitidos para o público sem nenhuma mediação. Quando você assiste alguém falando sobre um assunto em primeira pessoa, existe uma sensação de proximidade”, explica Issaaf Karhawi, doutora em Ciências da Comunicação pela USP e professora titular em Comunicação da Universidade Paulista.
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Após conquistar a medalha de bronze no skate, Rayssa Leal entrou em uma trend de comemoração no TikTok, onde os usuários dublam uma fala do rapper Kanye West: “Todo mundo gostaria de saber o que eu faria se não ganhasse… Eu acho que nós nunca saberemos.”
O conteúdo da jovem skatista já conta com mais de 9.5 milhões de visualizações e 2 milhões de curtidas. Assista:
@jrayssaleal♬ original sound – findgodye
Todas as atletas brasileiras da ginástica artística feminina, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares, Lorrane Oliveira e Rebeca Andrade, ultrapassaram a marca de 1 milhão de seguidores no Instagram após competirem.
Júlia Soares, a caçula da equipe, tinha apenas 56 mil seguidores no início da Olimpíada, Agora, acumula 1,6 milhão — número que não para de subir.
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No entanto, isso não é sinônimo de oportunidades. Para ingressar na creator economy, conquistar contratos com marcas e até possíveis patrocinadores, os atletas precisam “manter constância”, comenta Rafa Lotto, head e sócia da YOUPIX.
“Para influenciar, é preciso criar. Ou seja, encontrar um espaço na agenda para entender que tipo de conteúdo funciona e, principalmente, entender o que essa nova audiência quer ver. As marcas, infelizmente, costumam ter grande interesse no esporte (e nos atletas) em momentos de grande visibilidade, depois, dificilmente mantém patrocínios e publicidade com o mesmo apetite”, diz a especialista.
Além da visibilidade, as redes possibilitaram o acesso a pontos de vista diversos sobre os Jogos Olímpicos. Com alguns cliques, os usuários podem consumir informações em tempo real sobre a alimentação dos atletas e reclamações de turistas sobre a cidade.
@sarahsjostrom Found the famous muffin in the olympic village . Lucky me @Henrik Christiansen saved some for me 😂🩷🧁 @Sporttouchen @Swedish Olympic Team #olympicgames2024 #parisolympics2024 #gold #goldmuffin #muffinman #muffinwoman ♬ Dolce Nonna – Wayne Jones & Amy Hayashi-Jones
No vídeo acima, a nadadora sueca Sarah Sjöström mostra sua medalha de ouro e o famoso muffin de chocolate olímpico — que viralizou nas redes com atletas elogiando seu sabor.
Brasil é ouro no engajamento
Os brasileiros estão tomando conta dos comentários em conteúdos de outras equipes. Basta que um vídeo caia nas graças do algoritmo “BR” para que a mágica aconteça.
Segundo a consultoria Kepios, em 2024, o Brasil ficou em terceiro lugar no ranking de países com mais tempo de uso nas redes sociais, atrás apenas do Quênia e da África do Sul.
Rafa Lotto explica que os brasileiros usam as plataformas como forma de lazer, por isso engajam e participam mais.”Porém, isso não é motivo de orgulho. O tempo online é resultado de pouco tempo na escola, pouca cultura e pouco esporte. O adolescente que está grudado nas telas, engajando com tudo, poderia estar treinando para ser o atleta vencedor das próximas olimpíadas”, finaliza