“Creator Economy” é o termo utilizado para descrever o ecossistema econômico e social do mercado de influência e conteúdo nas redes sociais. Neste “guarda-chuva” estão os influenciadores, plataformas, marcas, criativos, agências e além. De acordo com o relatório da Deloitte, publicado em dezembro de 2023, o setor é avaliado em US$ 250 bilhões – com a possibilidade de atingir até US$ 480 bilhões em 2027, segundo o Goldman Sachs.
No Brasil, os números também são superlativos. Em 2023, 80 milhões de brasileiros compraram pela internet, apontam dados da pesquisa TIC Domicílios. Nos últimos dois anos, o NIC.br constatou um aumento de 14% na monetização da criação de conteúdo online por brasileiros.
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Apesar do volume, a realidade da Creator Economy brasileira é complexa e desigual. A quinta edição do relatório “Creators & Negócios”, realizado anualmente pela agência Brunch em parceria com a consultoria YOUPIX, mostra que 31,44% dos criadores recebem entre 2 e 5 mil reais por mês e 28,73% embolsam de 5 a 10 mil reais. Apenas 0,54% ganham mais de R$ 100 mil, enquanto 19,24% faturam até R$ 2 mil.
“90% da população brasileira recebe menos de R$ 5.000. Então, não estamos falando de pouco dinheiro. Entretanto, esses números não correspondem a salários, eles dizem respeito ao faturamento”, comenta Ana Paula Passarelli, cofundadora da Brunch.
Apesar do crescimento dos criadores que se consideram empreendedores (85%), a separação entre o rendimento individual e do negócio ainda é um desafio. “Esse criador ainda não entende algumas dinâmicas do setor e precisou aprender sozinho a desenvolver o próprio negócio. Estamos falando de um empreendedor “de si” que emula um profissional bem sucedido, mas que nos bastidores está sofrendo no âmbito financeiro e emocional”, afirma Passarelli.
Diagnóstico do Ecossistema
O perfil do influenciador brasileiro também foi mapeado pelo estudo – que constatou as principais características da maioria. Os resultados foram: 66,40% moram em São Paulo, 69% são heterossexuais, 70,46% se identificam como mulheres, 63,41% são pessoas brancas e 29,27% têm entre 10 e 50 mil seguidores.
Para além de São Paulo, 10.03% estão no Rio de Janeiro, 6,78% em Minas Gerais, 5,15% em Alagoas e 4,88% em Santa Catarina. Dentre o total, apenas 17,34% se identificam como pessoas pretas, 16,26% pardas, 1,63% amarelas e 1,36% indígenas. Creators PCD’s também representam uma pequena fatia, 4,34% — porém, essa média é superior aos 3% de ocupação dentro de marcas e agências.
Quando o assunto é raça e gênero, pessoas negras e mulheres são minoria entre os influenciadores mais bem pagos do Brasil.
Plataformas
Pelo terceiro ano consecutivo, o Instagram é a plataforma preferida dos criadores brasileiros (81%). O YouTube e o TikTok vêm em seguida, com 7,32% e 5,15%, respectivamente. Contudo, os creators escolheram o TikTok como “segunda” plataforma favorita (74,50%). O relacionamento com as redes está conectado com a demanda das marcas, segundo a pesquisa. O Instagram, por exemplo, é responsável por 97% da procura das empresas.
Essa dependência se dá, principalmente, pela fonte de renda dos influenciadores, que é majoritariamente proveniente de conteúdos publicitários feitos para marcas (72%). As outras possibilidades de arrecadação são menores, como é o caso de cursos e infoprodutos (15,20%), consultorias, eventos e “UGC” (todos com 14,10%).
O UGC, “conteúdo gerado pelo usuário”, cresceu neste ano e é uma aposta para 2025. Mas, na prática, qual é o significado da sigla? “Por definição, é um conteúdo orgânico, ou seja, não é remunerado e não tem um briefing a ser seguido. No entanto, o formato tornou-se uma maneira de divulgar produtos e serviços a um custo baixo, basta que a marca envie algo para alguém, por exemplo”, explica a co-fundadora da Brunch.
Para a executiva, a falta de regulamentação do mercado possibilita que determinadas práticas, como o UGC e a divulgação de jogos de azar, precarizem o setor e a profissão do criador de conteúdo. “Um mercado sem um sindicato adequado ou uma associação que defenda seus interesses, corre esse tipo de risco.”
Principais Áreas de Atuação
Na internet, existem incontáveis possibilidades para os criadores. Todavia, algumas categorias lideram: Moda, Beleza e Estilo de Vida (36%); Saúde e Bem-Estar (22,80%); Comunicação, Marketing e Design (21%); Viagem e Turismo (20%).
O critério para a seleção do nicho de atuação, por vezes, é o próprio cotidiano do criador. Conforme o estudo, 36% dos respondentes confirmam essa intersecção entre a vida pessoal e digital.
Em 2024, os influenciadores com uma rede de seguidores de 1 a 50 mil constituem mais da metade do mercado de influência, com 56,64%. Em seguida, estão os intermediários, com 50 a 250 mil (27,37%). Por fim, menos de 2% dos creators contam com um público de mais de 1 milhão de usuários.
Mas quantidade não é sinônimo de qualidade. “Cometemos um equívoco bastante expressivo no começo desse mercado, que foi associar influência a audiência. Já vimos inúmeros influenciadores com milhões de seguidores que não são capazes de converter”, relata Passarelli.
Desafios
O relatório “Creators & Negócios” de 2024 também identificou os principais desafios do mercado de influência. A lista foi dividida entre os respondentes que ganham até R$ 10 mil e os que recebem de R$ 10 a 100 mil.
Entre os que faturam menos, os três obstáculos mais mencionados foram: organizar a produção diária (53,92%), pensar em novos formatos de monetização (52,90) e ganhar mais seguidores (49,83%). Para os que embolsam mais dinheiro, os percalços são: conciliar a criação de conteúdo com o empreendedorismo (55,26%), ganhar mais seguidores (52,63%) e organizar a produção diária (48,68%).
Tarefas administrativas, a mudança dos algoritmos das redes sociais e encontrar boas agências também foram tópicos citados pelos criadores.