O racismo estrutural gerou efeitos devastadores que persistem e se agravam, desde a colonização do Brasil até os dias de hoje. Um exemplo que ilustra estes desdobramentos é o panorama atual da saúde no país, onde o acesso a serviços por parte da população negra tem sido difícil e restrito, muito antes da pandemia.
A discriminação racial que coloca estas pessoas em desvantagem quando o assunto é saúde pode ser verificada na segunda edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), publicada este ano. Segundo o estudo, que examina o acesso a serviços do Sistema Único de Saúde (SUS), negros se consultam menos em médicos e dentistas e também encontram mais dificuldades para obter medicamentos receitados nas consultas em relação à população branca.
Ainda segundo a PNS, pessoas negras são as que mais deixam de realizar atividades habituais, incluindo o trabalho, por motivos de saúde. A pesquisa mostra que, entre as pessoas que precisaram estacionar seus afazeres por problemas de saúde, 14,2% eram negros e 11% eram brancas.
No que diz respeito à serviços privados de saúde, o estudo mostra que o acesso a estes provedores privados é limitado a uma pequena parcela da população e esse recorte se torna ainda menor quando aplicado à população negra. Em 2019, 59,7 milhões de pessoas, ou 28,5% da população brasileira, possuíam algum plano de saúde, médico ou odontológico, segundo a PNS. O estudo destaca a relação direta entre a cor ou raça e e a cobertura de plano de saúde: entre os que podem pagar por um plano de saúde, 21.4% são negros e 38,8% são brancos.
Existe um risco de que tais tendências se perpetuem, agravados pela atual precarização do sistema de saúde pública e a atual crise socioeconômica. No setor privado, a digitalização do setor apresenta o potencial de uma exclusão ainda maior da população negra, com o uso intensivo de tecnologias como o aprendizado de máquina que podem não contemplar as demandas destas pessoas. Aspectos a considerar também incluem o aumento na provisão de serviços online, cada vez mais restritos a uma minoria hiper-conectada.
As healthtechs, startups de base tecnológica focadas no setor de saúde, ainda precisam avançar na democratização no acesso a serviços e na resolução de demandas específicas de pessoas negras. Segundo um levantamento divulgado em agosto pela empresa de inovação aberta Distrito, existem 542 startups focadas em saúde no Brasil, que levantaram US$ 430 milhões em investimentos desde 2014.
A maioria destas novas empresas adota um modelo B2B e foca no atendimento a outros negócios, particularmente no que é visto como um gargalo principal no setor, a área de gestão. Este segmento concentra a maioria das startups mapeadas no estudo (25.1%), ao passo que marketplaces de serviços e farmacêutica e diagnóstico respondem por 13,7% e 10.5% das empresas identificadas pelo estudo. A maioria das empresas mapeadas está baseada em São Paulo (43.1%), ao passo que somente 0,6% delas operam no Norte do país.
Demandas específicas
A startup baiana Afro Saúde vem na contramão das estatísticas e tendências, com uma plataforma que especialistas negros da área de saúde a pacientes negros. A plataforma, que já tinha um plano de monetização em curso, estacionou os planos temporariamente depois do surgimento da pandemia para desenvolver uma plataforma de telemedicina gratuita e focada na população periférica de Salvador, tornada possível através do capital semente recebido pelo programa de aceleração da Vale do Dendê e do valor arrecadado pela plataforma de matchfunding Enfrente.
Liderada pelo dentista Arthur Igor Lima e pelo jornalista Igor Leonardo, a empresa nasceu a partir da ideia de Arthur para conectar profissionais e pacientes negros, e dos desafios enfrentados por Igor quando precisou de um tratamento dermatológico para um problema muito frequente da pele negra e passou por diversos profissionais e tratamentos que não resolveram totalmente o seu problema.
“A população negra possui um histórico de sofrer racismo e negligência na área da saúde, tanto no SUS quanto no setor privado e imaginei que, conectando essas duas pessoas, poderíamos resolver um problema que se desdobra para os dois lados”, explica o empreendedor, ressaltando que analisar o mesmo problema da perspectiva do profissional e do paciente foi essencial para a construção da AfroSaúde, pois possibilitou que os fundadores se aproximassem ainda mais do problema que estão buscando resolver.
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No entanto, os fundadores enfrentam as dificuldades comuns a empreendedores negros, como acesso a fundos de investimento. Arthur frisa que em pouco mais de um ano de existência, a AfroSaúde já conseguiu validar a ideia, desenvolver um protótipo e sofisticar o argumento em torno da proposta: “No início, alguns ainda viam a nossa solução como algo que segregava. Mas conseguimos deixar de forma clara a nossa proposta de valor sobre visibilidade aos profissionais negros, movimentação e fortalecimento da economia entre os afrodescendentes. E como resultado, a promoção da saúde”, aponta.
Segundo Arthur, as recentes movimentações do setor de tecnologia para apoiar empreendedores negros – como a parceria da gigante de tecnologia Qintess e a Vale do Dendê, bem como o lançamento do Black Founders Fund, da Google – mostram indícios de uma mudança está em curso, devem gerar resultados mais concretos em alguns anos. Porém, o fundador ressalta que é importante que a pauta antirracista não se perca e iniciativas continuem sendo realizadas: “O boom que a temática teve nos últimos meses estão mostrando quem de fato na prática se mostra antirracista e vai além da #BlackLivesMatter.”
O empreendedor cita a liderança da Vale do Dendê como figuras essenciais para a continuidade do desenvolvimento da AfroSaúde: “Eu, Igor e a AfroSaúde não teríamos chegado até aqui se não tivéssemos suporte e orientação. Participamos do programa de aceleração da Vale do Dendê e pudemos nos aproximar de Ítala Herta e Paulo Rogério, que eu considero os padrinhos da AfroSaúde. Sem eles e a Vale a gente não teria caminhado tanto”, frisa.
A representatividade de profissionais negros entre fundadores de startups do setor de saúde e dentro das empresas atuantes no setor é crucial, segundo Arthur, que aponta a relevância da representatividade, a diversidade e inclusão para o sucesso de organizações, e que isso também vale para a indústria da saúde. Além disso, o fundador da AfroSaúde ressalta o ponto de que as necessidades do público negro também precisam ser atendidas:
“A população negra possui especificidades em saúde que também devem ser englobadas nas novas tecnologias, assim como a mulher e a população LGBT também tem as suas particularidades. Aqui a diversidade deve surgir nos dois lados: quem faz, na liderança e na gestão, e também para quem é feito”, pontua.
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Divulgação Amauri Santos Ferreira, GE Healthcare
Egresso de uma família de classe média baixa, o santista Amauri e os irmãos foram a primeira geração da família a ter diploma. O pai, portador de deficiência (PCD), sempre trabalhou com eletrônica, enquanto a mãe era dona de casa. “Eles sempre lutaram muito para nos dar educação e nos incentivaram a querer mais”, conta. “No entanto, não puderam me orientar sobre o mundo corporativo, já que nunca tiveram esse acesso. Eu aprendi sozinho, errando e acertando a cada dia.”
Formado em Engenharia Eletrônica, pós-graduado em Marketing e com MBA em Gestão de Negócios, Amauri começou a trabalhar no braço de saúde da General Electric em 1988, como especialista em Engenheiro de Campo. Hoje, aos 56 anos, é diretor de produtos para a América Latina, responsável pela área de intervenção (equipamentos para diagnóstico e auxílio na terapia do sistema cardiovascular e neurovascular). “Minha trajetória foi lenta, mas muito consistente. Não tive uma ascensão meteórica e nem quis isso. Cada cargo veio no tempo certo. Em paralelo, nunca deixei de me capacitar”, conta.
Amauri lida com a inovação no dia a dia. “A área de intervenção evoluiu muito além do segmento cardiovascular. Novas tecnologias permitem que os equipamentos ajudem cada vez mais os intervencionistas a vencerem os desafios clínicos de suas rotinas”, diz ele, que há seis anos participa de um projeto, em parceria com o Hospital das Clínicas, de São Paulo, para o desenvolvimento de um software para embolização da artéria prostática, ou seja, uma ferramenta que ajuda o médico durante a realização do procedimento cirúrgico parar um resultado mais assertivo. “Esse software, que começou aqui no Brasil, já está espalhado em diversos hospitais de todo o mundo”, conta, com orgulho.Morador do bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Amauri também é o líder e um dos fundadores do African American Forum (AAF) – Afro Brasil, grupo de afinidade para pessoas afrodescendentes da GE. Ele é responsável por programas, junto com o RH da empresa, de políticas afirmativas, de políticas de igualdade em processos de seleção e de educação para executivos da alta e média gerência. “Ainda temos muito o que fazer, mas estamos caminhando para um mundo mais justo”, conclui.
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Divulgação Arthur Igor Lima e Igor Leonardo, Afro Saúde
Arthur Igor Lima e Igor Leonardo são os fundadores da healthtech soteropolitana AfroSaúde. A empresa nasceu no ano passado, em meio a insatisfação de Arthur com sua vida profissional e suas constantes reflexões sobre a visibilidade e representatividade dos profissionais negros que atuam na área da saúde, pensando para além da odontologia. Depois de ter atuado no SUS e feito residência em saúde da família, onde atuou muito próximo a comunidades e periferia na esfera da saúde pública, Arthur concebeu a startup em 2019 juntamente com Igor, jornalista que buscava atendimento para suas próprias questões de saúde, específicas da pele negra.
Entre as conquistas da empresa em um pouco mais de um ano de vida, está a criação de um serviço de telemedicina acessível multiprofissional em saúde por uma linha telefônica 0800, como parte de um projeto social de enfrentamento à pandemia, focado no atendimento da população periférica de Salvador.
Segundo Arthur, que vive sua primeira experiência como empreendedor com a AfroSaúde, a plataforma já foi validada, o problema e as demandas já foram bem entendidos, e o modelo de negócios agora está sendo fortalecido, bem como a base tecnológica, rumo ao processo de monetização.
“Eu e o Igor sabemos que tudo isso é um processo dinâmico que envolve erros e acertos. Somos uma solução de saúde, com um propósito grande e temos algumas especificidades que precisam estar alinhadas com as expectativas dos nossos futuros clientes e dos beneficiados”, ressalta o cofundador. Considerando as experiências com a AfroSaúde até agora, os empreendedores descrevem a inovação em trazer uma solução acessível a um público específico. “Caso contrário, tudo vai por água abaixo.”
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Divulgação Daniel Batista Cerqueira, iClinic
O soteropolitano começou a trabalhar muito cedo, aos 16 anos, ainda em Salvador. Após algumas experiências em áreas variadas, foi parar numa startup de tecnologia. “Essa oportunidade virou uma chave no meu cérebro e eu descobri um outro modo de trabalhar. Vários conceitos que eu conhecia de empresas tradicionais foram ressignificados”, conta.
Da capital baiana, Daniel se mudou para Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, em agosto do ano passado para trabalhar na iClinic, especializada em softwares para clínicas médicas. “Muitos acharam que era loucura, mas eu considero esse um passo fundamental na minha carreira.” Aos 24 anos, o publicitário é, atualmente, gerente de sucesso do cliente, acompanhando de perto os processos criados na empresa. “É importante entender o quanto a tecnologia pode ajudar nesse cenário. A maneira como ela consegue facilitar a vida das pessoas é incrível, e quando isso é usado pelas empresas para criar pessoas independentes, torna-se ainda mais inovador”, diz.
Dificuldades não faltaram pelo caminho. “Eu sempre soube que enquanto preto, gay afeminado e da periferia, teria que trabalhar muito mais para conquistar alguns dos espaços sociais que hoje eu ocupo. No final das contas, acredito que justamente isso tenha me impulsionado a ser o homem que sou hoje. Passei do ensino médio direto para a faculdade com meu pai me ajudando como podia até que eu estivesse empregado. Agora, estou passando da graduação para a pós para que eu continue conquistando espaços, minha liberdade financeira e ajudar a minha família.”
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Divulgação Debora Cristina da Silva Paiva, MedRoom
Aos 14 anos, Debora começou a trabalhar num posto de gasolina. Aos 20, vendeu o carro que tinha conseguido comprar para fazer um intercâmbio no exterior. “Conheci líderes e executivas de alto nível negras e entendi que era possível sonhar mais alto”, conta. “Mas, na volta ao Brasil, via que as posições de destaque eram sempre ocupadas por pessoas brancas.”
O inconformismo a levou a escrever um projeto sobre a cadeia produtiva ética e seu impacto nas marcas. Graças ao trabalho, ganhou uma bolsa da União Europeia para um mestrado na Cranfield School of Management, no Reino Unido. “Eu era a única mulher negra latino-americana da minha turma. Meu orientador zombava de meu sotaque (ele era escocês). Passei muito frio e chorei quando vi a neve pela primeira vez”, lembra.
Depois de atuar nos segmentos farmacêutico, automotivo, auditoria, bens de consumo e educação corporativa, tirou um ano sabático na Argentina. Na volta, foi convidada pela MedRoom, healthtech que usa a realidade virtual com estratégias de gamificação para criar experiências destinadas à educação e a treinamentos na área da saúde, para implementar a área de marketing. Em pouco tempo, acumulou também a área de vendas, e hoje é a principal responsável pelas duas.
A inovação faz parte de seu dia a dia dessa paulistana de 50 anos. “Oferecemos uma experiência imersiva em RV que transforma a maneira de ensinar e aprender as disciplinas de saúde. O modo de aprender mudou porque o mundo mudou. As ferramentas tradicionais de ensino, que todos nós conhecemos, não dão conta de um aprendiz inquieto, exposto a diversos estímulos e que consegue a informação em qualquer lugar”, explica. “Navegar pelo interior do corpo humano produz um impacto que nenhum livro ou slide consegue.”
Além das funções na MedRoom, Debora também atua como facilitadora para o tema de equidade de gênero e diversidade e participa do Comitê de Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil. “Enfrentei o machismo e o racismo em diversas situações durante minha carreira no México, no Chile, na Itália, mas o Brasil é um dos países com maior desigualdade entre os gêneros. Meu objetivo pessoal é ajudar a mudar isso por meio do empoderamento feminino, para que homens e mulheres usufruam das mesmas oportunidades, salários, direitos e obrigações. Quero que minha filha, que hoje tem oito anos, encontre um mundo mais equilibrado e que as mulheres lutem outras batalhas além da igualdade salarial.” -
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Divulgação Fernando Paiva, Carenet
Aos 40 anos, o paulistano nascido no tradicional bairro da Mooca, zona leste da capital, é vice-presidente da healthtech especializada em telemonitoramento de pacientes crônicos por meio do uso de tecnologia exponencial de internet das coisas, inteligência artificial e processos automatizados.
Depois de mais de 20 anos de carreira em operações e serviços de tecnologia da informação, transformação digital, inovação aberta, ecommerce, desenvolvimento de produtos digitais, customer experience e business strategy developer em empresas como Odebrecht, Stefanini e Bradesco, Fernando juntou-se à Carenet em 2018. “Atualmente, o trabalho que realizo é uma das experiências profissionais mais inovadoras e disruptivas que estou vivenciando porque consigo usar a tecnologia em benefício da saúde dos pacientes em toda a sua jornada, dentro e fora do ambiente clínico hospitalar”, conta.
Além do histórico profissional consistente, Fernando tem uma formação de dar inveja. Tem dois MBAs – gestão empresarial executiva pela COPPEAD e gestão de projetos pela University of La Verne (Califórnia – e duas especializações – comunicação e negociação na Harvard Business School e gestão de projetos de TI na FGV. Mas nada disso impediu algumas agruras pelo caminho. “Já sofri humilhação verbal e fui alvo de apelidos racistas e pejorativos, como ‘macaco’. Também já convivi com integrantes do meu time que se recusavam a ser liderados por um preto. Pares em funções executivas me acusavam se querer ser branco só porque usava roupas da Lacoste”, lembra.
Nada disso foi suficiente para pará-lo. Muito menos agora. “Meu objetivo pessoal é usar a tecnologia exponencial em benefício de uma medicina mais inteligente, preditiva, preventiva e humana para o ecossistema de saúde público e privado do Brasil”, diz. “Inovação é justamente isso: fazer de um limão uma limonada que tenha um sabor aceitável por qualquer pessoa.”
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Divulgação Henrique Alencar, Funcional Health Tech
Nascido em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, Henrique começou a trabalhar aos 17 anos como office boy em uma empresa de engenharia. “Foi lá que tive meu primeiro contato com especialistas em tecnologia da informação”, conta.
Apenas três meses depois, foi promovido para a área que, na época – fim dos anos 1990 –, ainda engatinhava. “Eram quatro computadores e internet discada”, lembra. Interessado em seguir carreira, Henrique formou-se em Tecnologia da Informação com ênfase em Banco de Dados e, aos poucos, foi crescendo. “Tirei do papel um projeto que eliminou processos manuais e trouxe a possibilidade de integração digital. Em nove anos, fui responsável pela criação de um parque tecnológico com as filiais totalmente integradas, novos módulos de ERP, intranet e firewall, entre outros.”
Em 2008, pediu demissão para enfrentar um desafio que, ao mesmo tempo, era um sonho: trabalhar em uma grande empresa de tecnologia. Em pouco mais de dois anos, começou a liderar equipes e a se tornar referência. Em 2010, foi um dos 10 colaboradores que se destacaram durante o ano num contingente de mais de 10 mil pessoas.
Desde 2012, quando saiu da empresa, Henrique viveu algumas outras experiências profissionais: criou sua própria consultoria, passou por uma startup e atuou numa companhia líder de mercado. No ano passado, juntou-se ao time da Funcional Health Tech, que realiza um trabalho integrado em gestão de saúde por meio de soluções que permitem o cruzamento de dados e análises inéditas. Lá, lidera o time de operações e transformação digital. “Nos últimos meses, já automatizamos alguns processos, implementamos novos módulos do sistema de gestão, contratamos uma intranet mais colaborativa e integramos empresas do grupo em nosso ERP, entre várias outras iniciativas. Para mim, é um desafio que está apenas começando.”
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Divulgação Igor Cesar Torres de Oliveira, Cuidas
Engenheiro da computação formado pelo Instituto Militar de Engenharia, Igor conclui os estudos em 2016 e, logo em seguida, foi designado para o Centro de Desenvolvimento de Sistemas, em Brasília, onde trabalhou com aplicações militares. Em 2019, tentou empreender e montou uma foodtech, e, este ano juntou-se ao time da Cuidas, serviço de gestão de saúde corporativa que leva profissionais até as empresas.
As poucas linhas que descrevem a carreira do jovem de 27 anos até aqui não refletem as dificuldades enfrentadas. “Eu sinto que rompi muitas barreiras para melhorar minha condição de vida e chegar aonde estou hoje. Nesse caminho, com certeza tive obstáculos: estudei em escolas públicas, morei na zona rural do Rio, onde a educação de qualidade não era acessível, mudei para a casa de parentes para poder estudar melhor e precisei de bolsa de estudo integral para fazer o cursinho preparatório”, lembra. “Acho que a maioria das dificuldades tinham viés financeiro, direta ou indiretamente.”
Como engenheiro de software na Cuidas, Igor acredita que inovação é poder mudar a vida das pessoas. “Nós estamos criando uma nova maneira de fazer o brasileiro se relacionar com a sua saúde, olhando para a atenção primária. Para mim, que sempre dependi da saúde pública, poder proporcionar esta nova opção às pessoas é incrível”, diz ele, que desenvolve soluções tecnológicas para os problemas da saúde, desde ajudar a descobrir novas ferramentas até criar sistemas que facilitem o trabalho dos profissionais da área.
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Divulgação Jacqueline Guilherme dos Santos, N2B
Jacqueline conheceu as dificuldades de ser um jovem negro, de baixa renda, muito cedo, ainda na escola – mais precisamente no ensino médio. Graças a uma prova, conseguiu uma vaga remanescente numa escola técnica, na época a quarta melhor de São Paulo. “Aquilo foi um choque de realidade. Encontrei colegas muito mais preparados do que eu. De repente, eu não era a mais inteligente da sala e nem tinha acesso aos cursos preparatórios para o vestibular, por falta de dinheiro ou de tempo para frequentar os gratuitos, uma vez que eu já trabalhava”, conta.
Como a maior preocupação de Jacqueline era continuar estudando, para garantir, caso não conseguisse cursar uma universidade, ela se matriculou num técnico em nutrição. “Eu não tinha nenhuma familiaridade e nem curiosidade sobre a área, mas era um ensino gratuito, de qualidade e próximo à minha casa, oferecido em horário noturno, para que eu conciliasse com o emprego. Após 18 meses, me vi apaixonada pela área e, em seguida, consegui uma bolsa integral em uma das melhores faculdades de nutrição de São Paulo.” Hoje, aos 25 anos, ela já fez até uma especialização em comportamento alimentar, mas lembra que muitas vezes precisou ficar sem dormir para dar conta de tudo ao mesmo tempo.
Este ano, a jovem passou a atuar como parceira da N2B que, no mercado desde 2016, tem a missão de democratizar o acompanhamento nutricional por meio de uma plataforma que oferece consultas com profissionais, diários de avaliação das refeições, chat com especialistas, cardápios personalizados e scanner de produtos. Por causa da pandemia, o Conselho de Nutricionistas permitiu a realização de consultas online. “Isso possibilitou a continuidade no acompanhamento de pacientes e também atender pessoas novas, de uma forma mais acessível, inclusive pessoas de outros estados e outros países, levando uma nutrição com base científica, individualizada e acessível”, diz Jacqueline.
“Agora, por meio da internet, consigo fazer os atendimentos por vídeo, com ferramentas online, atualizadas continuamente pelos desenvolvedores da startup. De forma remota, disponibilizo planos alimentares, ofereço conteúdos informativos em vídeo, apresento informações que desmistificam mitos e verdades, recebo fotos dos pratos dos meus pacientes e vivo o dia a dia deles dando orientações pontuais em cada refeição. Consigo ainda tirar dúvidas praticamente em tempo real e derrubar a imagem daquele profissional inacessível, que as pessoas encontram apenas uma vez por mês.”
Ao olhar para trás, Jacqueline – a única a ter um diploma na família – diz que contar com o apoio dos pais foi essencial. “Muitas vezes eles priorizaram os meus estudos mais do que eu mesma. Até conseguir o dinheiro para o transporte era difícil”, diz. Ela também credita parte de suas conquistas à proatividade, atualização técnica e, principalmente, à postura acessível nos trabalhos de equipe e empatia. “Foi assim que comecei a fazer consultas na casa dos amigos e as coisas foram acontecendo.”
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Divulgação Kelvin Gaia Maués, Sami
Na trajetória profissional do paraense Kelvin Gaia Maués, nota-se uma constante busca por aprendizado e por sair da zona de conforto. Depois de enfrentar dificuldades para entrar na universidade, entrou no curso de Engenharia da Computação na Universidade Federal do Pará, como cotista, e deixou Soure, na Ilha de Marajó no Pará, rumo à capital do estado. A carreira de desenvolvedor de software teve início de fato em 2017, depois de um estágio na Vale, que fazia em paralelo aos trabalhos em uma startup de logística, onde atuava como freelancer.
Logo Kelvin percebeu, com o ritmo acelerado de mudança do segmento que escolheu atuar, que precisaria ter um diferencial no mercado, e começou a estudar as tecnologias que as grandes empresas estavam utilizando, e começou a se envolver ativamente em comunidades online de desenvolvedores, alem de foco no marketing pessoal e senso de propósito. “Programar é como um superpoder, você pode construir grandes coisas, de grande impacto, na vida nas pessoas, e suas linhas código fonte que você inseriu naquele produto, que tem determinada funcionalidade, se tornam o seu legado e contribuição para um mundo melhor”, ressalta.
No último mês de graduação, tendo finalizado o estágio bem como os trabalhos na startup em Belém, veio uma nova grande virada, com o convite de uma startup de e-commerce e educação em 2018. Segundo Kelvin, a oportunidade veio acompanhada de desafios: “A insegurança vem, até a síndrome de impostor ocorre por um momento, e abrir mão de estar perto da família e se mudar para um outro estado e cidade, é questionável de muitas formas”, conta o desenvolvedor, que se mudou para a megalópole com uma pequena economia para dois meses.
Desde a mudança para São Paulo, Kelvin teve experiências em startups de mobilidade urbana, recursos humanos e agora atua na Sami, startup de teleatendimento e gestão inteligente, como desenvolvedor de software pleno. Atuante em grupos de diversidade nas empresas onde trabalha, busca fazer sua parte para melhorar a representatividade de negros no mercado: “Ainda olho ao meu redor, e vejo claramente que [o mercado] ainda não é igualitário e proporcional. Tento contribuir, fazendo parte dos grupos de diversidade, trazendo esta pauta para mesa e o que podemos fazer para melhorar.”
Para Kelvin, que sonha em um dia empreender com uma startup que ajude as pessoas, inovação é “transformar um problema atual, uma realidade, em uma melhor solução que beneficie o maior número de seres. E isto pode ocorrer através de uma experiência, produto ou serviço.”
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Divulgação Luiz Fernando Barbosa da Silva, BoaConsulta
Formado em Ciências Contábeis Luiz começou sua carreira no setor de teleatendimento em 2005, numa empresa de cobrança. Dois anos e um processo seletivo mais tarde, foi contratado por uma companhia de regulação médica e administração de convênios, ainda num cargo operacional no atendimento. “ Em 2010 cheguei à minha primeira posição administrativa e segui ganhando experiência até alcançar o primeiro cargo de liderança, como supervisor de call center”, conta.
Em 2012, começou a trabalhar na BoaConsulta, healthtech responsável pelo desenvolvimento de um aplicativo para agendamento e realização de consultas médicas, como analista de suporte, função que exerceu durante quatro anos. Atualmente, é gerente de suporte e relacionamento.
“Orientar e fornecer ajuda na busca de atendimento médico por meio da tecnologia – plataforma independente, software de gestão para clínicas e consultórios e agendamento online – significa aproximar os profissionais da saúde aos seus pacientes. É algo desafiador, que exige grande disposição. Estamos constantemente compartilhando nossos conhecimentos e experiências para que os nossos parceiros tenham a melhor experiência possível no uso da plataforma”, explica. O volume explica o desafio: todos os meses, a plataforma registra mais de 1 milhão de buscas e faz 1,7 milhão de agendamentos.
Aos 35 anos, Luiz agora pretende cursar Matemática. “Quero me capacitar ainda mais para passar adiante o que aprendi.”
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Divulgação Marina Gabriela Nascimento, Pipo Saúde
Nascida na periferia de São Carlos, cidade do interior de São Paulo com um dos maiores índices de pessoas com doutorado por habitantes do país, Marina viveu uma realidade muito diferente. “Meus vizinhos, meus parentes e as pessoas com quem cresci não eram doutores – e estavam bem longe de ser. Meus pais sequer chegaram a ter a oportunidade de ingressar no nível superior, mas sabiam que a educação era a escada que poderia me levar a lugares que pessoas iguais a mim não ocupavam ainda”, conta.
Marina estudou a maior parte da vida como bolsista em escolas particulares. “Nesses lugares, eu era a menina preta e pobre. A minha aparência me destacava no meio dos outros alunos, mas o que mais me incomodava era o contraste no acesso às oportunidades. Ali percebi que meu pai tinha razão quando me dizia, desde que eu era pequena, que como mulher preta e pobre eu teria que me esforçar muito mais do que os outros para chegar aonde quisesse”, lembra.
Aos 17 anos, depois de estudar muito, a jovem ingressou no curso de Engenharia de Materiais e Manufatura da USP. “Mais uma vez passei a ocupar um espaço onde não havia pessoas que se pareciam comigo. Fui entendendo que eu era sempre a exceção – e não a regra.” Logo percebeu que a falta do inglês era uma barreira, já que grande parte do conteúdo era no idioma. “Então fui atrás e consegui uma bolsa do Programa Ciência sem Fronteiras para cursar a graduação durante um ano nos Estados Unidos. Aos 20 anos, entrei em um avião pela primeira vez rumo à Oklahoma.”
O aprendizado do inglês não só foi um ponto de virada na carreira como ajudou Marina a cursar a faculdade com mais folga financeira, já que ela passou a dar aulas. Em 2018 começou a trabalhar como estagiária em uma multinacional na capital paulista. “Foi nesse momento que comecei a ter contato com as discussões sobre diversidade. Encontrei pessoas que tinham trajetórias parecidas com a minha, que estavam abertas a falar sobre o tema e pensar estratégias para enfrentar as barreiras e mudar essa realidade”, conta, lembrando do dia que conheceu Rachel Maia, atual CEO da Lacoste. “Pela primeira vez vi uma mulher negra e brasileira à frente de uma grande empresa. Ela se parecia comigo e isso intensificou em mim o desejo de crescer para ocupar posições de liderança. Passei a refletir sobre meu futuro, e vi nos programas de trainee uma oportunidade para acelerá-lo. Após um extenso processo seletivo ingressei no programa de trainee da mesma empresa.”
Nesse caminho, a jovem ansiava por um propósito. Foi quando conheceu a Pipo Saúde, healthtech que conecta empresas a planos de saúde, odontológicos e seguros de vida, ajudando na escolha de investimentos mais inteligentes baseado em dados. Hoje, aos 27 anos, Marina atua como analista de cotações na empresa. “Em geral, os processos de operação de uma corretora tradicional são burocráticos, morosos e dependentes de terceiros. O que nos propomos a fazer é tornar esse processo cada vez mais autossustentável, preditivo e independente. Uma base de dados e histórico robustos podem nos dizer, graças a ferramentas como machine learning, qual o melhor cenário, preço e operadora para cada cliente”, explica.
O objetivo de Marina é ocupar posições cada vez maiores e ser uma referência para os jovens negros. “Há algo que acontece corriqueiramente cada vez que alguém tem acesso ao meu currículo ou fica sabendo sobre o meu trabalho: as pessoas arregalam os olhos e ficam surpresas. Quero ter condições de, no longo prazo, impulsionar e patrocinar as carreiras de jovens negros, para que elas sejam menos árduas e se tornem cada vez mais comuns. Ou seja, mudar o mundo, nem que seja uma pessoa de cada vez.”
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Divulgação Marina Oliveira, Amparo Saúde
Como gerente da área financeira da empresa de tecnologia e saúde fundada em 2018, a paulistana de 29 anos lida direto com inovação. “Graças a ela, implementamos uma remuneração do tipo fee for value – cobrança por vida por mês, um modelo que nenhum outro prestador de serviços da atenção primária faz no Brasil”, conta. “Trabalhar com novas formas de faturamento e trazer um olhar inovador para a área me motiva dia após dia. Eu vejo a importância do meu trabalho para a empresa, a qualidade da entrega com as novas maneiras de cobrança e modelos de negócio que geram resultados positivos e que contribuem para o crescimento da healthtech.”
Formada em Gestão Hospitalar e pós-graduada em Excelência Operacional na área da Saúde, Marina começou sua carreira na Amil, onde ficou oito anos antes de ser convidada, em junho de 2018, a integrar o time da Amparo. “Participei de todo o processo de construção, desde a primeira unidade clínica da empresa. Em março do ano passado assumi a gerência das áreas administrativa e financeira.”
Os planos não param por aí. Primeira filha a concluir a graduação, Marina quer, no curto prazo, fazer um mestrado e, em seguida, continuar estudando para ter uma especialização de alto nível. “Meu pai, que é a minha fonte de inspiração, sempre me diz que temos que olhar para as estrelas e ter o pé no chão, mas também almejar mais para nós mesmos. Quero seguir dando orgulho para minha família e sentindo orgulho de mim.” -
Divulgação Pablo Juan Morais da Cruz, NESS Health
Nascido e criado na periferia de São Paulo, Pablo, de 27 anos, estudou em escolas públicas a vida toda. “Um fator determinante na minha mudança de comportamento e visão foi quando ingressei na ETEC de Itaquera. Não foi um período fácil: eu estudava em período integral e permanecia na instituição para aulas de reforço à noite. Meus dias eram exaustivos, pois sabia que para me destacar eu teria que me dedicar mais do que os outros já que, desde muito cedo, soube que não teria um ‘padrinho’ para me ajudar na carreira”, conta.
Nas cinco horas em que passava nos trens da CPTM e do metrô para se deslocar, acabou criando duas startups. “Essas experiências causaram um impacto grande na minha vida e me deram bagagem para continuar a trilhar meu caminho. Aprendi a ter mais confiança, iniciativa e liderança, além de desenvolver meu lado empreendedor, o que me deu uma visão ampliada da empresa, suas reais necessidades, melhores estratégias e poder de persuasão”, lembra.
Formado em técnico de informática com ênfase em programação, Pablo partiu em busca de mais e cursou a faculdade de Gestão de Tecnologia da Informação. Trabalhou alguns anos no mercado financeiro até que recebeu, em 2017, a proposta de fazer parte da NESS Health, especializada em transformação digital da medicina diagnóstica. “Lembro que meus pares estranharam minha escolha. Eu trabalhava em uma grande instituição, com possibilidades de crescimento, e estava trocando tudo aquilo por uma empresa de médio porte”, diz. “Mas sou movido a desafios e a minha missão era criar uma nova área focada na saúde. Arregacei as mangas e fui.”
O trabalho foi árduo, mas deu a Pablo a chance de se tornar sócio da startup. “Quando comecei, eram cinco pessoas trabalhando comigo. Hoje são 22. Todos os dias penso em como a tecnologia tem papel essencial para os pacientes e o que mais eu posso fazer para mudar o cenário da saúde nacional. Este pensamento me move, eu tenho que fazer mais”, diz ele, que atualmente desempenha a função de head de tecnologia e plataformas digitais.
Do ponto de vista profissional, Pablo quer continuar a desenvolver produtos que tragam valor para a sociedade e expandir as operações da empresa – que já está na Europa – para outros continentes. Do pessoal, quer ampliar a atuação na sua ONG, a TJS, na Cidade Tiradentes, e criar uma escola social de tecnologia para jovens periféricos do extremo leste de São Paulo, para estimular o desenvolvimento não apenas de habilidades convencionais aos estudos, mas também aquelas que promovam qualidade social, capazes de formar seres mais humanos. “Eu sou a prova de que sonhos são possíveis, independentemente do cenário onde estamos inseridos.”
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Divulgação Richard Silva, Vitta
Por mais paradoxal que possa parecer, o analista de sistemas paulistano de 28 anos precisava, há alguns anos, peregrinar pela cidade em busca de locais públicos que oferecessem computadores com acesso à internet. “Eu não tinha recursos”, conta.
Ainda muito jovem, Richard fez um curso de tecnologia e acabou se apaixonando. “Mas no começo, a falta de experiência atrapalha muito. Então eu oferecia serviços de graça ou cobrava preços irrisórios até conseguir me estruturar melhor e fazer uma faculdade”, lembra. Em 2017, depois de um período de estágio, começou a trabalhar na Vitta, healthtech especializada em prontuários eletrônicos e gestão de planos de saúde comprada pela Stone em maio deste ano. “Trabalhamos com tecnologia de ponta e estamos sempre antenados para saber o que mais podemos oferecer que ainda não há no mercado.”
Os planos de Richard são ambiciosos. “Quero ser o melhor programador que eu puder ser, uma referência na minha área. Estou trabalhando para, um dia, me tornar sócio da Vitta e criar um ambiente cada vez mais diverso, não só para os negros, mas também para as mulheres e para a comunidade LGBT. No mais, meu maior desafio é estar sempre aprendendo. As coisas mudam muito rápido.”
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Divulgação Roberta Rocha, Hisnëk
A capixaba de Cachoeiro de Itapemirim que, para os amigos, era “nerd”, percebeu logo a diferença entre o currículo de seus colegas e o seu. “A falta de acesso começa quando ainda somos crianças. Não fiz intercâmbio, não tenho passaporte regularizado, não visto roupas caras. E eu sentia que precisava estar bem vestida e ser refinada para entrar em determinados círculos. Isso foi minando minha carreira dentro de mim mesma. A baixa autoestima é um problema enorme quando se trata do mercado de trabalho para pessoas negras”, diz.
Mas Roberta não desistiu. Formou-se em jornalismo com bolsa integral do ProUni na PUC-Rio e este ano foi contratada como UX Writer – sistema de escrita usada por sites, lojas virtuais e diversos aplicativos para oferecer um bom serviço de atendimento aos usuários – e estrategista de conteúdo na Hisnëk, healthtech que criou a Ivi, a Inteligência Artificial Interativa, capaz de compreender o estado psicológico das pessoas e desenvolver soluções personalizadas.
“Trabalho diretamente com inovação. Unir métrica à escrita é um desafio diário”, diz a jovem de 24 anos. “E inovação, para mim, é criatividade, algo que vai além da tecnologia e que está relacionado ao fato de encontrar as melhores soluções para solucionar os mais diversos tipos de problemas.”
Amauri Santos Ferreira, GE Healthcare
Egresso de uma família de classe média baixa, o santista Amauri e os irmãos foram a primeira geração da família a ter diploma. O pai, portador de deficiência (PCD), sempre trabalhou com eletrônica, enquanto a mãe era dona de casa. “Eles sempre lutaram muito para nos dar educação e nos incentivaram a querer mais”, conta. “No entanto, não puderam me orientar sobre o mundo corporativo, já que nunca tiveram esse acesso. Eu aprendi sozinho, errando e acertando a cada dia.”
Formado em Engenharia Eletrônica, pós-graduado em Marketing e com MBA em Gestão de Negócios, Amauri começou a trabalhar no braço de saúde da General Electric em 1988, como especialista em Engenheiro de Campo. Hoje, aos 56 anos, é diretor de produtos para a América Latina, responsável pela área de intervenção (equipamentos para diagnóstico e auxílio na terapia do sistema cardiovascular e neurovascular). “Minha trajetória foi lenta, mas muito consistente. Não tive uma ascensão meteórica e nem quis isso. Cada cargo veio no tempo certo. Em paralelo, nunca deixei de me capacitar”, conta.
Amauri lida com a inovação no dia a dia. “A área de intervenção evoluiu muito além do segmento cardiovascular. Novas tecnologias permitem que os equipamentos ajudem cada vez mais os intervencionistas a vencerem os desafios clínicos de suas rotinas”, diz ele, que há seis anos participa de um projeto, em parceria com o Hospital das Clínicas, de São Paulo, para o desenvolvimento de um software para embolização da artéria prostática, ou seja, uma ferramenta que ajuda o médico durante a realização do procedimento cirúrgico parar um resultado mais assertivo. “Esse software, que começou aqui no Brasil, já está espalhado em diversos hospitais de todo o mundo”, conta, com orgulho.
Morador do bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Amauri também é o líder e um dos fundadores do African American Forum (AAF) – Afro Brasil, grupo de afinidade para pessoas afrodescendentes da GE. Ele é responsável por programas, junto com o RH da empresa, de políticas afirmativas, de políticas de igualdade em processos de seleção e de educação para executivos da alta e média gerência. “Ainda temos muito o que fazer, mas estamos caminhando para um mundo mais justo”, conclui.
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