Você sabia que peixe também precisa de vacina? Parece algo estranho a esses animais, mas sim, eles tomam vacinas, como ocorre com bovinos, aves, suínos e claro, nós, os humanos. Mas vacinar peixes não é algo simples. Requer, antes de tudo, muita tecnologia embarcada no processo. As vacinas para peixes são necessárias nos modelos de criação em cativeiro, como redes em rios ou tanques. Elas previnem doenças, levam renda ao produtor e mantêm as criações saudáveis. Mas há um trunfo ainda mais espetacular: a vacina evita o uso de antibióticos, em caso de doenças dos animais.
Há três diferentes métodos de aplicação das vacinas em peixes:
1) Por via injetável, geralmente aplicada próxima a uma das nadadeiras,
2) Em banho de imersão, no qual os peixes são imersos em solução aquosa contendo os antígenos vacinais,
3) Com administração oral das vacinas, diretamente dentro da boca do animal ou misturada na ração.
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O Brasil é hoje o quarto maior produtor global de peixe criado em cativeiro, ou peixe cultivado. “Em 20 anos, o Brasil será o maior produtor mundial de tilápia”, disse Francisco Medeiros, presidente executivo da Peixe BR (Associação Brasileira da Piscicultura), no final do ano passado, durante o 4º Encontro Noruega-Brasil de Aquicultura, evento que reuniu 200 empresários, técnicos e pesquisadores. Um dos motivos para o sucesso da criação de salmão na Noruega, por exemplo, foi a utilização em larga escala de diversas vacinas. O país é um dos que possuem as tecnologias mais avançadas em piscicultura, o Brasil é um dos países com mais sede na corrida global por mercado.
Na seara das vacinas há produtos oferecidos por grandes multinacionais do setor de saúde animal. Isso porque o mercado demanda por elas. Neste mês, a biofarmacêutica norte-americana da Merck & Co. (Merck Sharp & Dohme) no Brasil, a MSD Saúde Animal, lançou mais uma vacina em seu portfólio, destinada aos cultivos de tilápia. Dessa vez, uma vacina bivalente inédita composta pelas duas cepas de maior importância das bacias produtoras do centro-sul brasileiro. “O cenário é promissor, mas o crescimento e a intensificação das produções de tilápias também carrega consigo o aumento de importantes desafios sanitários que devem ser vencidos, como a principal enfermidade que acomete as granjas de produção. Por exemplo, a chamada estreptococose”, afirma Rodrigo Zanolo, diretor da unidade de aquicultura da empresa.
No ano passado, a produção de peixes de cultivo saltou para 802,9 mil toneladas no país, 5,93% acima de 2019, de acordo com o Anuário Peixe BR 2021. Há cinco anos, o Brasil produzia 638 mil toneladas de peixe em cativeiro. De tilápia foram 486,1 mil toneladas, 60,6% do total. O país já é um importante ator global da cadeia por causa desse peixe: seis em cada dez animais cultivados no Brasil são tilápias. No mundo, ocupa o quarto lugar, atrás de China (2 milhões de toneladas), Indonésia (1,4 milhão) e Egito (990 mil toneladas).
Outra farmacêutica, a Sanphar Saúde Aninal, de origem austríaca e com sede em Cingapura, que atua fortemente no setor suíno no país, apresentou em março uma linha de vacinas autógenas e diagnósticos laboratoriais para o controle de enfermidades bacterianas na tilapicultura. São vacinas customizadas caso a caso. “A tilapicultura já é muito importante e torna-se cada vez mais relevante no país, o que reforça a necessidade de eficazes controles sanitários”, afirma Paulo Ceccarelli Junior, coordenador técnico da Acqua Sanphar.
Mas não são somente as empresas que estão em busca de soluções de vacinas para peixes. Os pesquisadores têm se debruçado cada vez mais sobre essa cadeia de produção. Para acompanhar esse mercado, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) criou o CIAqui (Centro de Inteligência e Mercado em Aquicultura), em parceria com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
São Paulo é o segundo maior produtor de peixe cultivado no país, com 74,6 mil toneladas produzidas no ano passado, 6,9% acima do ano anterior. Na pesquisa, conta com o IP-APTA (Centro de Pesquisa de Aquicultura do Instituto de Pesca), que está desenvolvendo estudos sobre vacinas para peixes. A zootecnista Daniela Nomura, apresentadora do programa Aqua Negócios, afirma que para entender a importância da descoberta de vacinas para a aquicultura é necessário compará-las com a situação atual da pandemia do coronavírus. “O que estamos enfrentando com a Covid-19, uma doença nova e desconhecida, é muito similar com o que já ocorreu quando emergiram algumas doenças na piscicultura, como streptococoose, franciselose, TiLV (Tilápia Lake Vírus), columnariose e outras, em que o grande trunfo é a chegada da vacina”, diz Daniela.
O primeiro lugar, como criador de tilápias no país, é ocupado pelo estado do Paraná. No ano passado foram produzidas 172 mil toneladas de peixes, 11,5% acima de 2019. Em fevereiro a Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), no município de Foz do Iguaçu, finalizou uma pesquisa iniciada em 2018, coordenada pelo professor Kelvinson Viana, do curso de biotecnologia e pesquisador em bioengenharia para o desenvolvimento de vacinas. A busca foi por uma vacina bivalente inativada, para a proteção de duas doenças bacterianas, justamente a estreptococose mais a aeromonose. “Além disso, a vacina consegue fazer com que o pescado ganhe mais biomassa, aumentando os rendimentos do produtor”, explica Viana. De acordo com a universidade, a vacina já passou por testes laboratoriais e agora está na fase das avaliações em testes de larga escala, que estão sendo realizadas em tanques de produção no Lago de Itaipu. A vacina da Unila é aplicada via injeção.
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