Na semana passada, a foodtech argentina Frizata, que desembarcou no Brasil no início de julho, anunciou a captação de R$ 25 milhões em investimentos, após uma rodada liderada pela SP Ventures, fundo brasileiro de venture capital e líder em agri-foodtech.
Em uma conversa exclusiva com a Forbes, os amigos José Robledo, 50 anos, e Adolfo Rouillon, 49 anos, fundadores da marca, contam a história da startup criada em 2018 no modelo DNVB (digital native vertical brands, ou marca vertical digitalmente nativa) que, trocando em miúdos, significa uma verticalização total que vai da industrialização do alimento à sua entrega na casa do consumidor. “Chegamos para repensar a forma de produzir e distribuir alimentos, em uma indústria que se mantém sem inovação nos últimos 50 anos”, diz Rouillon. “A cadeia de produção e comercialização são as mesmas por décadas: longa, lenta e obsoleta.”
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Pedidos feitos em Buenos Aires, Córdoba e Rosário, de pizzas, empanadas, recheados, produtos à base de batatas, vegetais, frutas, processados com carne bovina, suína, aves, veganos e plant based — embalados e congelados — chegam à casa do consumidor em poucas horas. Ou podem ser retirados em pontos de venda do varejo. No menu atrai 50 mil consumidores, quase todos usuários do e-commerce. No ano passado, os sócios faturaram US$ 10 milhões.
Agora, eles querem trazer para o Brasil o delivery sem intermediário entre a indústria e o consumidor, em um modelo tecnológico que inspirou parcerias entre Rouillon e Robledo ainda na Universidade Austral, localizada em Rosario, a terceira maior cidade da Argentina, com 1,7 milhão de habitantes, principal polo da agroindústria e onde se localiza o maior centro tecnológico do país, o PTR (Polo Tecnológico Rosário), centrado em pesquisa e desenvolvimento de biotecnologia, software e telecomunicações. Os amigos frequentavam as aulas de ciências empresariais, curso finalizado em 1996, ano em que, com outros dois colegas, criaram a Amtec.net, uma eBuilder que se tornou líder na América Latina, especializada em soluções de comércio eletrônico para grandes empresas. A Amtec foi respaldada pela Hicks Muse, um fundo de capital de risco nos EUA, e chegou a ter 300 profissionais com operações na Argentina, Brasil e Chile. Em 2001, a empresa foi comprada pela Neoris, braço tecnológico da mexicana Cemex, terceira maior produtora de cimento do mundo.
Os dois amigos permaneceram na organização, em funções gerenciais, até 2006, quando alçaram voo a um novo projeto. No ano seguinte nasceu a CDS (Congelados del Sur), no que seria um embrião para a criação da Frizata. A marca, um canal tradicional de distribuição, durou quatro anos. Mas, ligados em tecnologias e transformação digital, os sócios retomaram o caminho criando a “Food Design Manufacturing”, um modelo B2B em que forneciam alimentos congelados para grandes companhias alimentícias e cadeias de supermercados da América Latina. Nessa jornada foram mais oito anos.
Como tudo na vida de Rouillon e Robledo gira em torno de Rosário, cidade natal de ambos, não foi por acaso que a Frizata nasceu aí, incluindo a agroindústria com capacidade para processar 6.000 toneladas de alimentos. A atual produção é de 4.000 toneladas, mas com algumas adaptações nas atuais instalações seria possível ainda dobrar o volume. Com um parque dessa dimensão era preciso acelerar e os sócios receberam uma ajuda do destino. A marca, que começou a ganhar musculatura em 2019, não demorou muito para ver seus potenciais clientes em casa, por conta da pandemia de Covid-19. “As gôndolas foram para o virtual: o argentino descobriu uma categoria e entendeu que pode encontrar variedade, produtos saudáveis e bons preços”, afirma Robledo. “Com o potencial do modelo de negócios da Frizata, e durante os primeiros setes meses de restrições, multiplicamos as vendas por 15. Em maio de 2020, em plena pandemia, superamos os 800 pedidos por dia. Hoje, chegamos a mais de 200 mil pedidos de compras, por ano.” A operação, que começou com 25 produtos no cardápio, avançou para 45 em 2020 e mais de 70 atualmente.
Do total de produtos industrializados, os sócios apostam no crescimento das linhas plant based e vegetariana, sem radicalismo, embora os produtos com proteína animal sejam soberanos no cardápio. Não por acaso, o caminho para eles é o flexitarianismo, ou seja, um vegetariano flexível que coloca no prato, vez ou outra, um produto cárneo. “Pela primeira, vez em 60 anos, desde a revolução verde que deu a vida à agricultura industrial, estamos começando a transitar para uma revolução tecnológica na indústria alimentícia, a qual está descobrindo novos caminhos para satisfazer o crescimento da demanda global de proteínas animais de uma forma mais sustentável”, acredita Rouillon. Do total de produtos no cardápio, 40 não contêm proteína animal na receita. Os sócios estão de olho em um mercado global estimado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) da ordem de US$ 23 bilhões em 2023 para produtos substitutos da carne, um mercado que no Brasil movimentou R$ 418,7 milhões no ano passado e que para 2025 está projetado em R$ 666,5 milhões.
Além da Argentina, a Frizata já está no Chile. A chegada ao Brasil faz parte da expansão global da foodtech. Em setembro, os sócios devem abrir operações nos Estados Unidos, com uma subsidiária em San Francisco. Para sustentar o crescimento, está nos planos a construção de uma segunda agroindústria. Falta escolher o local, que pode ser Brasil ou EUA. Na captura de novos consumidores, o foco da dupla são cidades que tenham acima de 1 milhão de habitantes. “Nossa visão é levar a marca a mais de 200 metrópoles do mundo”, afirma Rouillon. “Nos próximos cinco anos vamos estar em 60 dessas 200 cidades, incluindo algumas como Singapura — a plataforma de ingresso ao sudeste da Ásia —, Londres, México e Madrid”, diz Robledo. Para os próximos dois anos dez metrópoles já estão no radar.
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