O desembarque ocorreu ontem (3), em Lorena, município a 200 quilômetros da capital paulista. As primeiras pintainhas – futuras galinhas poedeiras – chegaram para ocupar as instalações da mais moderna granja do Grupo Mantiqueira, uma das maiores empresas do agronegócio na produção de ovos. Atrás dessa primeira turma virão na sequência mais 1 milhão de outras pintainhas que viverão no sistema cage free (livres de gaiolas), em uma super instalação moderna classificada como granja 4.0. É a largada definitiva da produção de ovos de galinhas felizes em larga escala, porque a agroindústria do ovo aposta que esse tipo de produto já está na agenda do consumidor. “Nós já temos uma granja para produção de ovos fora de gaiola, mas é como comparar um carro popular com um top de linha com o início das operações em Lorena”, diz Leandro Pinto, 53 anos, fundador e CEO do Grupo Mantiqueira.
O executivo é dado a fatos inéditos na agroindústria em que aposta sua carreira desde os anos 1980. Na semana passada, quando concedia uma entrevista exclusiva à Forbes, sobre o transporte de ovos da unidade de Primavera do Leste (MT), para São Paulo, por ferrovia, pela primeira vez no país (leia abaixo), Leandro disse que estava embarcando naquele dia para Lorena porque queria estar no local para o momento da chegada dos primeiros animais. A utilização de equipamentos cage free, importados da Alemanha, é pioneira no Brasil. Vai na linha do que já ocorreu na automação. A Mantiqueira trouxe a automação ao país em 1997, quando importou os primeiros galpões automatizados em gaiola. Agora, está trazendo os primeiros galpões automatizados para galinhas livres de gaiola em larga escala.
No ano passado, quando anunciou os investimentos nessa direção, o valor estava na casa de R$ 100 milhões. A primeira granja 4.0 do grupo tem como base a economia circular, com o bem-estar animal no centro da mesa. “Estamos construindo em Lorena vários galpões com essa pegada sustentável. Além das instalações, a energia será gerada pelo esterco produzindo gás e os caminhões serão elétricos. A Volkswagen vai nos atender até o final do ano com esses veículos para fazermos a entrega de toda a produção da granja”, diz Leandro.
Criar galinhas felizes, apelido dos animais provenientes do sistema cage free, que dispensa qualquer tipo de criação em gaiolas, vai ao encontro do bem-estar animal que é uma demanda do consumidor global de alimentos e não apenas uma jornada de vitrine. Animais são seres sencientes, assim como os humanos, com percepções conscientes do que lhes acontece e do que os rodeia, como fome, frio, medo, alegria, tristeza. Gigantes multinacionais do fast food, como McDonald’s e Burger King, já anunciaram que comprarão a totalidade de ovos utilizados em suas cozinhas apenas de sistemas cage free, a partir de 2025. Duas das maiores redes de supermercados, como Pão de Açúcar e Carrefour, também assinaram compromissos internacionais de não vender mais ovos de galinhas presas em gaiolas. No Brasil, de acordo com a HSI (Humane Society International), organização que prega e orienta o uso do sistema, cerca de 50 empresas já anunciaram que abolirão as gaiolas nesse período. “A mudança está aí. Erra quem acha que ela não vai acontecer”, acredita Leandro.
Não por acaso, a unidade de Lorena é a primeira granja 4.0 da Mantiqueira, mas não a única. A empresa já comprou dois terrenos em Minas Gerais, um no município de Campanha e o outro em Uberlândia, onde já possui uma unidade de processamento de ovos para a indústria de alimentos, e está em negociação para a compra de um terreno no estado do Paraná. “Todas as granjas novas que formos construir serão livres de gaiola”, afirma Leandro. “Temos o compromisso de um milhão de aves até o final de 2021 e 2,5 milhões de aves até 2025. Essa é a nossa meta, mas não quer dizer que vamos demorar tanto, a meta pode ser alcançada antes.” Atualmente, a Mantiqueira possui 21 unidades que produzem, no ano, cerca de 2,3 bilhões de ovos em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso.
Do total, 96% dos ovos e produtos da indústria ficam no país. Além da venda de ovos frescos, a empresa fornece matéria prima para grandes marcas, como a Bauducco, Barilla e Forno de Minas. As exportações são uma parte pequena do negócio, 4% do total para países como Emirados Árabes, Japão e África, mas vai na mesma toada cage free no potencial de ganho de escala, por conta de canais já abertos.
Também na semana passada, durante a entrevista, Leandro disse: “a nossa primeira exportação de ovos de galinha livre está embarcando para o Japão nesse momento. Hoje, um motorista está entregando em Cumbica quatro caixas de ovos de galinhas livres para o Japão, para fazer uma degustação e assim conhecerem o produto.”
Com uma população de 125,6 milhões de habitantes e pouca terra para produzir – apenas 12% do território é propício à produção agrícola –, o país asiático é um grande importador de alimentos, mas com inúmeras exigências para que algum produto estrangeiro entre no cardápio. Com o embarque para degustação, Leandro acredita que esse novo negócio possa entrar na agenda japonesa. “A partir disso, estamos fechando a venda de dois contêineres de ovos de galinhas livres para o Japão”, diz o executivo. “Então, já começa a se contar essa história lá fora e a gente também tem esse produto para exportar.” Cada contêiner comporta 335 mil ovos. Desbravar o mercado japonês é mais uma ousadia. O Brasil exporta ovos para o mundo e mais ainda pouco volume a esse país. Segundo o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), no ano passado, a agroindústria brasileira colocou lá fora 15,1 mil toneladas de ovos e gemas de ovos, por US$ 47,9 milhões, dos quais apenas 233 toneladas, por R$ 390,7 mil, foram compradas pelo Japão.
A virada para o sistema cage free, para ganhar espaço no mercado externo e crescer ainda mais no interno – no ano passado o Brasil bateu recorde de consumo com 251 ovos per capita –, faz parte da estratégia do grupo Mantiqueira de transparência nas operações e que, desde junho, passaram a ser reportadas em um relatório de sustentabilidade auditável. “Apesar de sermos uma empresa fechada, colocamos nosso primeiro relatório de sustentabilidade no ar. Contamos nossa história e tudo que já fizemos e estamos fazendo. Mas tem muita coisa que não saiu, porque ele é de 2021 mas sobre o que aconteceu em 2020.”
O documento, que será anual, segue a trilha das práticas ESG (ambiental, social e de governança, na tradução do inglês), um caminho almejado por empresas e que conta ponto para ganhar mercado. “Se quer jogar um campeonato com a Champions League, você tem que ser ESG. Se quer jogar um campeonato de várzea, não precisa”, afirma o executivo em tom de brincadeira, mas ele não deixa de ter razão. Várias pesquisas têm apontado que as práticas de ESG estão no foco dos consumidores.
Uma delas, da Bain & Company, empresa norte-americana de consultoria de gestão, com sede em Boston, Massachusetts, a partir da análise de 5 mil respostas, aponta que, entre outras declarações, 42% das pessoas frequentemente compram de empresas comprometidas com o meio ambiente. “Nós já estamos fazendo ações nesse sentido desde 2003. Foi um risco no chão que demos, para mostrar a todos aquilo que fazemos para o meio ambiente. Até para recrutar talentos, se a gente quer talentos, tem que ser ESG porque o jovem hoje se preocupa com isso”, diz Leandro. “Eu sou do final da década de 1960, tenho 53 anos, e a gente não tinha isso na escola. Eu lembro que os meus avós empenhavam dinheiro para desmatar e poder plantar. Hoje, as pessoas não querem saber o que você vai produzir, mas como está produzindo.”
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