Descarbonizar o planeta é tema de ordem no mundo e o Brasil faz parte dessa agenda. O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) apresentou o Programa Nacional de Cadeias Agropecuárias Descarbonizantes no Seminário de Iniciativas Descarbonizantes da Agropecuária Brasileira, em Campo Grande (MS), em um evento realizado ontem (6).
O programa, que deve ser lançado pelo Mapa nos próximos meses como uma política de estado, tem por meta estimular as reduções voluntárias de emissões de gases de efeito estufa em cadeias e produtos agropecuários, por meio do uso de tecnologias sustentáveis de produção agropecuária.
Baseado em três eixos (mitigação, sequestro de carbono e captura e estocagem de carbono), o escopo do programa é reconhecer os produtores rurais brasileiros pelo trabalho que já vêm realizando para garantir a sustentabilidade dos produtos. “Se essas ações já são consagradas na agropecuária brasileira, por que os produtores não podem ser remunerados por isso? Por que não podemos ter a confiança dos nossos consumidores, sabendo que aquele produto que eles veem no mercado tem todo um trabalho científico brasileiro o subsidiando?”, diz Marcella Teixeira, coordenadora geral de de Produção Animal do Mapa. Para ela, o caminho da valoração e reconhecimento dos serviços ecossistêmicos passam pela eficiência do uso da terra, selos de diferenciação e crédito de carbono.
Fabiana Villa Alves, hoje diretora do Departamento de Produção Sustentável e Irrigação, mas que tem sua origem como pesquisadora da Embrapa – entre elas no projeto Carne Carbono Neutro, falou sobre a Agenda de Metano na Agropecuária. Em 2021, o Brasil foi uma das cerca de 100 nações que aderiram ao compromisso global para redução das emissões de metano durante a COP 26, em Glasgow. “A sustentabilidade hoje é o carbono”, diz Fabiana. “E quando a gente fala em carbono, falamos em descarbonização do clima, mas também em recarbonização da nossa agropecuária.”
Ela explica que a agropecuária tem grandes oportunidades nesse mercado, mas que o compromisso é coletivo para reduzir as emissões antropogênicas globais de metano em pelo menos 30% abaixo dos níveis de 2020, até 2030. Significa que ações urbanas para mitigar o impacto do lixo estão nessa conta, por exemplo, daí a necessidade de envolvimento de outros setores.
Um dos caminhos da agenda é utilizar as metodologias de inventário, baseadas nas orientações do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), organização científico-política que faz parte do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Organização Meteorológica Mundial. No caso do agro, com foco em fontes de alta emissão para justamente quantificar as emissões de metano.
Além disso, busca por metodologias precisas, transparentes e que possam ser comparadas para compor os relatórios do inventário nacional de gases de efeito estufa. Os inventários estão no âmbito da UNFCCC (sigla em inglês para Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) e o Acordo de Paris. “Nós não vamos inventar nada, é aquilo que o IPCC recomenda”, afirma Fabiana. “Temos várias soluções baseadas em ciência.” O Plano ABC (Agricultura da Baixo Carbono) está na base das ações de quantificação do sequestro de carbono.
O que é o Plano ABC+
O Plano ABC+ é a segunda etapa do Plano ABC, que foi realizado entre 2010 e 2020, e trouxe resultados para além do previsto, mitigando cerca de 170 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente em uma área de 52 milhões de hectares, superada em 46,5% em relação à meta estabelecida.
Com base em comprovações científicas, a atuação do ABC+ foi ampliada para reduzir a emissão de carbono equivalente em 1,1 bilhão de toneladas até 2030 a partir de oito tecnologias: recuperação de pastagens degradadas, sistema de plantio direto, sistemas de integração, florestas plantadas, sistemas irrigados, bioinsumos, manejo de resíduos da produção animal e terminação intensiva.
Para avançar na conservação do meio ambiente enquanto produz, o foco é uma abordagem integrada da paisagem das áreas produtivas, o que consiste em olhar a propriedade não apenas como produtora de alimentos, mas levando em consideração toda a sua paisagem ao redor de forma sistêmica com o cumprimento ao Código Florestal; a saúde do solo; a conservação de água e de toda a biodiversidade.
Assim, a abordagem integrada ainda possibilita a valoração econômica dos serviços ambientais gerados pelos ecossistemas durante a produção agropecuária e também se presta ao equacionamento do ambiente rural, especialmente em relação ao ordenamento do território. Os valores estabelecidos como meta para esta década são adicionais aos já atingidos pelo ABC, que devem ser mantidos.
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