Colher árvores que podem chegar a alturas de 30 a 40 metros, como ocorre com o eucalipto e o pinus, as duas principais madeiras plantadas no Brasil para a produção de celulose e papel, é um desafio da agroindústria. E se as árvores estiverem em áreas de terreno acidentado, como existem no Sul do país, o desafio é ainda maior que as árvores das regiões planas de cultivo, como em Mato Grosso do Sul, um dos principais polos do Centro-Oeste.
Nos últimos anos, a Klabin, uma das maiores empresas brasileiras de base florestal, tem empenhado sua equipe de pesquisadores em busca de inovações para colher árvores. O processo, que parece simples, pode se tornar um gargalo na operação. A empresa acaba de colocar nas suas florestas plantadas uma máquina do tipo 3 em 1 para a colheita da madeira, uma cena pouco comum na lida do cultivo de árvores.
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O novo equipamento realiza todas as etapas da operação, que geralmente necessita da utilização de até três máquinas diferentes para a extração e processamento da planta no método full tree — modalidade em que se derruba a árvore com galhos e copa intactos, processando individualmente cada parte em um produto diferente destinado à indústria.
“O desenvolvimento da máquina é uma iniciativa voltada à excelência operacional na colheita florestal que proporciona melhorias ambientais e sociais”, diz José Totti, engenheiro florestal que está há 17 anos na empresa e que responde pela diretoria Florestal. No ano passado, a Klabin apurou uma receita líquida de R$ 16,4 bilhões, 38% acima do ano anterior em 2021. Na Forbes, ela faz parte do ranking Agro100.
Na ponta da cadeia, significa que toda vez que um consumidor final utiliza algum produto, como um guardanapo ou um bloco de anotação, o ambiente poupado agradece. As florestas plantadas são as grandes vedetes de um movimento de inovações contínuas das cadeias do agro porque estão adiantadas em pesquisas de uso da terra, produtividade, mercado de carbono e disrupções que vão de vestuário a etanol de base celulósica. As operações que poupam recursos ambientais e levam práticas mais eficientes para a mão-de-obra no campo estão nesta trilha.
No final de 2020, a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), associação que representa a cadeia produtiva de árvores plantadas, onde estão 45 empresas do setor – entre elas a Klabin –, previa até o final de 2023 investimentos da ordem de R$ 35 bilhões em melhorias no setor.
A área de Projetos e Desenvolvimento da Klabin investiu R$ 8,5 milhões para desenvolver a máquina que, comercialmente, leva o nome de Harbunk. Mas não fez isso sozinha, daí a possibilidade de outras empresas investirem para ter a mesma tecnologia em suas florestas. Em gigantes como a brasileira Suzano, ou na chilena CMPC – também entre as maiores do mundo e no país desde 2009 –, a busca por eficiência na colheita é uma constante.
A Suzano, por exemplo, tem o aplicativo “Smartquestion” voltado exclusivamente para a rotina de manutenção das máquinas florestais. Na CMPC, que só no Chile tem 483 mil hectares em patrimônio florestal, uma das principais linhas de pesquisa é a busca por árvores de crescimento rápido para áreas que sofreram erosão ou são propícias, justamente aquelas em declives.
Para desenvolver a super colhedora, a Klabin fez uma parceria com a fabricante finlandesa Ponsse. Há motivos de sobra para a escolha. A companhia foi pioneira em seu país, ainda na década de 1970, a investir em máquinas de colher árvores plantadas. No gelado país do extremo norte da Europa, a indústria de base florestal é fundamental à sua economia desde o século 17. O país, que tem o tamanho do estado de Goiás, possui quase 70% de seu território tomado por florestas, entre áreas cultivadas e reservas naturais.
Máquina na floresta
As duas primeiras super colhedoras começaram a operar recentemente. A cena de uma delas no campo mostra uma das maiores do mundo na sua categoria. Pesa 24 toneladas, 10 a menos que a mais robusta hoje em operação. A Klabin tem 578 mil hectares de florestas cultivadas nos estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. A meta é colocar mais duas em operação no curto prazo, mas olha com atenção aumentar a frota.
A história da máquina começou em 2013. Durante os quatro anos seguintes, a equipe de técnicos e engenheiros estudou o que deveria ser um equipamento eficiente. “Levamos uma equipe da Klabin para conhecer iniciativas inovadoras na Europa e desenvolvemos juntos [à Ponsse] um modelo de máquina que se adequasse às necessidades”, explica Totti. Com a parceria, o caminho mais curto foi alterar e adaptar às condições brasileiras o que havia de mais moderno na maior máquina para colheita florestal no portfólio da Ponsse, na Finlândia. A empresa de máquinas está no Brasil há quase 20 anos. Em 2019, a equipe chegou ao conceito do que seria a máquina e começou a testar as adaptações para transformar a gigante em um equipamento 3 em 1.
Com a economia de operações, o impacto ambiental é uma redução de 10% na emissão de CO2 para o conjunto da obra. Isso porque a máquina permanece mais tempo em cada floresta, dispensando o transporte das outras duas máquinas no sistema antigo de colheita.
Vai em linha com a Agenda 2030 da empresa – como ocorre com as diversas companhias do setor para mitigar e reduzir as emissões de GEEs (gases de efeito estufa). Desde 2014, a Klabin faz parte do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), da B3. Em 2020, passou a integrar o Índice Dow Jones de Sustentabilidade, com participação em duas carteiras: Índice Mundial e Índice Mercados Emergentes.
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