“As práticas tradicionais e culturais de produção de alimentos em todo o mundo são essenciais para apoiar a mudança do sistema alimentar”, disse Marta Messa, secretária-geral da Slow Food, uma organização que promove alimentos locais e práticas culinárias tradicionais, em uma entrevista coletiva realizada na Embaixada da Itália em Bruxelas.
A Slow Food planeja retomar seu movimento alimentar na conferência Terra Madre Salone del Gusto, o maior encontro da rede alimentar fundada por Carlo Petrini, na Itália, em 1986. A conferência bienal, agora em sua 14ª edição e cancelada em 2020 por causa da Covid-19, começa hoje (22), em Turim, na Itália, e termina no dia 26.
O Terra Madre Salone del Gusto vai se concentrar na maneira como os sistemas alimentares podem ser levantados pela produção de alimentos de acordo com os critérios da agricultura regenerativa, que se concentra na regeneração do solo e da biodiversidade.
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Ao longo dos últimos 30 anos, o Slow Food criou oásis – chamados ‘presidi’ – onde o modelo propõe práticas para salvaguardar as práticas locais e ancestrais de produção de alimentos, utilizando espécies nativas de animais e plantas. Atualmente, existem 642 presidi em 79 países para proteger a produção artesanal, como as do cheddar britânico Somerset, e espécies como o milho arco-íris da África do Sul, ovelhas Navajo-Churro americanas e a castanha de baru brasileira, entre outros [no Brasil, os sistemas regenerativos também estão nas agroflorestas e exemplos nos sistemas em larga escala estão em andamento].
De acordo com Messa, os formuladores de políticas precisam reavaliar a forma de diversificar a produção de alimentos, agora fortemente dependente da agricultura industrial: “A biodiversidade é a forma de diversificar o risco para o sistema alimentar”, enfatizou.
Investir na preservação de métodos locais, além de reduzir a pegada ambiental e cumprir as metas do Green Deal da UE, será recompensado no curto prazo do ponto de vista financeiro. De acordo com o relatório Food Trend deste ano para 2023, do especialista em tendências alimentares Hanni Rützler, do Instituto Alemão Zufunkt, a tendência de nicho de alimentos regenerativos, até agora popular apenas entre os principais chefes e lojas de gastronomia, em breve se democratizará, se estabelecendo entre outros métodos agrícolas e técnicas culturais como agricultura orgânica, permacultura e métodos mais artesanais de cultivo.
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A conferência, que pode ser acompanhada online, será a ocasião para os representantes acordarem sobre novas ferramentas de advocacia e partilharem as melhores práticas para difundir a mensagem ‘regenerativa’ em nível local: “É difícil, mas fácil de fazer”, disse ela, ressaltando, no entanto, que os riscos para produtores e ativistas localizados em algumas áreas do mundo permanecem.
As informações e parte do evento estão no link Terra Madre Salone del Gusto
* Daniela De Lourenço é colaboradora do Forbes EUA, repórter especializada em produção de alimentos, meio ambiente e política da UE. Escreve para WIRED, Deutsche Welle, Al Jazeera e VICE Media.