Três feiras agropecuárias no Brasil estampam a temperatura do humor dos produtores rurais na disposição para a compra de máquinas e equipamentos agrícolas, equipamentos que assim como os veículos se depreciam com o tempo em função das horas de trabalho e da chegada de novas tecnologias. Duas já aconteceram: a Agrishow, no interior de São Paulo, e a Bahia Farm Show, no Oeste baiano. A terceira feira termina neste final de semana em Esteio (RS). A Expointer (Exposição Internacional de Esteio) é o mais antigo palco desse termômetro do campo. Não por acaso, o setor de máquinas e implementos é responsável por 90% dos negócios da feira, que neste ano tem um movimento financeiro estimado entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões, segundo o Simmers (Sindicato das Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e do Material Elétrico de RS), entidade que representa esse setor no estado. Em 2019, última feira presencial por causa da pandemia de Covid-19, as vendas ficaram na faixa de R$ 2,5 bilhões. Empresas ouvidas pela Forbes afirmam que há demanda por parte dos produtores, e a feira gaúcha mostra a firmeza do mercado, embora os desafios da produção continuem na pauta da indústria.
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“É uma das feiras mais importantes do Brasil. Começamos a feira com boas perspectivas, atendendo produtores de vários estados, além do Rio Grande do Sul, como Santa Catarina, Mato Grosso e até do Maranhão”, diz diz Juliano Vicari,, gerente comercial Case IH, marca que pertence à CNH Industrial, entre elas a New Holland, Iveco, Magirus e FTP Industrial. “Eles vêm procurando a substituição por tecnologias mais sofisticadas ou para trocar a máquinas velhas, visando aumentar a produtividade porque isso é básico na agricultura de hoje. É o que a gente vê em quase todas as nossas negociações e esse produtor já vem com o conhecimento do que ele quer”.
No mais recente relatório trimestral da John Deere, de agosto, a multinacional estima um crescimento no mercado de tratores e colheitadeiras de 10% a 15% na América Latina até o fechamento de seu ano fiscal, em novembro. “A visão do mercado para a frente continua positiva, com demanda firme. O que a gente imagina no próximo período é uma redução do crescimento da demanda, mas não uma redução da demanda. Talvez a curva de subida já esteja se aproximando do ponto de estabilidade e isso é esperado nesse ciclo de negócio”, diz Marcelo Lopes, diretor de vendas da John Deere Brasil. “É justamente o que os produtores têm procurado que faz com que a demanda permaneça. A modernização, a tecnologia que podem levar para o campo, para serem mais eficientes, seja melhorando a qualidade das operações, garantindo mais sustentabilidade e rentabilidade, seja garantindo a disponibilidade de máquinas para executar as operações no momento correto dentro da janela agronômica correta. Eles estão buscando o limite da tecnologia para colocar no seu negócio.”
Eduardo Penha, também da Case IH, mas diretor de marketing da companhia para a América do Sul, afirma que nos últimos três anos, o mercado tem apresentado um crescimento onde a demanda está muito maior do que aquilo que as marcas conseguem produzir. “Não é um problema de capacidade de fábrica, de manufatura, mas sim um problema em toda a cadeia global de fornecimento de peças que não consegue atender toda a demanda. Então, esse ano e ainda para 2023 certamente a gente vai ter alguns pedidos que deveriam ser faturados, mas a fábrica não vai conseguir produzir por conta dos problemas na cadeia de suprimentos. Alguma coisa vai ficar represada para o ano que vem, com lista de espera.”
Penha dá como exemplo desse funil o mercado de tratores. Ele explica que para os modelos de baixa potência, de 80 cavalos até 400 cavalos, a indústria já conseguiu recuperar toda a capacidade de produção da fábrica localizada em Curitiba (PR), e não há mais filas de espera. Mas para tratores de alta potência, acima de 400 cavalos, a espera pode ultrapassar sete meses. “São tratores que já deveríamos ter preparado e estocado. São os tratores articulados que importamos dos Estados Unidos e todas as regiões do mundo estão com demanda altíssima, como o próprio EUA, Europa e América Latina. Já estamos prevendo que as fábricas não darão conta de atender tudo aquilo que a gente precisa para 2023”.
O executivo explica que esse cenário é corroborado ainda pela guerra na Ucrânia, invadida pela Rússia e que não tem ainda uma perspectiva de acabar; pelo o lockdown na China, com sua postura política de Covid zero, o que afeta diretamente todo o fornecimento de materiais; pela inflação nos Estados Unidos, com uma série de série de variáveis que podem levar esse mercado para cima ou para baixo, além das eleições no país. “Há uma demanda represada de 2022 , que fica para 2023. Estamos nos preparando para isso, atender o produtor rural para que ele não sofra o que sofreu nos últimos anos com relação ao atraso de produtos, porque o aumento da produtividade está diretamente ligado a uma máquina que ele precisa comprar e precisa chegar no prazo”, diz Penha.
Nesta Expointer, 155 expositores mostraram suas máquinas e implementos. O palco gaúcho tem representatividade nacional porque o estado responde por cerca de 65% das máquinas e implementos agrícolas produzidos no país. De acordo com o Simmers, entre janeiro e julho deste ano, o setor registrou um incremento de 5% a 6% na produção, em relação ao mesmo período de 2021. “Trouxemos o que há de melhor em tecnologia, agricultura digital, inovação e sustentabilidade para o campo, na medida do que o produtor rural necessita, independentemente do tamanho da operação”, afirma Rafael Miotto, vice-presidente da New Holland Agriculture para a América Latina. A multinacional, que vem mostrando seu trator movido a biometano como uma espécie de estado da arte da tecnologia, levou para a feira gaúcha uma estação de sua Central de Inteligência de Serviços, para atender as demandas imediatas.
Marcelino Baião, gerente comercial Brasil da New Holland Construction, com máquinas que também atendem o agro, dizia, nos primeiros dias de Expointer, que o foco da feira era justamente atender um mercado reprimido e de demanda firme. “Apesar da estiagem que comprometeu a safra de verão e a rentabilidade dos produtores gaúchos, as expectativas em negócios são otimistas e acreditamos que as vendas sejam superadas em relação a última edição presencial, conforme as estimativas do setor”, afirma. Neste ano, até agora, as vendas de equipamentos da linha amarela para o agronegócio representaram cerca de 23% de todo o mercado de máquinas no Rio Grande do Sul, de acordo com a Abraforte (Associação Brasileira dos Distribuidores New Holland). Em 2021 o agronegócio foi responsável por aproximadamente 30% de todo o mercado de máquinas, segundo a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).