Incêndios que varreram o Pantanal da América do Sul em 2020 queimaram milhares de quilômetros quadrados de habitat vital para onças e podem ameaçar a sobrevivência dos grandes felinos a longo prazo, revela uma nova pesquisa.
As chamas deslocaram, feriram ou mataram 45% das 1.668 onças da região, a segunda maior população de onças do mundo, segundo o estudo publicado nesta quinta-feira na revista Communications Biology.
As onças, que se espalham pelas Américas e são amplamente encontradas na floresta amazônica, são uma espécie quase ameaçada que é vulnerável a ameaças no curto prazo, com cerca de 173.000 restantes.
Os incêndios de 2020, considerados os mais destrutivos durante um período de estudo entre 2005 e 2020, devastaram quase um terço do Pantanal, a maior área úmida tropical do mundo.
“As onças não são animais migratórios”, observou o coautor da pesquisa Alan de Barros, ecologista da Universidade de São Paulo. “Ambientes de alta qualidade, como o Pantanal, muitas vezes podem resultar” em mais onças agrupadas, disse ele.
Para determinar quantos dos grandes felinos podem ter morrido nas chamas, ou ficado ferido ou se deslocado, Barros e seus colegas se basearam em 12 anos de dados de distribuição de onças e 16 anos de mapas da área queimada.
O deslocamento após a perda de habitat pode levar a disputas territoriais entre felinos e reduzir a disponibilidade de presas, segundo o estudo. As onças precisam ir mais longe para procurar comida, esgotando seus níveis de energia, o que pode resultar em taxas reprodutivas mais baixas.
O que contribui para fomentar os incêndios, disse Barros, é “uma combinação perversa” de temperaturas em elevação e uma queda na água para o Pantanal devido ao desmatamento da Amazônia e do Cerrado.
Allison Devlin, vice-diretora do programa para onças do grupo global de conservação de grandes felinos Panthera, disse que o norte do Pantanal estava excepcionalmente seco em 2020.
Os cientistas alertaram que a seca na Amazônia brasileira e no Pantanal, que se estende ao longo das fronteiras da Bolívia e do Paraguai, também pode contribuir para a destruição de sumidouros naturais de carbono –ecossistemas vitais para conter mudanças climáticas catastróficas– e colocar espécies em risco.
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